Por Norita Cortiñas, Madre de Plaza de Mayo.

A Corte Suprema da Argentina, em decisão judicial, abriu portas para um retrocesso sem tamanho, favorecendo militares genocidas que cumpriam pena por lesa humanidade pelos assassinatos, desaparecimentos e torturas cometidos durante a ditadura argentina. A decisão permite que um dia de pena para os assassinos valham por dois (lei 2×1), com isso 248 militares dos cerca de 500 podem estar em liberdade. Abaixo, publicamos o artigo de Nora Cortiñas, Madres de la Plaza de Mayo, sobre o chamado para ir às ruas hoje, 10 de maio. Às mães, aos movimentos de direitos humanos, toda a solidariedade da rede Jubileu Sul Brasil. Abaixo, o artigo:

UM MAR DE IGUAIS

Indignação. Senti muita indignação ao tomar conhecimento da decisão da Corte Suprema, mas ao mesmo tempo, senti que me cobrava mais força, mais do que antes, para sair à rua como sairemos hoje para demandar por Memória, Verdade e Justiça. E , sim, agora é fundamental que sejamos capazes de lutar todos juntos, manifestando o mais absoluto repúdio diante de semelhante aberração, outra imoralidade obscena da Justiça que, novamente, atenta conta o crescimento de nossa democracia.

A todos, que estamos unidos numa mesma mobilização, nos toca a estas horas ser mais conscientes para poder continuar gerando consciência os outros, pensando, sentindo e militando contra cada um dos crimes de lesa humanidade, até que nos digam a verdade e até que, por fim, saibamos o que aconteceu com nossos filhos, nossos netos, nossos companheiros.

Desde o início, o macrismo buscou desvalorizar a legitimidade que os organismos de Direitos Humanos ganharam e distorcer o acionar do Terrorismo de Estado. Pouco a pouco, tentam no fazer crer que não foi tão grave, que nunca houve um Exército de ocupação, que ninguém veio violar nossos direitos e que não há explicação para esta pena tão grande que nos deixaram as 30.000 pessoas, os presos políticos, os milhares de exilados e a economia devastada…

Aqui não aconteceu nada.

Nenhum governo nos deu algo sem que tivéssemos pedindo, sem que exigíssemos, sem gritássemos com todas nossas gargantas. E ao longo de um caminho tão duro temos perdido a muitos companheiros e companheiras, mas também temos ganhado muito, muito mesmo. Não vamos permitir que nenhuma lei, nem a vontade política de ninguém nos arrebata impunemente. Pois toda esta história, esta luta e esta memória nos pertence por tanto esforço sobre-humano, por tanta luta mancomunada, por tanto sangue derramado…

Vejam se não temos motivos para inundar esta tarde as avenidas, juntos, abraçados, fortalecidos, sem importar que tenham dois grupos, ou três, ou quatro…Porque ali, na rua, todos somos iguais, um mar de iguais buscando o mesmo. Acima de tudo, somos mais, sim, porque as pessoas que não puderem participar seguramente poderão fazer essas mesmas discussões em seus lugares de trabalho ou onde quer que se encontrem, semeando consciência em todos seus entornos, para que ninguém, ninguém, niguém aceite a dar nem um só passo atrás.

Hoje as ruas eram nossas.

E eles não as pisam.

Nunca mais.

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