Por Marilda Ferri e Iasmin Santana, de Salvador (BA)

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Foto: Allan Lusttosa

“Sigamos na luta. Agora e sempre venceremos”, enfatizou Nora Cortiñas, cofundadora da Associação Mães da Praça de Maio, da Argentina, em um ato público realizado na tarde de ontem, quinta-feira (14/07), no Campo da Pólvora, no monumento que homenageia os mortos e desaparecido políticos pela ditadura militar no Brasil. A atividade acontece dentro da programação da Jornada de Direitos Humanos e Democracia que acontece em Salvador (BA) até amanhã, dia 16.
O monumento aos baianos mortos e desaparecidos que tombaram na luta pela liberdade e contra a ditadura é uma obra do artista plástico baiano Ray Vianna. Nele estão gravados os nomes de 32  baianos que lutaram durante a ditadura.
O ato reuniu militantes de movimentos sociais, dentre eles, muitos jovens que não viveram esse período de exceção do país (1964 – 1985), e familiares de vitimas da ditadura. “Lutamos em defesa da memória, da verdade e da justiça. Sabemos dos crimes de tortura e morte cometidos pelos militares, mas há ainda o crime de ocultação de cadáver, uma vez que muitas pessoas não tiveram os restos mortais de seus familiares desaparecidos por este regime”, disse Diva Santana, integrante do Grupo Tortura Nunca Mais (GTNM).
No encontro, Nora voltou a falar da força da luta, encorajando a todos. “Há muitas pessoas que estão sofrendo, mas não podemos perder a esperança. Essa memória reafirma o compromisso de seguir na luta. Ditadura e golpismo nunca mais. Argentina, Brasil, América Latina com independência, justiça, paz e povo feliz”, clamou a ativista.
E foi nesse clima que o grupo seguiu para outro espaço histórico de Salvador, o Forte do Barbalho. Esse local já foi usado para torturas de presos políticos e foi escolhido pelos/as organizadores/as da Jornada de Direitos Humanos e Democracia para simbolizar a superação de qualquer tipo de violação se apropriando do espaço para a realização de ações que sejam marcadas pela democracia, cultura, diversidade e resistência. E esse momento da Plenária Popular teve todos esses elementos, reunindo representações de diferentes religiões, movimentos e organizações sociais para se solidarizar com os povos latino-americanos contra todas as ditaduras, golpismos, ameaças e retrocessos democráticos atuais.
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Foto: Allan Lusttosa

O momento contou com apresentações de poesias e cânticos que denunciavam o contexto em que a juventude negra vive com situações cotidianas de preconceito e a necessidade de garantir o respeito a todos os grupos sociais, principalmente as minorias marginalizadas.
Também demonstrando o caráter diverso do evento, foi realizado um ato ecumênico com participação de pessoas de diferentes religiões e crenças (candomblé, luterana, presbiteriana, batista) que juntaram as suas vozes pela justiça e pela paz se solidarizando com todas as mães que perderam seus filhos vítimas de violência.
Durante a plenária, Sandra Quintela, do Jubileu Sul Brasil, falou sobre a motivação para a realização da Jornada, destacando as ações do Jubileu e alertando que o Brasil é parte orgânica da América Latina e “o que é sentido nos países latino-americanos e caribenhos precisa ser sentido também por nós” e da necessidade de unir forçar em prol de uma vida digna para todas as pessoas. Ela agradeceu o empenho de todas as organizações envolvidas para a realização da Jornada e que tem aprendido muito com a “ternura revolucionária de Nora”. Também compartilhou desse sentimento de gratidão, a representante do Jubileu Sul Argentina, Beverly Keene, que veio acompanhando Nora Cortiñas e tem participado de todos os eventos.
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Foto: Allan Lusttosa

Nora relatou que ficou impactada ao conhecer o Forte e a sua história, relembrando das situações da ditadura na Argentina e as violências sofridas pelo seu povo. Reforçando as reflexões que têm feito ao longo dos dias da Jornada, ela fez uma breve análise sobre a situação dos países latino-americanos no que diz respeito à crise econômica, dívida externa e violações de direitos. Finalizou sua fala agradecendo o acolhimento recebido e convidando a todos e todas a entoaram as frases de luta e resistência das Mães da Praça de Maio.
As representações dos movimentos e organizações sociais presentes também falaram sobre os caminhos de lutas que têm percorrido para superação das situações que causam desigualdades, injustiças e desrespeito. Os/as participantes se confraternizaram ao som de samba de roda e quitutes típicos da Bahia.

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