CRISE E CONSEQUÊNCIAS OU CONSEQUÊNCIAS E CRISES
A maquiagem de um país!
San Salvador
2 de abril de 2020
Pensar neste momento sobre a situação mundial causada pelo coronavírus, saber quantas mortes diárias, observar a ação titânica dos médicos cubanos para salvar vidas, ler sobre os mortos e a soma diária em cada parte do mundo é incrível!
Como salvadorenhos, NÃO esperávamos presenciar a atitude de um presidente dono do mundo com sua economia, e não fazer mais para ajudar a impedir a mortalidade em sua nação norte americana, para ver como outros países estão lidando com a crise. Enfim, cada um fazendo sua parte para salvar vidas, e outros para que todos morram e possam controlar a população, de modo que o capitalismo mostrou mais uma vez que o que mais importa é salvar a economia e não o ser humano.
El Salvador não escapa desta situação. Um país com 7 milhões de habitantes, cerca de 5 milhões no país e cerca de 2 milhões na diáspora em qualquer lugar do mundo. Um país pequeno governado por um partido misturado com diferentes nuances ideológicas de centro, direita e esquerda, onde a aposta do governo é querer controlar toda a ação política, econômica, jurídica e judicial de sua majestosa onipresença, onde o centro das atenções seja sua personalidade, e o centro da ação para salvar a vida dos salvadorenhos seja o governo.
É o que aconteceu nestes 18 dias de quarentena no país. Pouca capacidade de organizar e incluir todo o sistema de proteção civil que custou tanto para ser construído, desde que o furacão Mitch mostrou como somos vulneráveis ao enfrentar os fenômenos climáticos como os causados pela mudança climática e, agora, com essa pandemia, coloca de volta os rostos da pobreza marcados no povo carente, trabalhadores e trabalhadoras, pequenos produtores e produtoras.
Passaram 28 dias depois dos Acordos de Paz, e o que essa pandemia mostra são os grandes cinturões da pobreza que saíram às ruas, obedecendo a mais uma promessa e mais uma mentira do presidente Nayib Bukele. Mostra que a pobreza, a falta de cultura e a falta de organização podem ampliar a contaminação pelo vírus, tratada com muito cuidado com medidas repressivas e coercitivas, mas as pessoas estavam em suas casas vivendo com falta de alimentos, água, higiene.
Claro que, se olharmos numa perspectiva humanista, o problema mostrado nas ruas em 30 de março está apenas evidenciando o acúmulo de riqueza, a falta de equidade e os retrocessos dos poucos sistemas sociais criados nos governos da Frente Farabundo Martí para Libertação Nacional (FMLN), que ficaram sem ação nessa pandemia – esses programas, como o Fundo Solidário para a Saúde (Fosalud), os governadores, os sistemas de proteção civil nos níveis municipal e comunitário, a secretaria técnica de planejamento e outros programas sociais, que agora deveriam estar na vanguarda da ação social, ajudando ao setor de profissionais de saúde. Porém, é hora de recuperar todos esses programas e mostrar que sua política e sua onipresença não ajudarão em nada a controlar a propagação do vírus.
El Salvador precisa da solidariedade de todas e todos, mas que governo chame para organizar com todos os setores, principalmente com as forças vivas dos movimentos sociais e populares, instituições de ajuda humanitária, ONGs, igrejas e outras entidades representativas do país. Somente você, Senhor Presidente, não poderá fazê-lo. Recupere em si mesmo os valores de reciprocidade, pactuação e humildade para reconhecer que, com suas visões egoístas, egocêntricas e fanáticas, você não será capaz de sair dessa pandemia que viola El Salvador.