Em destaque estão as mulheres engajadas nas ações em comunidades como o Planalto Pici, Jangurussu, Palmeiras, Raízes da Praia, em Fortaleza (CE)
Por Marcos Vinicius dos Santos*
É comum observar nos jornais da mídia tradicional “especialistas” afirmando que não há como o Estado investir mais em seu povo, pois os gastos públicos estão no limite. A afirmação disfarça um problema antigo da nossa economia, que é o pagamento de juros da dívida pública, uma dívida que não foi criada pelo povo brasileiro, mas que se arrasta desde nossa Independência.
Com isso, os direitos da grande maioria da população ficam sempre colocados em segundo plano, como se fossem algo inatingível. Em meio a essas falsas afirmações, que reforçam o capitalismo predatório que sufoca o país, as ações desenvolvidas junto às mulheres em comunidades de Fortaleza (CE) buscam ampliar horizontes, dividindo com todas e todos as experiências de luta em prol do coletivo.
O Jornal Delas é parte do projeto “Mulheres em Defesa dos Direitos Sociais”, executado em parceria com a Rede Jubileu Sul Brasil em Fortaleza. Na sua primeira edição, as histórias contadas pelas mulheres focaram na organização de grupos de trabalho, e o processo de luta e conquista das Zonas Especiais de Interesse Social – ZEIS.
As ZEIS são áreas demarcadas no território de uma cidade, para assentamentos habitacionais de populações de baixa renda. A conquista da sua instituição teve o protagonismo das mulheres das comunidades de Fortaleza, que conseguiram incluir no plano diretor da cidade as pessoas vulneráveis, sempre invisibilizadas nos projetos de expansão.
O primeiro jornal trouxe também as mais diversas trajetórias de criação de grupos de trabalho e proteção às mulheres, com informações sobre como desenvolver ações parecidas em outras comunidades.
A segunda edição faz um balanço dessas atividades, com as avaliações das lideranças dos bairros sobre o trabalho realizado, além de apresentar outros grupos de mulheres que também atuam pela coletividade dos bairros.
Ao olhar para trás, é importante observar que a pandemia de Covid-19 só agravou o cenário de fragilidades em todo o nosso país, e é pela união e pela multiplicação das suas histórias e conhecimentos que muitas e muitos têm sobrevivido.
“O Brasil tem graves problemas estruturais resultantes do capitalismo predatório, do racismo e do patriarcado. As políticas públicas de direitos humanos e sociais acumulam uma defasagem histórica porque, não sendo prioritárias, não têm sido capazes de corrigir as desigualdades sociais, especialmente as de raça e gênero. No governo Bolsonaro, o cenário foi ainda mais grave devido à pandemia”, afrma na publicação a liderança Cícera Maria, do Inegra – Instituto Negra do Ceará.
O “Mulheres em Ação na Pandemia” realizou diversas reuniões virtuais, alertando sobre o avanço da doença nas comunidades, além de divulgar os meios de proteção e distribuir alimentos. Outra demanda importante reconhecida pelos grupos de trabalho foi a do atendimento psicológico àquelas que sofriam violência doméstica ou que enfrentaram uma enorme carga de problemas devido ao isolamento e insegurança.
Jana Melo, uma das psicólogas que realizavam esse atendimento, relata na segunda edição que “cada uma das mulheres que passou pelo projeto em 2021 trouxe seu mundo particular às sessões. Algumas em relacionamentos abusivos, casamentos por necessidades financeiras, crises de ansiedade e estados depressivos. Muitas nunca haviam feito acompanhamento psicológico”.
Você pode acessar as duas edições na nossa biblioteca (link abaixo). A publicação foi originalmente produzida pelo Jubileu Sul Brasil, com cofinanciamento da Cafod e da União Europeia.
*com supervisão de Flaviana Serafim.