Por Frei Olavio Dotto
Assessor das Pastorais Sociais/CNBB
O Grito dos/as Excluídos/as está na sua 22ª edição, mantendo sempre seu objetivo de defender a vida em primeiro lugar, anunciando a esperança de um mundo melhor, promovendo ações de denúncia dos males causados por este modelo econômico. Assim, o lema desta edição mais uma vez alerta para a insustentabilidade deste sistema. Ele é insuportável: exclui, degrada e mata!
Unir as forças para construir um modo de vida onde a dignidade esteja acima de todas as coisas é o grande caminho a ser percorrido! O Grito surgiu da esperança e do espírito profético dos cristãos que, aliados aos movimentos sociais, buscaram continuar pautando a reflexão proposta pela Campanha da Fraternidade de 1995, cujo tema era “Fraternidade e Exclusão”. Ele tem se mostrado como uma importante articulação de manifestação de resistência e luta dos povos e comunidades contra a avalanche neoliberal que tomou conta do mundo. Dessa forma, cada edição do Grito quer trazer de forma objetiva a indignação diante do quadro de exclusão que predomina em nosso país e tornar visível um sistema econômico e político que não coloca a “vida em primeiro lugar”.
Os desafios e perspectivas estão apontando para uma correlação de forças, não só no Brasil, mas em todo o Continente, com uma tendência de retrocesso nos avanços sociais. Tal mudança está unida com a evolução e agravamento da crise internacional do capitalismo. As grandes potências são os causadores da crise e tentam transferir os prejuízos desta para os trabalhadores e para as nações em desenvolvimento, atacando os direitos sociais e trabalhistas e impondo pacotes de austeridade fiscal cujo beneficiário é o sistema financeiro.
Se fizermos um paralelo entre a crise de 1929 e a atual crise, percebemos, na sua gênese, a desregulamentação do mercado financeiro, o desemprego em massa, o ataque à democracia e o crescimento do ódio e da intolerância. Em 1929, tivemos como resultado a ascensão do nazifascismo e a Segunda Guerra Mundial. Hoje, percebemos manifestações exasperadas de ódio, racismo e xenofobia, além de violações dos direitos humanos de uma forma muito acentuada.
Neste momento histórico todas as generosas e os generosos são convidados a se unirem em vista da construção de um mundo melhor, assumindo o protagonismo nos processos de mudanças necessárias para nosso país.
Com quais mudanças precisamos nos comprometer para resgatar as esperanças e as utopias? Certamente, devemos nos empenhar na defesa e proteção da Mãe Terra, promovendo a “ecologia integral” de que nos fala o Papa Francisco, contribuindo para a harmonia e equilíbrio nas relações entre os seres humanos e entre estes e a natureza. Como generosos e generosas não podemos permitir que os interesses do sistema capitalista depredador continuem a destruir a criação. Nossas organizações precisam se mobilizar, clamar e exigir medidas urgentes em defesa da Mãe Terra.
Um segundo compromisso é o de ajudarmos a construir uma nova perspectiva de economia, que resguarde a vida da comunidade e que prevaleça a solidariedade acima do lucro. Como nos diz o Papa Francisco, a economia não deveria ser um mecanismo de acumulação, mas a condigna administração da Casa Comum. Uma economia, pensada a partir da acumulação, exclui, degrada e mata!
O terceiro compromisso é nos engajarmos na luta pela defesa dos direitos. Estamos vivenciando um verdadeiro ataque aos direitos sociais, aos direitos dos povos indígenas e povos quilombolas. Como generosos e generosas, devemos manifestar nossa indignação, pensando sempre nos mais pobres e excluídos, que são as vítimas principais desta política que fere a dignidade da pessoa.
Por fim, precisamos ter em nosso horizonte a solidariedade como projeto de vida pessoal e comunitário. Os generosos e as generosas devem lutar contra o individualismo, a ambição e a ganância que se aninham na sociedade e em nós mesmos. O desafio é construirmos pontes entre os povos, comunidades, que nos permitam derrubar os muros da exclusão e da exploração!
*O texto “Unir os generosos e as generosas” faz parte dos eixos propostos para discussão do Grito dos/as Excluídos/as Brasil 2016.
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