Por que não se fala nas escolas sobre a revolução do Haiti? Nos falam sobre a revolução francesa, americana, sobre outras. Sabe porque? Para que a gente não se espelhe na revolução de vocês!”. A fala é do fotógrafo Bira Carvalho, morador no complexo da Maré, feita ontem durante o Seminário Nacional sobre o Haiti: Construindo Solidariedade, que acontece até hoje em São Paulo.
Bira fez menção à força haitiana que levou à frente sua revolução popular pela independência do país, que hoje está ocupado há 10 anos pelas tropas da Missão das Nações Unidas para Estabilização do Haiti (Minustah), cuja população sofre com os efeitos da militarização, com diversos direitos violados.
“O que tem de semelhante nisso tudo é fruto de uma sociedade racista, escravocrata. O que acontece é reflexo de tudo isso”, disse o fotógrafo no momento dedicado a depoimentos dos participantes dos complexos do Alemão e Maré, e dos haitianos que estão vivendo aqui no Brasil.
Gisele Martins, moradora da Maré explica que é cada vez mais difícil ser fotógrafa e comunicadora dentro das favelas, pois denunciar, divulgar o que de fato está acontecendo com o processo de militarização nos complexo é motivo de perseguição. “Ser fotógrafa e comunicadora não é mais a mesma coisa deste a ocupação dos militares. Agora mais que nunca temos que nos fortalecer com esse anúncio de que as forças militares e que as UPP vão assumir”, disse.
De acordo com ela, para fazer qualquer atividade é necessário pedir permissão do Batalhão e, além disso, conviver com os tanques cruzando as vias a todo instante.
Da parte do Haiti, Fedo Bacourt, da União Social de Imigrantes Haitianos (USIH) falou sobre as consequências da militarização, que compromete seriamente a independência do país e da população haitiana. “Está muito claro que o Haiti não precisa de militares. Queremos um país soberano e livre”.
A mesa teve em comum o tema da militarização e como as populações precisam articular formas de resistências.
Rogéria Araujo, Rede Jubileu Sul Brasil