A 6ª Semana Social Brasileira, ação proposta pela CNBB e mobilizada pelas pastorais sociais e movimentos populares entra em um novo ciclo no início deste ano.
Redação | Osnilda Lima*
“Prefiro uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas, a uma Igreja enferma pelo fechamento e a comodidade de se agarrar às próprias seguranças. Não quero uma Igreja preocupada com ser o centro, e que acaba presa num emaranhado de obsessões e procedimentos. […] Enquanto lá fora há uma multidão faminta”, provoca o papa Francisco na Evangelli Gadium, nº 49.
Pode-se afirmar que é nesta perspectiva que a mobilização da 6ª Semana Social Brasileira (6ª SSB), iniciada em 2020, e que segue até 2023, com o tema Mutirão pela vida: por terra, teto e trabalho, entra em um novo ciclo no início deste ano, com a construção coletiva do Projeto Popular, O Brasil que queremos: o Bem Viver dos Povos.
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Essa etapa é resultado do acúmulo das reflexões, gestos concretos e ações sociotransformadoras a partir da condensação das cinco edições das SSB´s, no decorrer de seus 30 anos de existência. Somam-se a essa afluência, os mutirões realizados em todo o Brasil, desde o início das atividades da 6º SSB, em 2020. Também é referência nessa construção, a atual conjuntura social: política, econômica, ambiental e cultural que tem desafiado a Igreja, os movimentos sociais e populares, as comunidades do campo e da cidade a esperançar e propor caminhos, a construir novas perspectivas para romper com as estruturas de violência, injustiça social e de destruição da Casa Comum.
Para dom José Valdeci Santos Mendes, bispo Brejo (MA) e presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Ação Sociotransformadora da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), “Projeto Popular, O Brasil que queremos: o Bem Viver dos povos, nos desperta à atenção e sensibilidade para perceber os rostos de pessoas que estão desfiguradas pelas injustiças, pelo sofrimento causado pela ausência de politicas públicas”, recorda. O bispo lembra que são milhões e milhões de pessoas que passam por todo o tipo de violações de direitos. “Construir o Brasil que queremos é ajudar esses irmão e irmãs a lutar por vida e dignidade, por terra e território, é ajudar a zelar pela casa comum: sem poluição, sem agrotóxicos, sem o desmatamento que causa destruição das comunidades tradicionais e dos territórios dos povos indígenas”, reforça.
Segundo Alessandra Miranda, secretária executiva da 6ª SSB, o Projeto Popular, “O Brasil que queremos: o Bem Viver dos povos” está na etapa de mobilização e articulação, para que as organizações sociais, os territórios, a partir das comunidades, paróquias, regionais e grandes regiões, possam começar o processo de elaboração de agora em diante.
Nesta primeira fase, o da elaboração, conta a secretária, serão identificados os projetos e ações de resistência populares já existentes, “isso para fortalecer essas experiências, que sejam valorizadas, cuidadas e potencializadas”, revela. Alessandra lembra que também serão feitos os processos de mutirão, para refletir sobre as violações de direitos humanos e da natureza, nos territórios. Situações essas relacionadas à terra, teto/moradia e trabalho para criar uma agenda de convergência em âmbito nacional.
Alessandra recorda que o Projeto é importante, “pois se trata de uma forma de nós enquanto Igreja e organizações da sociedade civil apresentar um programa de Brasil, não só para incidência politica nos espaços de controle social, mas também de gestão de nossas organizações, nos espaços onde atuamos. Ter um projeto de Brasil é fazer a defesa de uma ideação econômica, democrática e de soberania, para ampliar o acesso a terra, ao teto e ao trabalho”.
“O projeto de nosso Senhor Jesus Cristo é que todos tenham vida, e vida em abundância. E ter vida em abundância é ter dignidade, é ter direitos respeitados, é ter oportunidade para ser sujeito da história, é ter compaixão, é se lançar corajosamente diante dos grandes desafios, como a pobreza, a discriminação, o preconceito, a negação de direitos, é necessário enfrentar os problemas estruturais que marginalizam muitos e provem uns poucos”, ressalta dom Valdeci.
O bispo salienta que o resultado do projeto deve ser proposto por aqueles e aquelas que ao longo da história ajudaram construir este país, mas que foram e são marginalizados, “como as comunidades tradicionais, os povos indígenas, os empobrecidos e as empobrecidas e tantos outros e outras que são deixados à margem do caminho”.
Dom Valdeci lembra que, “como Igreja, devemos assumir esse compromisso de construirmos juntos, juntas. Não temos nada pronto, vamos construir coletivamente um Projeto Popular que vise em primeiro lugar, o Bem Viver de todos os irmãos e irmãs. Queremos como Igreja assumir essa missão, este papel. Estarmos convictos de que é caminhando juntos, nesse espírito de solidariedade, de fraternidade que construiremos o mundo justo e fraterno”.
A alocução social da Igreja está sempre acompanhada do compromisso concreto na sociotransformação. Em entrevista para a primeira edição da Revista CNBB Social, dom Leonardo Ulrich Steiner, arcebispo de Manaus (AM), afirmou que a ação social é parte integrante da ação evangelizadora da Igreja e procede de seu compromisso com o Evangelho. “A Igreja sempre chamou ao efetivo compromisso com a ação política consciente, buscando compreender e combater as causas da injustiça social por meio de ações de natureza política e de projetos concretos de participação das pessoas e das comunidades na vida pública de nossas cidades, estados e país”.
As Semanas Sociais Brasileiras
As Semanas Sociais Brasileiras são uma convocação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), por meio da Comissão Episcopal Pastoral para a Ação Sociotransformadora. É realizada de forma coletiva com as Pastorais Sociais, Igrejas Cristãs, Inter-religiões, Movimentos Populares, Associações, Sindicatos e Entidades de Ensino: na pluralidade cultural e étnica do Brasil e articula as forças populares e intelectuais para o debate de questões sociopolíticas do país, para uma ação Sociotransformadora. Nesta 6ª edição o tema debatido é o Mutirão pela vida: por terra, teto e trabalho, com a proposta da construção do Projeto Popular O Brasil que queremos: o Bem Viver dos Povos.
Cronograma das atividades – 2022 a 2023
1ª Trimestre de 2022 – janeiro, fevereiro e março
- Articulações com os movimentos sociais – 3 de fevereiro de 2022
- Reunião com organizações LGBTQIA+ – 16 de fevereiro
- Reunião com lideranças negras
- Difusão da síntese do acúmulo das SSBs e capacitação para o caminho metodológico
1ª Semestre de 2022 – janeiro a junho
- Reunião por inter regionais, data a ser definida;
- Realização dos mutirões pela vida: sinais do esperançar para fortalecer iniciativas locais e regionais;
- Realização das sínteses e caminho metodológico, por regionaonal;
- Mapeamento dos regionais e das articulações e movimentos para espaços de capacitação.
4º Trimestre 2022 – outubro a dezembro
- Visibilidade das experiências locais e dos diálogos nos regionais;
- Detalhamento: rodas de conversas para trocas das experiências.
1ª Semestre 2023 – janeiro a junho
- Diálogo para convergências, nos espaços regionais e das macrorregiões;
- Detalhamento: Construção de agendas regionais e das macrorregiões do Brasil que queremos.
3º Trimestre de 2023 – julho a setembro
- Espaço nacional de convergência;
- Detalhamento: socialização das agendas regionais / setoriais e construção da agenda nacional do Brasil que queremos.
4º trimestre de 2023 – outubro a dezembro
- Visibilidade da agenda do Brasil que queremos;
- Detalhamento: publicação e difusão da agenda nacional em formatos diversos para o fortalecimento do Brasil que queremos.
*Matéria publicada originalmente no site da Agência Signis