Mobilização, com caminhada pelas ruas do centro histórico, foi parte da programação da Conferência Popular pelo Direito à Cidade. Nas intervenções ao longo do trajeto, organizações e movimentos populares denunciaram as desigualdades, criticaram o judiciário e cobraram medidas efetivas pelo direito à cidade e à moradia digna
Por Flaviana Serafim I Jubileu Sul Brasil
Cerca de 2 mil pessoas participaram da Marcha pelo Direito à Cidade, que percorreu ruas do centro histórico da capital paulista na tarde de sexta-feira (3). A mobilização fez parte da programação de atividades da Conferência Popular pelo Direito à Cidade, realizada em São Paulo de 3 a 5 de junho. (saiba mais).
Enfrentando o frio intenso sob céu cinzento, os manifestantes, principalmente dos vários movimentos populares de moradia, se concentraram no Largo do Paissandu, em frente à Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, marco de resistência do povo negro na capital. As mulheres foram maioria do público participante, caminhando junto a outros segmentos, como os representantes da população negra, dos povos indígenas, comunidades tradicionais e LGBTQIAP+.
A militante Cleide Resende veio da Bahia participar da marcha e da Conferência representando mulheres do movimento de moradia de 17 estados. “Estamos aqui para incidir porque falar de cidade tem tudo a ver com a gente, com nossa vida, nosso corpo. Com certeza moradia nunca foi pauta para muitos governos, mas hoje é pauta dos movimentos populares. As cidades são das mulheres!”, ressaltou em seu discurso, antes do início da marcha.
Cris Monteiro, liderança do movimento de moradia fluminense, falou sobre as décadas de lutas das pessoas trans “pelo direito de existir nessa cidade que nos oprime e violenta de várias formas. Lutamos diariamente por saúde, educação, emprego e queremos viver numa sociedade que nos faça seguras”.
Confira as imagens no Flickr do Jubileu Sul Brasil.
Por direito à moradia, à cidade e à justiça
Ao longo do trajeto de pouco mais de um quilômetro, místicas e intervenções marcaram o protesto. Depois da marcha atravessar o Vale do Anhangabaú, a primeira parada dos manifestantes foi em frente à Bolsa de Valores, na Rua Boa Vista, onde denunciaram as desigualdades provocadas pela especulação financeira.
Com cartazes, faixas e fumaça vermelha, em frente ao Palácio da Justiça, na Praça da Sé, mulheres fizeram a leitura de uma carta expressando os diferentes sentidos e sentires da moradia digna.
Em frente ao prédio, criticaram as decisões do Poder Judiciário que impactam os direitos e os movimentos de luta por moradia digna, como os despejos, reintegrações de posse e criminalização de lideranças. Próximo dali, nas escadarias da antiga sede da Caixa Econômica Federal, recordaram a falta de orçamento e o desmonte das políticas públicas de habitação.
A caminhada terminou no Pátio do Colégio, área onde foi erguida a primeira construção da cidade, em 1554. Ao final da marcha Raimundo Bonfim, da coordenação nacional da Central de Movimentos Populares (CMP), concluiu:
“Nesta tarde estamos inaugurando uma nova etapa pela reforma urbana e o direito à cidade. Esse processo de mais de 240 eventos preparatórios do Brasil inteiro foi um processo inédito e renovador dos movimentos, redes, articulações, de todas e todos que lutam por cidades justas”.
A Rede Jubileu Sul Brasil participou da Marcha pelo Direito à Cidade representada pela delegação da CMP do Rio de Janeiro. Junto com a Rede e a 6ª Semana Social Brasileira (SSB), a organização é parceira na ação sobre mulheres e dívidas sociais, que visa fortalecer a organização feminina na luta por moradia digna e outros direitos.
A ação é apoiada pelo Ministério das Relações Exteriores Alemão, que garantiu ao Instituto de Relações Exteriores (IFA) recursos para implementação do Programa de Financiamentos Zivik (Zivik Funding Program). Também integram o processo de fortalecimento da Rede Jubileu Sul Brasil e das suas organizações membro, contando ainda com apoios da Cafod, DKA, e cofinanciamento da União Europeia.