A palavra de ordem que mais se ouviu foi “sem anistia”, pela responsabilização do ex-presidente pelos crimes cometidos em mandato
Gabriela Moncau | Brasil de Fato – São Paulo (SP)
Ainda não eram 18h nesta segunda-feira (9), horário marcado para o ato, e a Avenida Paulista já estava tomada por milhares de manifestantes em defesa da democracia. Convocado pelas frentes Povo Sem Medo, Brasil Popular e pela Coalizão Negra por Direitos, o protesto em São Paulo se juntou a dezenas de outros organizados pelo Brasil em reação ao ataque golpista de bolsonaristas aos três Poderes em Brasília, no último domingo (8).
A palavra de ordem que mais se ouviu foi “sem anistia”. A demanda se volta, em especial, à responsabilização do ex-presidente Bolsonaro pelos crimes cometidos durante seu mandato. Mandato este cujos últimos dois dias ele já passou nos Estados Unidos, onde permanece desde que não tem mais foro privilegiado.
A reivindicação, já expressa com força pela multidão que compareceu à posse do presidente Lula, ganha agora novos contornos, com a exigência de que sejam responsabilizados os participantes do intento golpista e, principalmente, seus financiadores, impulsionadores e as autoridades estatais coniventes. Entre elas, o governador do Distrito Federal afastado por 90 dias pelo STF, Ibaneis Rocha (MDB), e seu secretário de segurança exonerado, Anderson Torres.
“Ja derrubamos Bolsonaro nas urnas, vamos derrubar o bolsonarismo nas ruas”, afirmou integrante da Uneafro no microfone. No carro de som em frente ao MASP, enfeitado, entre outras, com uma grande bandeira do dr. Sócrates Brasileiro, parlamentares como Eduardo Suplicy (PT), Guilherme Boulos (PSOL) e Carolina Iara (PSOL) e ativistas de movimentos como MST, MTST, MNU e Unegro se alternaram em falas rechaçando a tentativa de golpe e reafirmando a legitimidade da decisão das urnas que elegeu o novo governo petista.
Por volta das 20h, as cerca de 60 mil pessoas começaram a caminhar em direção ao centro da cidade, acompanhadas de projeções nos prédios com dizeres como “sem anistia” e “recua fascista”. Com sinalizadores e bandeiras, as torcidas organizadas dos quatro grandes times de futebol do estado – Corinthians, Palmeiras, São Paulo e Santos – marcaram presença no protesto.
Bolsonarista com arma
A frente do ato já havia chegado ao seu ponto final, na praça Roosevelt, quando perto das 21h, um bolsonarista entrou no meio dos manifestantes que ainda desciam a rua Augusta, com uma arma na mão, e foi rendido por um grupo antifascista. “O que te inspira a estar aqui?”, pergunta um manifestante em um vídeo que mostra Marco Akira Fujimoto já imobilizado. “Vim matar vocês”, responde.
O homem foi detido pela Polícia Militar, segundo a qual a arma era de ar comprimido e foi comprada pelo Mercado Livre por R$ 1500. Em depoimento, Fujimoto teria dito que toma remédios controlados. Depois, foi liberado.
Reocupar as ruas
“Os democratas têm que sair para a rua. Não tínhamos quase 500 mil pessoas em Brasília naquela festa linda? Agora a gente sai da rua, deixa esses lunáticos tomarem conta das ruas dizendo que eles são o povo? É importantíssimo a gente voltar a estar nas ruas”, afirmou Chico Malfitani, um dos fundadores da Gaviões da Fiel.
“Como a gente abriu a estrada com uma facilidade tremenda? Foi só aparecer e eles fugiram. Deixaram as faixas, deixaram tudo. Mesma coisa na marginal, deixaram até moto com a chave”, disse, em alusão à atuação da Gaviões da Fiel para desobstruir rodovias que foram bloqueadas por bolsonaristas depois do resultado da eleição presidencial.
Nani Sacramento, da direção nacional da Central de Movimentos Populares (CMP), afirmou que “a manifestação está dando um contraponto para o acontecido estúpido de ontem em Brasília, contra a nossa democracia”. “Foi um ato ilícito, criminoso na verdade, nazista. A força popular não é isso”.
“A gente veio mostrar para eles, primeiro, que aquele lugar não é só deles, é nosso. Nós somos a maioria e essa maioria falou nas urnas no dia 30 de outubro que Luiz Inácio Lula da Silva ia tirar o Brasil da escuridão, ia tirar o Brasil do buraco em que Bolsonaro jogou”, disse. “Democracia não é aquilo de ontem. Democracia é o que vocês vão ver hoje”, completou a ativista.