Ação da Pastoral Operária Nacional (PO), realizada em parceria com o Jubileu Sul Brasil, reuniu centenas de trabalhadoras e trabalhadores de todas as regiões do país. Coordenadora nacional da PO, Marina de Oliveira alerta para o crescimento do trabalho escravo não só no campo, mas também nas áreas urbanas
Por Flaviana Serafim – Jubileu Sul Brasil
A Pastoral Operária Nacional (PO) realiza uma série de encontros de formação no âmbito da iniciativa “Promoção da justiça no mundo do trabalho”, em parceria com a Rede Jubileu Sul Brasil. A ação visa contribuir para a defesa do trabalho e a soberania dos povos nos territórios em que a PO atua e que são impactados pelas dívidas sociais.
Ao longo do mês de agosto, os encontros aconteceram de forma presencial em seis estados de todas as regiões do país (Amazonas, Paraíba, Ceará, Espírito Santo, Minas Gerais e Paraná), com temas como dívidas sociais, privatização e precarização do trabalho, partindo de reflexões em rodas de conversa e com base em cartilhas elaboradas pela colegiada nacional da PO.
As formações acontecem de forma dinâmica, com a construção de saberes entre facilitadores e participantes dos encontros. Como parte do processo formativo, também foi realizado virtualmente um seminário nacional no final de 2021, que contou com a participação de Martha Flores, coordenadora da Rede Jubileu Sul/Américas. Posteriormente, ocorreram rodas de conversa nos grupos de base, culminando nos cursos estaduais realizados em agosto, num processo de formação em rede para troca de conhecimentos.
Desafios da crise sanitária e da conjuntura político-econômica
Coordenadora nacional da Pastoral Operária, Marina de Oliveira explica que as trabalhadoras e trabalhadores que participam das formações têm feito reflexões que mostram como as decisões tomadas pelo poder econômico impactam a vida cotidiana causando mortes, miséria, fome, doenças, além de desemprego e o fim de legislações de proteção aos direitos trabalhistas e ao meio ambiente.
“Essa escolha que o governo federal faz estimula os desmandos de grandes empresas que, em nome do lucro, matam as vidas sem nenhuma punição. Elas têm nomes: Vale, Mangels, Agropel, dentre outras e estão em nossas regiões. Isso demonstra qual a prioridade em relação ao bem comum da sociedade. Ao optar por enriquecer ainda mais o capital financista, negligencia o acesso por parte da população às políticas públicas para mulheres, negras e negros, trabalhadoras e trabalhadores, empobrecidas e empobrecidos, da cidade e do campo”, afirma.
Segundo a coordenadora da PO, a pandemia e a conjuntura político-econômica têm influenciado as relações de trabalho, potencializando o agravamento da miséria e da fome, o desemprego, a informalidade com a “uberização” e o desalento de pessoas sem expectativa de sair da situação em que se encontram.
“Tudo em nome da ganância pelo lucro. O desespero por ter uma fonte de renda para sobrevivência faz com que trabalhadoras e trabalhadores se sujeitem a trabalhar por qualquer valor e sem direitos. As leis trabalhistas impostas dificultam a busca por direitos, como o risco de ter que pagar custas processuais, além de desestimular não só as organizações trabalhistas, mas também populares e sociais”.
Trabalho escravo aumenta nas áreas urbanas
Marina também observa que outra consequência desse cenário: o aumento do trabalho escravo não só no campo, mas também nas cidades, como no caso de empregadas domésticas e trabalhadores da construção civil, condição que afeta majoritariamente negros e negras. Ela avalia que isso precisa ser considerado porque se percebe um mascaramento da situação, que induz a sociedade à ideia do trabalho análogo à escravidão e não o trabalho escravo propriamente dito.
“Nesse sentido, observa-se que o trabalho escravo ultrapassa a realidade rural e vai sendo atualizado ao longo dos tempos. Com as plataformas por aplicativos e a inteligência artificial, são destruídos empregos e direitos trabalhistas. Outro aspecto é a cultura que leva as pessoas a aceitarem condições degradantes de trabalho e ainda agradecerem, pois se sentem obrigadas a se submeterem a qualquer tipo de ocupação, até por um prato de comida para não passarem fome. O curioso é que acham que isso é normal. Essa ‘cultura’ acaba por dificultar o trabalho da justiça trabalhista”, pontua.
Sobre a parceria entre a PO e a Rede Jubileu Sul Brasil para realização do projeto, Marina afirma que a união das organizações permitiu atingir as diversas regiões do país onde a Pastoral Operária está inserida.
“Esse processo formativo contribuiu para a atualização de mulheres e homens, jovens e adultos, no sentido de aprofundarem e entenderem as causas e consequências de tudo o que acontece na sociedade a partir do que as filosofias neoliberais e fascistas promovem no mundo. Uma parceria extremamente importante entre a Rede e a Pastoral Operária”, avalia.
O público alvo dos encontros de formação são trabalhadoras e trabalhadores, militantes da Pastoral Operária e de movimentos parceiros (participantes do processo de Economia Popular Solidária, mulheres integrantes de projetos da Associação Santo Dias e do Instituto Nacional de Desenvolvimento Social e Qualificação Profissional – IDESQ). Em média, cada encontro tem reunido cerca de 20 participantes, beneficiando até o momento mais de uma centena de pessoas em todas as regiões brasileiras.
A ação “Promoção da justiça no mundo do trabalho” é financiada com recursos da União Europeia por meio da Ajuda a Terceiros, no âmbito da ação Fortalecimiento de la Red Jubileo Sur / Américas en el logro del desarrollo y de la soberanía de los pueblos latinoamericanos y caribeños.
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