Cinco anos depois do rompimento da barragem do Fundão, em Mariana (MG), não houve qualquer responsabilização penal pela morte das 19 pessoas, ou mesmo pelos demais crimes cometidos

O Movimento dos Atingidos pro Barragens (MAB) divulgou nota nesta quarta-feira (4) lembrando as mais de 500 mil pessoas atingidas devido o rompimento das barragens administradas pela empresa Vale em Mariana (MG). A lama foi responsável pela destruição de cerca de 670 km de extensão do Rio Doce até parte do litoral do estado do Espírito Santo.

Sob responsabilidade da mineradora, pessoas perderam as casas, o trabalho e renda, o acesso à água, e tiveram a saúde deteriorada, além das muitas vidas tiradas.

Segundo o movimento, muitos dos processos de indenização ainda tramitam na Justiça e aqueles que já julgados não foram eficazes em reduzir os estragos. Centenas de famílias ainda vivem sem suas casas e a renda do trabalho também foi deteriorada. O cenário da falta de recuperação cria uma situação em que o crime se renova todos os dias, aprofundando as desigualdades na região.

Agora, passados cinco anos, o MAB e a Articulação Internacional dos Atingidos e Atingidas pela Vale (AIAAV), do qual o Jubileu Sul faz parte, denunciam o processo de invisibilização das vítimas. Nem os cadastros iniciais foram concluídos e a demora da Justiça leva ao fechamento de acordos desiguais, devido ao desespero das famílias atingidas que lutam pela sobrevivência. Para se ter uma ideia, dos 95 mil cadastros e solicitações realizados, apenas 19 mil pessoas recebem o auxílio financeiro emergencial.

O primeiro acordo realizado para a reparação dos danos foi firmado em março de 2016, sem a participação das vítimas. Naquela época foi criado um fundo com aproximadamente R$ 10 milhões em recursos, administrado por uma fundação privada, a Fundação Renova, organizada e gerida pelas empresas proprietárias da Samarco.

A Fundação Renova é peça-chave para entender a estrutura que defende o lucro dessas grandes empresas em troca da destruição do meio ambiente pela pressão do capital das mineradoras sobre a Justiça. Grande parte desse fundo é utilizado para dividir mais ainda a região, enfraquecendo as reivindicações por meio de notícias falsas e propaganda enganosa.

Enquanto as famílias atingidas pela lama residual sofrem, a Vale acaba de anunciar que dobrou seus lucros no último trimestre em 2020, chegando ao valor de R$ 15 bilhões – 750 vezes o estimado como o necessário para indenização de todas as 10 comunidades atingidas.

Com a publicação do texto, o MAB busca expor os crimes ambientais em Brumadinho, Mariana, Congonhas, Ouro Preto, Macacos, e tantos outros territórios, e mostrar que os rompimentos de barragem não são acidentes, eles fazem parte do modelo de exploração das mineradoras que assume o lucro como mais importante do que a vida.

Além disso, o texto fala pelos moradores atingidos reafirmando o compromisso de continuar lutando contra todas as injustiças que vêm ocorrendo na região.

“Somos as vítimas de um crime bárbaro que está longe de uma correta solução, mas somos também um povo em luta, disposto a lutar e colocar a vida acima do lucro. Anunciamos aqui, como atingidos e atingidas da bacia do Rio Doce e litoral capixaba, que seguiremos em marcha, em luta, por mais diversas décadas. Até que nossa região deixe de sofrer da ‘maldição da abundância’ de água, minerais, terra, petróleo”, finaliza a nota assinada pelo Movimento dos Atingidos por Barragem.

Articulação Internacional dos Atingidos e Atingidas pela Vale promove ações para marcar a luta

Na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, às 14h deste 5 de novembro, representantes dos movimentos de atingidos e atingidas participaram de audiência pública, debatendo as medidas tomadas e as providências necessárias para redução dos impactos pela tragédia em Mariana e Brumadinho.

Na mesma data, será lançado o documentário “Territórios Minerários – muito além da lama”. O curta mostra a realidade vivida pela comunidade de Antônio Pereira, a relação com a mineradora e o embate dos moradores por seu território.

Nas redes sociais, a AIAAV também promove ação divulgando a Campanha Rompendo à Máscara, que visa desmascarar as falácias divulgadas pela Vale, tais como o reassentamento de famílias de Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo, que a Fundação Renova segue adiando. Saiba mais na página da Articulação Internacional dos Atingidos e Atingidas pela Vale.

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