A investigação do crime que ganhou repercussão internacional ainda está em andamento; especialistas comentam
Por Jéssica Rodrigues – Brasil de Fato
Há exatos seis anos o mundo espera a resposta para a pergunta “quem mandou matar Marielle?”. A vereadora e seu motorista, Anderson Gomes, foram assassinados em 2018, em uma emboscada no centro do Rio quando voltavam de uma agenda do mandato. O caso tomou repercussão internacional, mas até hoje não foi totalmente solucionado.
Em julho de 2023, o ex-policial militar Élcio Queiroz, acusado pelo crime, deu detalhes da execução. Na virada do ano, Ronie Lessa, também ex-PM, apontado como autor dos disparos, delatou o conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE-RJ), Domingos Brazão, como mandante. Muitas reviravoltas aconteceram ao longo desses anos e, mesmo sendo um caso emblemático, não se sabe ainda quem encomendou o crime.
“Quem é Domingos Brazão? É um político muito tradicional do Rio de Janeiro que tem uma atuação com a milícia, mas ele parece alguém que não tem muita popularidade, não é alguém que está no centro de um projeto político importante que a direita tem nesse momento. Mas também ele tem foro privilegiado, então é alguém que tem menos chance de ser prejudicado por essa delação uma vez que está num cargo importante no TCE. Então, acho que a gente está num momento de impasse”, analisa a cientista política Mayra Goulart.
Para ela, o inquérito do caso é atravessado pelo racismo e por outras formas de preconceito que ficaram ainda mais evidentes durante o governo de Jair Bolsonaro (PL).
“As pessoas se apropriam desse ícone Marielle Franco para se posicionar a favor ou contra o patriarcado, simbolizado aqui na figura de Jair Bolsonaro. Então esse duelo entre Jair Bolsonaro, ícone da reação patriarcal, e Marielle Franco, ícone do empoderamento das classes oprimidas pelo patriarcado, classes econômicas, classes de raça e gênero, tem servido para dificultar o andamento deste inquérito”, afirma a cientista política.
Além de Brazão, também aparecem como suspeitos Cristiano Girão, ex-vereador do Rio ligado à milícia, e o bicheiro, Rogério Andrade.
Luta por justiça
O coordenador do Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos da Universidade Federal Fluminense (Geni/UFF), Daniel Hirata, explica que a execução de Marielle e Anderson trouxe à tona o submundo das relações entre o poder público e organizações criminosas.
“Nós estamos falando aqui de organizações muito estruturadas, de pessoas envolvidas com milícias, jogo do bicho, grupos de matadores e suas relações com o poder político. Então, há uma frustração muito grande do ponto de vista que a gente precisa dar consequência a esse caso para que a população sinta que esse tipo de personagem também pode ser responsabilizado pelo seus atos”, ressalta o pesquisador.
Hirata aponta também que a justiça já falha quando investigações de casos como este muitas vezes só vão para frente porque os familiares das vítimas lutam para isso.
“É uma coisa muito complicada essa demora toda para resolução desse caso porque a família não consegue completar seu luto, não consegue se sentir parte de uma sociedade que tenha um sistema de justiça e, portanto, não encerra um ciclo tão longo como esse que nós estamos envolvidos para chegar até aqui”, finaliza o coordenador do Geni.
Na última terça-feira (12), o Ministério Público do Rio (MP-RJ) pediu que o ex-bombeiro Maxwell Simões Corrêa, também suspeito de envolvimento no caso, vá a júri popular. Ele teria monitorado a rotina de Marielle e ajudado no desmanche do carro usado no crime. A motivação do assassinato contra a vereadora ainda não foi esclarecida.