150 representantes dos regionais, pastorais e movimentos sociais, entre os quais a Rede Jubileu Sul Brasil, estão reunidos em Brasília no Encontro Nacional da 6ª Semana Social Brasileira
Por Luis Miguel Modino, Regional Norte 1 da CNBB e 6ªSSB
Fotos Nívea Martins, CáritasBr e 6ªSSB
150 representantes dos regionais, pastorais, movimentos sociais, estão reunidos em Brasília de 20 a 22 de março de 2024 para o Encontro Nacional da 6ª Semana Social Brasileira, um momento para “continuarmos este mutirão pela vida, por terra, teto e trabalho”, segundo Dom Valdeci Santos Mendes, presidente da Comissão Episcopal para a Ação Sociotransformadora da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), por “democracia, soberania e economia”.
Um Mutirão que recolhe os frutos dos mais de 200 mutirões no Brasil todo, construindo a partir das experiências com tantos irmãos e irmãs. “Grande mutirão que nos fortalece em vista do Brasil que queremos e o bem viver dos povos”, segundo o bispo de Brejo, que ressaltou que “os povos nos ensinam o caminho do bem viver”, chamando a um compromisso com a vida humana, a criação, a inclusão, “que acabe com o descarte das pessoas”, a quem “precisamos dar-lhes uma resposta”, a impulsionar a solidariedade de caridade política, em palavras de Dom Pedro Casaldáliga, que promove a política que transforma e inclui, que promove a vida e a justiça, uma caridade que transforma a realidade e nos compromete com os empobrecidos, fortalecermos a vida dos povos, insistiu o bispo. Diante de tantas realidades presentes no Brasil, disse que “precisamos promover a vida e a vida com dignidade”.
Um trabalho das pastorais sociais da Igreja católica reconhecido pelo governo brasileiro, segundo disse Wellington Dias, ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, que disse ter participado de diversas pastorais e movimentos na Igreja. Ele denunciou que um dos maiores produtores de alimentos do mundo, não tem como justificar a fome e pobreza. Diante disso fez um chamado a de mãos dadas ajudar a tirar o Brasil do Mapa da Fome, a realizar um caminho para trabalhar juntos, a dar a mão às pessoas para poder sair da pobreza.
No encontro se faz presente o padre Avelino Chico SJ, representante do Dicastério do Desenvolvimento Humano e Integral do Vaticano, que trouxe a saudação do Dicastério presidido pelo Cardeal Czerny e fez a leitura de uma carta enviada pelo Papa Francisco, que reconhece a Semana Social Brasileira como um “caminho para uma ‘Igreja em Saída’, comprometida em derrubar os muros do descarte e da indiferença, acompanhando os mais pobres e carentes dos direitos básicos em sua luta por terra, moradia e trabalho”, destacando a importância de uma nova economia e de “ver naqueles que são forçados a viver na miséria pelas injustiças sociais o rosto de Jesus que nos instiga a não permanecermos indiferentes”.
Desde o início a 6ª Semana Social Brasileira insistiu no foco e na metodologia como elementos em que não podia errar, segundo frei Olavio Dotto, chamando a fazer memória do caminho percorrido e realizar um diagnóstico que permita construir, juntos, sonhar o Brasil que nós queremos. O assessor da Comissão Episcopal para Ação Sociotransformadora da CNBB insistiu em ver a Semana Social não como eventos e sim como processo, um caminho que deve nos ajudar a fortalecer a ação das pastorais sociais e os diversos organismos em vista de transformar as estruturas da sociedade.
José Ricardo, representante do MST afirmou que “é tempo de combater fome com pão, violência com afeto, exploração com revolução”. Daí a importância do Mutirão e de tudo o que ele representa, um chamado a participar da ação, pisar no barro e sentir com o povo, uma expressão da nossa solidariedade, um semear os princípios da nossa humanidade. Ele relatou diversos elementos e situações que não cabem no Brasil que queremos, insistindo em que todos somos sujeitos de direitos.
O Secretário Nacional da Economia Popular Solidária, do Ministério do Trabalho, Gilberto Carvalho destacou a importância do trabalho realizado pelas pastorais sociais dentro do atual momento que o Brasil vive, um país aonde grande parte da militância popular surgiu da Igreja católica, carregando um método que trouxe uma riqueza imensa. A articulação dessas pastorais sociais tem sido de grande importância diante das dificuldades, especialmente no tempo da pandemia da COVID-19, destacou Cátia Cardoso, assessora da Cáritas Brasileira no Regional Nordeste 3 da CNBB. Diante disso, a 6ª Semana Social Brasileira quer ser uma mobilização estrutural, destacou sua secretária executiva, Alessandra Miranda, que num país historicamente marcado pela escravidão, a discriminação e desigualdade, disse ter descoberto resistência popular nos mutirões realizados neste processo.
Para dar passos se faz necessário analisar a realidade, buscando encontrar um retrato que leve em conta acontecimentos, cenários e relações das forças políticas e das estruturas. Desde diferentes perspectivas José Antônio Moroni, do Instituto de Estudos Socioeconômico e da plataforma dos movimentos sociais pela reforma do sistema político, Rud Rafael, coordenação nacional do MTST e integrante da Frente Povo Sem Medo, e Sandra Quintela, da coordenação da rede Jubileu Sul, foram elencando alguns elementos presentes na sociedade brasileira e global, como o avance da extrema-direita, o aumento das guerras, a xenofobia, a concentração da riqueza. Sinais de uma democracia insuficiente, que mostra a necessidade de lutar pela democracia promovida pelo Mutirão.
Um Mutirão que segundo Dom Jaime Spengler deve nos levar a “encontrar indicações viáveis para que todos, todos, todos, como diz o Papa, possam ter acesso digno ao trabalho, ao necessário teto, para uma convivência sadia, e à terra que nos acolhe”. Diante dos desafios do tempo atual, o presidente da CNBB fez um chamado a “caminharmos sempre mais em comunhão, participando da realidade dos nossos povos e, ao mesmo tempo, abertos à missão evangelizadora, razão de ser da Igreja”.
O Bem Viver dos Povos se concretiza na resistência do Povo de Deus, nascida de experiências concretas. Um Bem Viver presente nos povos originários, mas também na Bíblia, o que nos leva a nos questionarmos sobre o retrato de Bem Viver, desafiados a pensar a partir de nossos lugares e de nossa experiência de fé, segundo o teólogo Hudson Rodrigues. Resistências que se concretizam na ação com mulheres em busca da reparação das dívidas sociais, que acontece em Manaus–AM, segundo relatou a educadora popular Marcela Vieira, mas também na vida dos povos e comunidades tradicionais, como acontece no Maranhão, onde são tecidos processos que melhoram a vida em diferentes perspectivas, tendo como fundamento suas raízes, em vista de um processo de descolonização.
Essa dinâmica do Bem Viver se concretiza no Projeto de Vida da Juventude das comunidades pesqueiras no Norte de Minas Gerais, abordando problemáticas como o suicídio, a luta por território, por políticas públicas. Essas políticas públicas às vezes nascem de iniciativas populares, algo que aconteceu com as 15 Cozinhas Comunitárias na cidade de São Leopoldo–RS, uma experiência que serve umas cinco mil refeições semanais e ajuda a entender o sofrimento das pessoas que não tem o que comer, levando-as alimento e direito, uma experiência partilhada pelo padre Edson André Cunha Thomassim. Uma luta por preservar espaços que fazem com que o Bem Viver avance na periferia de Brasília, onde o Movimento de Educação de Base (MEB), onde a educação vai fazendo com que as pessoas se tornem críticos e questionem a realidade social onde eles estão inseridos.