A Rede Jubileu Sul Américas e Diálogo 2000 enviaram uma carta ao Papa Francisco em que apresentam as preocupações partilhadas por centenas de redes, movimentos e organizações populares na América Latina e no Caribe com relação à crise humanitária no Haiti. O documento chegou ao Vaticano poucos dias antes da conferência convocada pelo Papa Francisco, que será realizada no próximo dia 10 (domingo) para assinalar o quinto aniversário do terremoto que matou 230 mil pessoas e afetou um total de três milhões no Haiti.

O documento é assinado pelo Prêmio Nobel da Paz Adolfo Perez Esquivel e a Mãe da Praça de Maio -Linha Fundadora –  Nora Cortiñas dentre outros. O documento expressa a esperança de que a conferência ajude a pensar novas formas de relacionamento com o Haiti e destacou a urgência da retirada de toda a presença militar estrangeira e o fim da Minustah. “Acreditamos, como grande parte da população do Haiti, que essa presença constitui uma verdadeira ocupação  do país (e) sua retirada seria um passo imprescindível para a construção de um Haiti por e para o povo haitiano”.

A carta destaca ainda que o quinto aniversário do terremoto coincide com o que pode ser mais um elemento de agravamento da crise política no país. Com o fim do período estabelecido para o mandato parlamentar, o presidente eleito poderá governar por decreto. Diante da ameaça que se anuncia, os movimentos afirmam que, lamentavelmente, o prognóstico é de consolidação das estratégias de dominação e controle estrangeiro, incluindo a ocupação militar através da Minustah.

Entre as propostas recomendadas para consideração na conferência papal, além do retiro das forças de ocupação da Minustah, incluem-se as seguintes reivindicações:

– Justiça e reparação para as famílias e comunidades das vítimas da epidemia da cólera, incluindo planos para a universalização do acesso à água potável.

– Restituição por parte dos Estados Unidos do estoque de ouro roubado em dezembro de 1914 e reparação para todos os crimes cometidos;

– Restituição por parte da França da “dívida da independência” e reparação voltada para o estabelecimento de um sistema público de ensino (do pré-escolar à pós-graduação) e um sistema de pesquisa e de produção científica para a valorização das potencialidades do país;

– Anulação das dívidas imputadas ao Haiti atualmente pelas políticas de “ajuda” do Banco Mundial com o estabelecimento de projetos de mega-mineração, turismo de luxo e expansão da agroindústria exportadora.

– Abertura de espaço para o exercício pleno da soberania popular na definição de uma visão global de um futuro livre das chantagens da dívida, das Instituições Financeiras Internacionais, do departamento de Estado dos Estados Unidos e da União Européia, da orientação macroeconômica e do controle das instituições nacionais.

– Abertura de espaço para o exercício pleno da soberania popular nas definições político-eleitorais, sem a intromissão dos Eua, Canadá e França em especial, através da ONU/Minustah e da OEA, como se viveu tão fortemente nas eleições de 2010/2011 e nas políticas de desmonte institucional que se seguiram desde então.

– Brigadas e campanhas internacionalistas para apoiar, internamente e externamente, os processos de refundação durante os próximos dez anos.

A carta foi enviada ao Papa junto com três pronunciamentos recentes de várias entidades da região: “100 años de ocupación, 100 años de resistencia”(15/12/2014), Carta abierta de rechazo a la renovación del mandato de la MINUSTAH en Haití (octubre 2014) e Llamado a movilizarnos, 10 años de ocupación, ¡Basta!(junio 2014).

O texto completo da Carta está disponível em espanhol, inglês e francês no seguinte link.

 

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