Por Rogéria Araújo | Comunicação Jubileu Sul Brasil

Revolução, resistência, ruas, o papel das mulheres, a força dos povos mais atingidos historicamente pelo capital, como os indígenas e a população negra, foram a base para a análise de conjuntura em período de golpe pelo qual passa o Brasil. A discussão foi provocada pelo economista Plínio de Arruda Sampaio Jr.; Luciana Araujo, jornalista, feminista e militante do movimento negro; o indígena David Guarani; e a militante Cinthia Abreu, do núcleo da Marcha das Mulheres Negras e Marcha Mundial das Mulheres. O momento foi promovido pela rede Jubileu Sul Brasil, em reunião geral de coordenação da rede no último dia 3 de março, em São Paulo.

A reunião contou com diversos/as representantes de entidades, organizações, movimentos e militantes que compõem a rede e teve como objetivo aprofundar o contexto político e apontar caminhos para a grave crise democrática instalada com o governo ilegítimo de Michel Temer, fruto de um golpe institucional. Temas como o ajuste fiscal, reformas trabalhistas, reforma da previdência, bem como o debate sobre o nosso papel neste contexto foram uma constante nestes dois dias reunião.

Reação feminista

Cinthia Abreu destacou a importância da participação das mulheres organizadas e em luta por seus direitos. De acordo com ela, as mobilizações internacionais são resultado de muitos anos de organização e de opressão a que as mulheres foram submetidas historicamente. Nesse ponto, afirmou, a Marcha Mundial das Mulheres foi um marco. Da mesma forma, nas mobilizações que pedem a saída do presidente Michel Temer, as mulheres têm tido participação e direcionamento essenciais para a esquerda brasileira.

“Sabemos que quando estamos falando ‘Fora Temer’ estamos também falando contra todas as formas de violência contra as mulheres, contra o feminicídio. Estamos lembrando de como estas reformas vão interferir na vida e no trabalho das mulheres, no mercado de trabalho. Mas também sabemos que quando gritamos ‘não à violência’, a violência vem pra cima da gente. Mas estamos na resistência. E vamos continuar”, disse.

Cinthia ilustrou bem a realidade que enfrentam as mulheres, ainda vítimas de um sistema patriarcal, sobre tudo quando são negras e pobres – e agora num governo que claramente exclui minorias. “São as que mais são assassinadas. Não podemos nos calar”, falou. Também trouxe as injustiças e a violência pratica contra as mulheres transgêneros.

De acordo com ela, o chamado internacional para a paralisação do 8 de Março deve ser forte e contundente e, no Brasil, levantar todas as demandas e problemas que afetam diretamente as mulheres.

Combate aos ruralistas

David Guarani, que representou o povo indígena da Terra Indígena Jaraguá Tekoa Ytu, São Paulo, trouxe para o debate o problema dos povos indígenas com relação ao direito à terra, focando na Proposta de Emenda Constitucional, a PEC 215 que coloca sérias dificuldades para demarcação de terras indígenas. “Chegamos num ponto muito crítico. Não tivemos apoio no governo anterior (PT) e também será muito mais difícil ter política indigenista com o golpe, pois este governo vem atuando de forma muito rápida contra os direitos. Por isso estamos nos organizando e nos mobilizando para combater conservadores e ruralistas”, afirmou.

O representante da terra indígena guarani também trouxe o tema da repressão a que vem sendo submetido o povo indígena quando se manifesta em Brasília. Em dezembro de 2014, contou, quando estava sendo debatida a aprovação da PEC 215, 80 pessoas de diversas etnias foram cercadas por cerca de 1000 seguranças, e neste sentido clama por solidariedade mais efetiva.

Destacou ainda a luta e a resistência que está sendo travado no estado de São Paulo contra a privatização dos parques, promovida pelo governo tucano de Geraldo Alckmin, a qual atinge diretamente diversas terras e comunidades indígenas.

Revolução e Resistência

Sobre o governo Temer, Plínio de Arruda Sampaio Jr. acredita que há muitas contradições no modelo de governo e que é difícil segurar a paz social incentivando desigualdades. Indagado quando seria o momento de o povo reagir contra o pacote de reformas, ele falou que, de fato, há um certo desconhecimento das populações mais vulneráveis, já que o trabalho da burguesia é alienar, apostar na ignorância do povo. “É importante manter todo o povo sem saber o que está acontecendo porque quando o povo sentir e saber o que é a conta da previdência vai ter uma revolução em 10 dias”, afirmou.

Segundo ele, essas contradições de Michel Temer vão dar as soluções. “Nós vamos ter que acertar as contas. O ponto é a gente entender o que aconteceu. Não há mais caminho sem guerra. A guerra de classe está instalada. Esta é minha opinião. A burguesia está atenta a isso. Nós precisamos nos organizar para reagir”.

Para o economista a revolução contra o governo golpista vai ter a cara das outras revoluções que ocorreram ao longo da história. Canudos, Quilombos, Jornadas de Junho de 2013 – rapidamente manipulada pela burguesia. “E o grau de violência vai depender do grau de violência do outro lado, que está preparado. A gente precisa estar preparado pra fazer a mudança da melhor forma possível”, disse, acrescentando que para resistir é preciso entender o que está acontecendo. “O fato é que o capitalismo não consegue mais resolver nenhum dos problemas do povo e nem mesmo os seus próprios problemas”, disse.

Esta ofensiva avassaladora sobre a classe trabalhadora, sobre a soberania dos povos, que atende pelo nome de “ajuste” vai ter séries consequências. É a luta de classes.

A jornalista e militante feminista Luciana Araújo trouxe provocações de base mais estruturantes, já que para se fazer mudanças é preciso mudar o que está ruim na base. Levantou a questão do racismo, da legalização das drogas, das mortes de jovens negros e da periferia. Pequenas grandes revoluções seriam necessárias para uma mudança radical que hoje se faz urgente.

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