Diante da provável renovação do mandato da Missão de Estabilização da ONU no Haiti (Minustah), movimentos sociais e organizações se reuniram ontem (12) em Brasília e discutiram ações de solidariedade e apoio à soberania do povo haitiano. O encontro aconteceu no auditório da Cáritas Brasileira, e foi organizado pelas redes Jubileu Sul Brasil e Jubileu Sul/ Américas, das quais o Pacs faz parte.
Segundo Miguel Borba, mestre em Relações Internacionais, integrante do Pacs e da Rede Jubileu Sul, os movimentos sociais estão, aos poucos, conseguindo quebrar o bloqueio imposto pelas mídias e pela maioria dos debates acadêmicos sobre a ocupação militar estrangeira no Haiti. Isso tem levado a países vizinhos que também compõem a Minustah a iniciar o processo de retirada das tropas do país, é o caso da Argentina e do Uruguai e do Paraguai que sinalizou recentemente a decisão.
“Em 2015 fazem 100 anos da primeira invasão do Haiti, ordenada pelo então presidente Wilson, dos EUA, em 1915, quando os soldados americanos sequestraram todas as reservas do tesouro haitiano e as levaram para Washington”, relembra.
Para Miguel, é preciso resgatar a história de colonização e recolonização contínua do Haiti, que seguiu durante todo o século XX mediante ditaduras impostas por grandes potências, como os regimes de Papa Doc e Baby Doc e seus esquadrões de extermínio conhecidos como Tonton Macoute. O pesquisador aponta ainda que o Brasil é parte dessa história de invasão e exploração dos povos caribenhos: primeiro com o apoio de 1300 soldados da Ditadura Militar brasileira à invasão da República Dominicana em 1965, quando o General Castelo Branco ajudou a sustentar o golpe que derrubou o presidente reformista Juan Bosch e colocou o sanguinário Rafael Trujillo no poder.
“Hoje, seguimos nesta triste tradição, através da Minustah no Haiti, que sustenta outro golpe de Estado desde 2004 e um regime que viola os direitos mais básicos da população. Temos a convicção de que a sociedade brasileira exigirá a retirada das tropas quando tiver o acesso a essas informações, assim que tiver direito à verdade histórica e atual”, conclui.
Abuso de poder
Em outubro do ano passado, mesmo com rechaço de chefes de estados e de movimentos e organizações sociais, a ONU decidiu renovar a permanência da Minustah por mais um ano, com espaço para ser renovado caso seja avaliado necessário. Lideranças locais enumeram problemas causados pela ocupação do território haitiano. Entre as denúncias de violações de direitos humanos provocadas pela missão da ONU, destacam-se a epidemia de cólera que se alastra no país e já matou mais de 8.300 pessoas, a violência sexual contra mulheres e homens pelos soldados da Minustah, repressão às manifestações populares, além do desrespeito à soberania política do país.
Diante do abuso de poder, o Jubileu Sul Brasil e Américas defendem que é necessário uma ação mais enérgica por parte dos que, ao longo desses 10 anos, vêm realizando diversas atividades pela retirada da Minustah do país haitiano. Segundo integrantes da Rede, em 2015, uma série de ações de denúncia e pressão será realizada no Brasil, na América Latina e no próprio Haiti, como o Tribunal dos Povos contra a Dívida e a Militarização, em julho, na capital Porto-Príncipe.
Por PACS – Fotos: Miguel Borba