Sandra Quintella e Marcos Arruda, membros da Rede Jubileu Sul Brasil, participam de Encontro Nacional sobre Economia de Francisco, na PUC-SP | Foto Arquivo pessoal de Sandra Quintella

Por Rede Brasil Atual

Debate de abertura de encontro sobre Economia de Francisco mostra que desigualdade e crise ecológica são os principais problemas do mundo contemporâneo.

A desigualdade social e a crise ecológica, que culmina com as mudanças climáticas, estiveram ontem, 18, no centro do debate de abertura do Encontro Nacional da Economia de Francisco, que vai até hoje, 19, no Tucarena,  teatro da Pontifícia Universidade de São Paulo (PUC-SP). “Economia de Francisco” é como está sendo chamada a economia de inspiração solidária, espelhada na figura do Papa Francisco, que convocou um evento a ser realizado em Assis, na Itália, para discutir mundialmente esses temas, entre 26 e 28 de março de 2020.

Michael Löwy, Mãe Eleonora e Dennis de Oliveria: defesa de uma economia que respeite o ser humano, a natureza, o trabalhador | Foto Rede Brasil Atual

O encontro que se realiza na PUC, com movimentos sociais e segmentos da sociedade civil, firma o compromisso dos brasileiros para o evento do próximo ano. Essa experiência deve reunir práticas e iniciativas de alternativas econômicas para fazer frente à economia política predominante no mundo hoje, de orientação neoliberal e contra os direitos dos trabalhadores e dos mais pobres.

Ao abrir os trabalhos, o sociólogo brasileiro radicado na França Michael Löwy destacou que existem dois problemas principais na época atual. “O primeiro é a desigualdade social. A Oxfam mostra que tem cinco megabilionários (no mundo) que possuem a fortuna equivalente à metade mais pobre da humanidade. É uma situação absurda, insuportável e injusta”, destacou.

E a outra situação fundamental da nossa época, segundo Löwy, é a crise ecológica, a questão da mudança climática. “Essa vai ser cada vez mais a principal questão social, econômica e política do século 21. Como evitar a catástrofe ecológica, a destruição da nossa casa comum, que está nos ameaçando?, indagou.

Clamores

Löwy lembrou que uma abordagem desses dois problemas está na encíclica Laudato Si (“Louvado sejas”, em português), do Papa Francisco. “Esse é o ponto de partida para refletirmos o que poderia ser uma economia de Francisco.” Na encíclica, o Papa diz que temos de escutar o clamor dos pobres e o clamor da Terra: “São dois gritos que nos interpelam e exigem de nós uma tomada de posição”.

“Estamos em uma situação em que a pobreza e a miséria, a desigualdade social se agravam e a destruição da nossa casa comum se agrava a cada dia, a cada hora”, disse Löwy.

Para o Papa, o responsável dessas duas catástrofes é o ídolo capital, ou seja, o sistema socioeconômico. “Trata-se de um sistema global de relações comerciais e de propriedade estruturalmente perverso”, diz. “E é perverso porque o único critério é a maximização do lucro”, lembra o sociólogo. “É um sistema no qual predomina a especulação e a busca de lucro financeiro, que ignora os efeitos dessa economia sobre a dignidade humana e sobre o meio ambiente.”

Também presente ao debate, a candomblecista Mãe Eleonora destacou que as minorias tem resistido à desigualdade. Segundo ela, quando o assunto é religião há ainda a questão da intolerância, que tem marcado a sociedade brasileira. “Nós resistimos a essa desigualdade, porque é bem isso, nós temos de resistir. E ainda sendo povo de terreiro é um pouco pior, porque as pessoas insistem em não respeitar a nossa religiosidade”, afirmou.

“Hoje estamos assistindo no Brasil à violação dos templos, a violência, a queima, todo esse processo. A gente vive isso e eu tenho me perguntado muito, por que desse sofrimento? E a gente espera que nessa discussão o povo negro também esteja incluído”, defendeu Mãe Eleonora. Como na fala de Löwy, ela fez a defesa de uma economia que respeite o ser humano, a natureza, o trabalhador.

Outro representante do Candomblé, o professor da Universidade de São Paulo (USP) e integrante da Rede Quilombação Dennis de Oliveira disse que o desafio de uma economia solidária exige enfrentamentos, como a necessidade de pensar a construção de um novo modelo contra o sistema vigente. O primeiro desses enfrentamentos, segundo ele, se dá em relação ao racismo. “Você não constrói nada democrático excluindo 54% da população”, destacou. “À medida que esse capitalismo vai se concentrando, e ficando mais predatório, a população negra e os povos originários são os que mais sofrem.”

Confira a programação do evento

Deixe um comentário