A articuladora local do Jubileu Sul Brasil, que acompanha famílias indígenas Pankararu, em Francisco Morato, diz que sem a solidariedade entre as pessoas da comunidade, a situação seria mais grave.
Na cidade de Francisco Morato, região metropolitana de São Paulo, existe uma comunidade de indígenas da etnia Pankararu, original do estado de Pernambuco. São cerca de 20 famílias desse povo originário, vivendo em meio urbano, desenvolvendo lutas pelos seus direitos e construindo a resistência das tradições do seu povo.
Esse grande grupo familiar de indígenas teve agravada sua condição de vida por conta da pandemia de COVID-19. Marli Aguiar, articuladora local do Jubileu Sul, que vem acompanhando a situação do grupo de indígenas, diz que já foram confirmados dois casos de pessoas infectadas pelo novo coronavírus na comunidade. Uma das pessoas, inclusive, precisou permanecer internada na Santa Casa da cidade para que pudesse se recuperar.
Marli conta ainda que boa parte das pessoas adultas da comunidade vive de trabalho informal ou estão desempregadas, e que a necessidade de isolamento social está impondo uma grande baixa na renda dessas famílias. A articuladora aponta que as pessoas foram orientadas a buscarem o auxílio emergencial no valor de R$ 600,00, anunciado pelo governo federal, mas, assim como um grande número de brasileiros, os membros dessa comunidade estão tendo grandes dificuldades de acesso ao benefício.
A única que tem um trabalho formal é uma jovem que além de cuidar dos familiares doentes e as crianças, precisa sair todos os dias para trabalhar, pois ela não foi dispensada pela empresa que fica na cidade de São Paulo.
“Nesse acompanhamento há uma preocupação em dar apoio a essas pessoas. Enquanto uma das pessoas que teve COVID, estava internada na Santa Casa, eu fazia a ponte de comunicação entre elas. O que ouvi delas é que isso era muito importante e fazia com que elas não se sentissem sozinhas, para mim isso é muito forte“, relata Marli.
Além de fazer o acompanhamento e a orientação sobre as medidas preventivas contra a doença, como os cuidados com a higienização e o uso da máscara, Marli conta que a Rede Jubileu disponibilizou às famílias um apoio emergencial,a partir de uma parceria com DKA, agência de cooperação da Áustria, por um período de 4 meses. Desta maneira o apoio possibilitará a compra de alimentos para as famílias, assim como produtos de higiene, limpeza e medicamentos, tão importantes neste momento de combate à pandemia de COVID-19.
Marli ressalta que vem buscando o apoio financeiro e de doações de outras pessoas, grupos e entidades para essa comunidade indígena, tendo em vista que não está garantido o auxílio do Estado à essas famílias.
Na visão de Marli, se por um lado o Estado não atua com a urgência que a situação requer, a solidariedade entre as pessoas está aumentando. “A solidariedade tem sido fundamental para manter famílias de pé, se não fosse essa solidariedade, entre os povos, entre as pessoas aqui em São Paulo e no Brasil, a situação estaria mais difícil, mais periclitante. A gente não tem como saber como vai ser o futuro, porque, mesmos as pessoas que estão ajudando agora podem estar sem trabalho daqui 2 ou 3 meses, essa é uma preocupação também. Mas a solidariedade, seja em palavra, seja em apoio, nas campanhas, no diálogo, ouvindo, tudo isso está sendo muito importante”, comenta a articuladora.
O cuidado entre as pessoas da comunidade indígena tem sido maior também e, ao descrever este fato, Marli atribui essa condição a um trabalho de grande sensibilidade que vem sem feito pela Elane, liderança indígena local, em conscientizar as pessoas para a importância do fortalecimento mútuo.