Desde 2010, quando as primeiras lutas contra as violações trazidas pela Copa do Mundo iniciaram no Brasil, os Comitês Populares da Copa, nas 12 cidades sedes, se organizaram com intuito de fortalecer a defesa de direitos sociais e contra o modelo de cidade que aos poucos vinha se implementando. Desde sempre deixamos claro que nossa luta não era contra o futebol, forma como parte da mídia, Governos e empresários sempre tentaram desqualificar o movimento. Nossa pergunta central sempre foi e será: “Copa pra quem?”, pois é assim que podemos debater os rumos e o modelo de cidade e país imposto e fortalecido a partir dos megaeventos.

Ao longo destes anos, com os desmandos e a truculência pela qual a Copa do Mundo foi sendo imposta, as diversas comunidades (250 mil pessoas ameaçadas de remoção), categorias e pessoas atingidas foram buscando formas de organização e resistência. O povo em geral foi percebendo que a Copa que se criava não traria benefícios para o país. Muitas vitórias surgiram deste processo de resistência. A partir das jornadas de junho de 2013, os levantes e reivindicações populares cresceram e as vitórias a partir da luta também. Hoje, ninguém pode negar que é com luta que se conquista!

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A principal resposta dos Governos às pressões e conquistas não foram canais de diálogo e construção de novas políticas. Mas sim novas formas de repressão e violência policial. A este modelo de “segurança”, fortalecido e apresentado como legado em nome da Copa, nós manifestamos nosso repúdio. Nestes primeiros dias de Copa do Mundo já foram presenciadas cenas de tortura e violência que não deixaremos passar sem questionamentos.

Torcemos pelo futebol e lutamos todo este período por uma outra Copa do Mundo, inserida em outro modelo de cidade, onde ocorram vitórias também na educação e saúde pública de qualidade, pela demarcação das terras indígenas, pelo fim da violência estatal e limpeza étnico-racial, pelo fim das remoções e despejos forçados, pela desmilitarização da polícia e contra a criminalização dos movimentos sociais.

Nós que torcemos, assistimos a privatização do nosso sentimento pela Fifa. Mas continuamos torcendo. Torcendo pelas pessoas que ousam pensar diferente e querem explicação dos gastos da Copa, que ousam querer que as pessoas não sejam despejadas de suas casas para se construir estádios. Torcemos para as que ousam querer segurança para crianças e adolescentes contra a exploração sexual, e as que ousam até querer trabalhar e ganhar dinheiro com a Copa!

Sabemos e respeitamos muito o amor que o povo brasileiro tem ao futebol. Mas torcemos por um Brasil sem violência, um Brasil desmilitarizado, um Brasil com pessoas com casas ou terras para viver. Um Brasil que respeite e aprenda com as populações tradicionais como os indígenas, os quilombolas, os caiçaras… um Brasil que não tolere a homofobia, a violência contra as mulheres e o racismo, principalmente aquele impregnado na violência, inclusive policial, contra a juventude negra.

Falamos ao longo de 4 anos que não éramos contra a Copa ou o Futebol. Que os nossos problemas são as violações dos direitos humanos. Apostamos nesse clima de paixão pelo futebol para transbordar para a paixão pelas mudanças que o povo merece. Neste sentido, é possível conviver os protestos por uma cidade melhor com um campeonato de futebol. Muitas de nossas lutas neste período foram justamente para que a Copa não se tornasse de poucos. Lutamos pelo direito ao trabalho nos jogos, pelo livre direito de ir e vir e contra a política de higienização social.

A mesma população que apoiou as lutas desde junho de 2013 é a que hoje torce pelo Brasil na Copa. Os governos, as forças policiais, a FIFA e os grandes empresários tentam criar esta separação. Assim, além dos(as) que estão nas ruas, convidamos a todos(as) os(as) brasileiros(as) a expressarem seus desejos a vitória no futebol e no direito social, perguntamos e lançamos a campanha: que outras vitórias queremos para o Brasil?

ANCOP – Articulação Nacional dos Comitês Populares da Copa

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