Pautar o pensamento crítico e enfrentar as políticas que escondem relações de dominação, escutando o povo e compartilhando saberes há 45 anos no semiárido cearense. Essa tem sido a caminhada do Esplar para a educadora feminista da entidade, Magnólia Said.
O Esplar, Centro de Pesquisa e Assessoria, é uma organização não-governamental, fundada em 1974 em Fortaleza (CE), que atua no fortalecimento das organizações de trabalhadores e trabalhadoras rurais para incidência nas políticas públicas de interesse da agricultura familiar; na promoção da igualdade de gênero, com enfoque feminista, de classe e de combate à discriminação de raça e de etnia; pela justiça ambiental e qualidade de vida, a partir do direito à terra, à água e à biodiversidade; pelo desenvolvimento de sistemas agroecológicos; e pelo processamento e comercialização da produção agrícola na perspectiva da sócio-economia solidária.
“Nós sempre nos pautamos pela produção de pensamento aprendendo, estimulando e se colocando para além de assessores e assessoras, mas se colocando também como sujeitos políticos. Sempre foi assim, com agroecologia e o feminismo, nossas principais referências de trabalho”, disse Magnólia.
Para ela, o Esplar também contribuiu para que as mulheres se reconhecessem como feministas, tanto as rurais, como as mulheres indígenas mais recentemente. “Um dos temas mais interessantes do trabalho do Esplar é debater as questões estruturais, aquelas questões capazes de promover desajuste na vida das pessoas, para além das questões da agroecologia, para além das questões do feminismo, ou juntando isso tudo com outras questões que conformam ou que fazem um desenho ou quase um modelo de desenvolvimento”.
No final dos anos 1980, o Esplar coordenou uma campanha nacional sobre o perigo dos transgênicos, depois pautou a água, a transposição do Rio São Francisco. “O que significava trazer a água do São Francisco por outros caminhos para beneficiar grandes empresas às custas da sede do povo que morava inclusive no entorno do rio? Foi assim com a questão da Copa do Mundo no Brasil quando nós denunciamos os estragos produzidos nas comunidades, antes e depois da Copa, em especial à exploração sexual e o tráfico de mulheres”.
Em 1991, o Esplar iniciou a Rede de Intercâmbio de Sementes (RIS), que chegou a congregar mais de 14 mil pessoas em 15 municípios e um processo que culminou em mais de 60 Bancos de Sementes espalhadas em várias regiões do Estado.
A partir do ano 2000, a dívida pública também passa a ser debatida pelo Esplar. “Viemos trazendo esse debate mostrando como a dívida afeta a vida das mulheres em especial. Juntado a isso, a dívida produzida pelos empréstimos dos bancos multilaterais com toda vivência que nós tivemos a partir da Rede no Brasil sobre instituições financeiras”.
E é neste momento, que a articulação com a Rede Jubileu Sul Brasil se inicia. “Há uma fina ligação entre o trabalho do Esplar e do Jubileu a partir de todo o debate do modelo de desenvolvimento, acompanhamento e monitoramento de instituições financeiras como o Banco Mundial”, contou Rosilene Wansetto da Secretaria Executiva da Rede Jubileu Sul Brasil. Rosilene destaca o trabalho que o Esplar realiza com as comunidades indígenas e mulheres, com as organizações e os sindicatos que atuam no Ceará.
Agroecologia e feminismo
Em comemoração aos seus 45 anos de existência, o Esplar promoveu no dia 2 de agosto, apresentação e debate da tese de Ana Paula Ferreira, intitulada “Aproximação entre as perspectivas feminista e agroecológica potencializando processos de empoderamento das mulheres rurais brasileiras, a partir do território do Pajeú, Sertão de Pernambuco”. Além da apresentação de Ana, Sarah Luiza Moreira compartilhou os resultados de sua dissertação sobre “A Contribuição da Marcha das Margaridas na Construção de Políticas Públicas de Agroecologia no Brasil”.
“Elas trazem um debate muito inovador. Precisamos ficar atentos a esse novo jeito de falar da agroecologia a partir das mulheres. Em sua tese, Sarah trouxe a ideia de que as mulheres têm um papel fundamental na agroecologia, e isso foi se entrecruzando com a tese da Agroecologia e as mulheres. Foi um momento bastante interessante de convivência, de celebração, de encontro, de conhecer e aprender. Parabéns ao Esplar!”. Rosilene esteve na celebração dos 45 anos do Esplar representando a Rede Jubileu Sul Brasil e Américas.
Conheça o trabalho de resistência do Esplar: