Empresas mineiras ocupando territórios originários, indústrias de pesticidas comprometendo recursos naturais, hidrelétricas incrustadas em rios. Qual o preço de tudo isso? Quem, afinal, lucra? Quem perde? A Conferência Latino-americana sobre a Financeirização da Natureza acontece até amanhã (27) em Belém, Pará (região Norte do país) e discute o assunto. Presente no evento, a rede Jubileu Sul/Américas ressalta a importância de um debate profundo sobre o tema e reforça o quão ligados estão a questão da dívida e a lógica capitalista que trata a natureza como mais um produto.
Martha Flores, da rede Jubileu Sul/Américas (JS/A), explica que a situação no Brasil segue a mesma que ocorre em vários países da América Latina. As localidades mais empobrecidas, menos favorecidas, são sempre as escolhidas para a atuação de obras impactantes, sem nenhuma consulta prévia. O resultado disso é um novo formato de endividamento com os povos, que pagam caro pelas consequências. “As populações mais vulneráveis sofrem as consequências. E isto se soma aos processos de criminalização das lutas. Atenta contra os direitos humanos”, falou.
Segundo ela, quanto mais houver debates como estes, sobre a financeirização da natureza, mais elementos teremos disponíveis para fazer a conexão e expor essas novas formas de endividamento, na qual o estado tem participação ativa.
“A importância do debate dos processos de financeirização da natureza tem relevância para a rede porque faz parte da luta que historicamente estamos construindo. Estes processos estão intimamente conectados com as diferentes formas de endividamento que temos hoje”, diz se referindo ao trabalho desenvolvido pela rede acerca da dívida.
Martha acrescenta que a dívida hoje não só se limita ao campo financeiro propriamente dito. Os modelos de endividamento ganharam novos instrumentos que envolvem o econômico, mas agem por outras vias.
“Hoje nós nos referimos não só aos elementos econômicos quando falamos de dívida. São todas as formas de dívida: ecológica, social, cultural. Para o JS/A aprofundar o debate de proteção ambiental, vamos ver que o que está por trás é um processo de mercantilização da vida em todas as suas manifestações. Necessitamos falar e entender as múltiplas conexões que isto tem com a recolonização dos territórios”, disse Martha.
A perspectiva tanto do JS/A como da rede Jubileu Sul Brasil, também representada na Conferência, é ampliar a visão, colocar a luta, as resistências, alternativas que acontecem nos territórios. E visualizar o papel dos estados como cúmplice nesses processos.
A Conferência Latino-americana sobre a Financeirização da Natureza é realizada pela Fundação Heinrich Böll Brasil, em parceria com os escritórios do Cone Sul e México. O encontro é resultado de um processo de três anos que vem mobilizando redes, movimentos sociais, ambientalistas preocupados com o tema. Visitas em caravana a comunidades, debates e muitas reflexões fazem parte da programação do encontro que reúne aproximadamente 80 pessoas.
Amanhã, último dia, a Conferência será aberta ao público.
Para saber mais informações.
http://br.boell.org/pt-br