País enfrenta risco de nova intervenção estrangeira, em meio à falta de combustível e surto de cólera agravando as múltiplas crises

Porto Príncipe, Haiti (AP) – Milhares de pessoas em todo o Haiti realizaram protestos na segunda-feira (17) para exigir a renúncia do primeiro-ministro Ariel Henry, enquanto o país comemora a morte de Jean-Jacques Dessalines, um escravo que se tornou governante da primeira república negra do mundo. [1]

Os protestos ocorreram horas antes do Conselho de Segurança das Nações Unidas se reunir para votar várias medidas para tratar da situação cada vez mais caótica no Haiti, que aguarda uma resposta ao seu recente pedido de envio imediato de tropas estrangeiras.

“Os Estados Unidos precisam que o Haiti tome suas próprias decisões e não interfira nos assuntos haitianos”, disse o gerente de uma loja de autopeças, Marco Duvivier, 35, que se juntou ao protesto de segunda-feira em Porto Príncipe. “A vida não vai melhorar com uma força internacional.”

O Haiti ficou praticamente paralisado por mais de um mês depois que uma das gangues mais poderosas do país cercou um importante terminal de combustível na capital, impedindo a distribuição de mais de 10 milhões de galões (37,8 milhões de litros) de gasolina e mais de 3 milhões de litros (800.000 galões) de querosene armazenados no local.

Postos de gasolina permanecem fechados, hospitais cortaram serviços e empresas, incluindo bancos e mercearias, reduziram o horário de funcionamento à medida que o país fica sem combustível.

A situação foi agravada por um recente surto de cólera que deixou dezenas de mortos e centenas de hospitalizados em meio à escassez de água potável e outros suprimentos básicos.

Durante o protesto de segunda-feira, os manifestantes saudaram Dessalines, o líder da revolução anti-escravagista que foi assassinado em 1806, e rejeitou o possível envio de tropas estrangeiras.

“Somos filhos de Dessalines”, disse Samuel Jean Venel, um vendedor de 40 anos.

O surto anterior de cólera no Haiti foi o resultado de forças de paz das Nações Unidas do Nepal que introduziram a bactéria no maior rio do país por meio de esgoto. Quase 10.000 pessoas morreram e mais de 850.000 adoeceram.

“Não precisamos de uma força estrangeira. Não vai resolver nada”, disse Jean Venel. “Como você pode ver, não há resultado. Há mais pobreza, mais insegurança”.

No fim de semana, os Estados Unidos e o Canadá enviaram equipamentos, incluindo veículos blindados, que o governo haitiano comprou para seus policiais para ajudar a reforçar uma área que há muito sofre com a falta de funcionários e recursos. Há problemas para combater as gangues, que são responsáveis ​​por quase 1.000 sequestros desde o início deste ano e o assassinato de dezenas de homens, mulheres e crianças em um momento em que disputam território e se tornaram mais poderosos após o assassinato do presidente Jovenel Moïse, em julho de 2021.

Tradução por Jubileu Sul Brasil

Fonte: Haiti Minustah, publicado originalmente no portal AP News.


[1] Jean-Jacques Dessalines foi um dos líderes da revolução haitiana, que levou à independência em 1º de janeiro de 1804, fazendo do Haiti o primeiro país latino-americano a se tornar independente da França e a primeira República governada por afrodescendentes. Dessalines foi assassinado dois anos depois, em 17 de outubro de 1806.

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