Missão da ONU consolidou crime organizado como meio de controle da população, causou epidemia de cólera e uma série de violações de direitos humanos
Por Jubileu Sul/Américas*
Em 1º de junho de 2004, o Haiti foi invadido por tropas da Missão das Nações Unidas para Estabilização no Haiti (MINUSTAH), após o conselho de segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) aprovar a intervenção. As tropas permaneceram no país por 13 anos.
O contexto em que chega a MINUSTAH é o do segundo golpe de Estado contra o presidente Jean-Bertrand Aristide, no qual o governo dos Estados Unidos esteve envolvido, por meio da CIA (Central Intelligence Agency, o serviço de inteligência estadunidense) e do Instituto Republicano Internacional (IRI). Esta foi uma ação terrorista, na qual o exército estadunidense raptou Aristide e a sua família, e os enviou para a República Centro-Africana, onde foram detidos enquanto os EUA consolidaram um novo regime no Haiti.
O mandato original da MINUSTAH autorizou um contingente militar de até 6.700 militares de vários países, incluindo Brasil (que comandou a missão), Argentina, Bolívia, Canadá, Chile, Equador, El Salvador, França, Guatemala, Honduras, Indonésia , Jordânia, Nepal, Paraguai, Peru, Filipinas, República da Coreia, Sri Lanka, Estados Unidos e Uruguai, segundo dados ONU.
A MINUSTAH fazia parte de “um projeto global de remilitarização da Bacia do Caribe”, que utilizou a ameaça militar e novos instrumentos tecnológicos para consolidar seu domínio sobre a região, além de aprofundar o controle sobre os poderes do Estado.
Longe dos supostos objetivos de “estabilização”, o legado da MINUSTAH teve graves repercussões sobre o povo: não só aprofundou e apoiou a consolidação do crime organizado como instrumento de controle sobre a população, mas também garantiu o desmantelamento da institucionalidade do país. As tropas, com o apoio das Nações Unidas, foram responsáveis por crimes, entre os quais:
- Abuso sexual, principalmente contra mulheres, meninas e meninos;
- A introdução de uma epidemia de cólera no Haiti, com saldo de mais de 30.000 vítimas;
- Abandono paterno de filhos e filhas;
- O desvio de fundos destinados à reconstrução do país, após o terramoto de 2010;
- Violações dos direitos humanos.
As redes Jubileu Sul/Américas e Jubileu Sul Brasil vêm acompanhando as lutas do povo haitiano, e nos unimos às reivindicações por justiça e reparações. Abraçamos a luta e a resistência que nestes 20 anos o povo mantém viva por meio da mobilização social.
Unimo-nos à rejeição de uma nova intervenção militar e exigimos justiça, reparação e não repetição dos crimes cometidos contra o povo haitiano.
*Com edição e tradução do Jubileu Sul Brasil