Cada vez mais rápidas as transformações tecnológicas, os meios de comunicação foram profundamente alterados, dada a alta velocidade dos conteúdos online

Por Marcos Vinicius dos Santos* | Jubileu Sul Brasil

A terceira aula da Formação de Multiplicadores Direitos Humanos e Comunicação Estratégica tratou da relação entre comunicação e tecnologia e das profundas transformações que a área tem sofrido nos últimos anos. O encontro virtual no último 24 de junho, reuniu 35 participantes das organizações membro da Rede Jubileu Sul Brasil e Jubileu Sul/Américas na América Latina, Mesoamérica e Caribe.

Os estudos do geógrafo Milton Santos contribuíram para discussão, que abordou a maneira como a desigualdade das informações concentra a base do poder político, já que o acesso a conteúdos importantes são restritos apenas a círculos privilegiados. A partir dessa temática foi realizada uma análise crítica sobre o papel dos sistemas de comunicação dentro do capitalismo, um paradoxo, como apontou o economista André Lima, doutor em Geografia, professor da Universidade Estadual do Ceará.

O economista André Lima

“Essa base tecnológica já está disponível, a humanidade criou e ela é fruto do próprio mecanismo do sistema. Com a necessidade de inovação permanente vivemos um grande paradoxo, e o que eu chamo atenção. Não é porque temos essa base tecnológica colocada que a gente superou as relações do capital”.

Lima explicou que inovação tecnológica faz parte do processo de exploração das trabalhadoras e dos trabalhadores, pois sempre visa aumentar o lucro e nunca melhorar a qualidade de vida. Como é o impacto de aplicativos de celular, por exemplo, que viabilizam flexibilização do trabalho, e ampliam a precarização e as dificuldades organizativas.

Nesse sentido, a “era das telecomunicações” é baseada em uma combinação entre tecnologia digital, política neoliberal e mercados globais. Manipulador da informação, o computador amplia o poder de comunicar (antes era o rádio, televisão e mídia impressa) permitindo uma rapidez nunca experimentada nos fluxos de transmissão e recebimento das mensagens e ordens.

Essa alteração de velocidade leva a uma nova percepção do tempo. Surge um novo tempo, a uma obediência cada vez mais restrita ao relógio, a um rigor de comportamento adaptativo ao novo ritmo, o que vem deixando a sociedade doente, já que é praticamente impossível acompanhar essa aceleração.

A jornalista Helena Martins

Tendo isso em vista, os facilitadores passaram a explicar como o capitalismo difunde sua ideologia, que tenta mascarar esses processos mantendo trabalhadoras e trabalhadores focados em gerar lucro para a burguesia. Aí entram os meios de comunicação, que funcionam como uma forma de legitimação dessa exploração.

“Sabemos que o sistema capitalista se apresenta o tempo todo como se ele fosse um sistema que sempre existiu e sempre vai existir. Isso se dá também por uma série de construções simbólicas de que não há outras alternativas. As vozes resistentes são caladas, são sufocadas, as experiências de vida que não vão de encontro a essa lógica capitalista, elas também não aparecem nos meios de comunicação e assim não chegam ao público”, explicou Helena Martins, doutora em Comunicação Social e professora da Universidade Federal do Ceará.

Apesar das mídias serem um espaço de reafirmação dessa ideologia, também é muito difícil exclui-las do processo de libertação do próprio sistema. Com essa exposição do funcionamento das comunicações em um sistema capitalista, ambos concluíram a importância de analisar criticamente esses meios, já que existem diversas armadilhas que funcionam para silenciar e sabotar manifestações contrárias à ordem estabelecida.

Exibição da campanha em solidariedade ao povo Garífuna hondurenho

A terceira aula terminou com a exibição do vídeo da campanha internacional por verdade e justiça no caso dos jovens garífunas desaparecidos de Triunfo de La Cruz, em Honduras (assista no final do texto). Eles foram vítimas de desaparecimento forçado em 18 de julho de 2020, levados por homens fortemente armados, uniformizados com coletes da Diretoria de Investigação Policial (DPI) que alegaram “operação de busca” para invadir a comunidade. Até o momento, as autoridades hondurenhas seguem sem realizar uma investigação concreta e efetiva para apurar o desaparecimento.

No módulo quatro da formação, realizada em 1º de julho, estiveram em pauta a valorização do conhecimento comunicacional das comunidades, e a comunicação e educação popular para superar a exclusão digital.

O curso, com um total de 55h de carga horária e aulas sincrônicas de 10 de junho a 8 de julho, integra o módulo III da ação de formação de multiplicadores em torno de temas prioritários para a Rede e conta com o cofinanciamento da União Europeia.

*Com supervisão de Jucelene Rocha

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