Em 2005, o economista Marcos Arruda, professor da Universidade Internacional da Paz e do Programa Educação Gaia, sócio do Instituto Transnacional (Amsterdam), e professor visitante em universidades do Brasil, Suíça, e Estados Unidos participou de um debate com o então presidente da República Fernando Henrique Cardoso na Brown University Herald, quando ele lecionava na instituição.
Marcos Arruda, membro da Rede Jubileu Sul Brasil, escreveu na ocasião um artigo para o site da universidade e reproduzimos aqui, por “profecia” e tamanha atualidade. “Olhem o Brasil de hoje… a política apodrecida, o Estado ainda mais debilitado, as desigualdades ainda mais agravadas, a dependência de capitais externos e a subordinação ao império ianqui ainda mais radicalmente piorada. Estamos nas garras de um novo colonialismo, em processo de desindustrialização e de entrega das nossas mais valiosas riquezas naturais, como nunca antes! Nosso povo precisa despertar outra vez e impor seus interesses sobre os das avarentas e insaciáveis classes opressoras”, escreveu Arruda, neste 2018.
Brasil: visões do futuro
Tradução: Karla Maria e Felipe Rabello
No dia 25 de outubro, o Herald publicou um artigo sobre um debate entre o professor e ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso e mim. Eu não fiz justiça ao debate.  Neste país, o termo ideológico significa fundamentalista, dogmático, doutrinário, com insinuações utópicas. Essa não é uma representação adequada da minha abordagem e apresentação.
Poderia uma revolução Americana para libertar os Estados Unidos das regras da colonização inglesa ser chamada de ideológica? O Brasil é um dos países mais ricos do mundo em recursos, população e território; contudo, ainda está profundamente divido pelas profundas desigualdades sociais, o que pode ser verificado pela alta vulnerabilidade externa, uma impagável dívida pública e concentração de riquezas. É utópico afirmar que outro Brasil é possível? É ideológico fornecer dados que substanciem minha afirmação de que o atual modelo de “desenvolvimento” dominante no Brasil é prejudicial à nação e ao povo, e promete um futuro pior para ambos?  É utópico conceber e implementar políticas macroeconômicas de maneira diferente?
Essa foi uma diferença crucial entre o professor Cardoso e a minha abordagem sobre pobreza e desenvolvimento. Ele apresentou pobreza como um fato da vida e Brasil uma sociedade sem classes, cujos problemas precisam ser resolvidos por meio de benevolências de políticos que devem reconhecer que eles estão nos limites das realidades do mundo de hoje. Eu, por minha vez, desafiei pessoas e instituições que falam sobre como erradicar a pobreza para enfrentar não somente o fato da pobreza, mas também os atores e os fatos do empobrecimento.Apenas dois exemplos: Durante os dois mandatos do presidente Cardoso (1995-2002), apesar do fato de o Brasil ter pago 345 bilhões de dólares para credores estrangeiros em juros e amortização, a dívida externa aumentou de 148 bilhões de dólares para 210 bilhões de dólares. No mesmo período, a dívida pública interna cresceu 11 vezes. Como resultado da prioridade fiscal dos pagamentos de dívidas financeiras induzida pelo FMI acima de todas as outras despesas, mais de 50% das despesas orçamentárias da União têm sido pagas aos banqueiros nos últimos dez anos, enquanto o investimento público em infraestrutura e serviços sociais é severamente prejudicado. O presidente Luis Inácio Lula da Silva manteve tal política.  Pagamentos de juros totais no primeiro semestre de 2005 foi equivalente a 23 bilhões de dólares, enquanto os gastos agregados em áreas como saúde, educação, segurança pública e habitação foram de apenas 16 bilhões de dólares.
Sem compreender a dinâmica das classes sociais no Brasil, sem identificar atores e fatores responsáveis por políticas, estruturas e processos que geram e perpetuam desigualdades, sem descapitalizar a economia do Brasil, sem enriquecer alguns enquanto a maioria empobrece e continuamente destrói o meio-ambiente, não se pode falar de uma visão para um futuro melhor. Programas sociais compensatórios simplesmente não são suficientes. Reconectar as realidades econômicas e sociais divorciadas artificialmente do Brasil é uma questão de clarividência e vontade política.
Confira o artigo original na página da Brown University Herald 

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