“Um Estado nacional, que nasce com base no trabalho escravo, no latifúndio e na exportação ao mercado internacional à custa da fome do povo, tem muito a reparar, não acham?”
Sandra Quintela I Economista, educadora popular e membro da coordenação da Rede Jubileu Sul Brasil*
Dívidas sociais e reparações é tema central das ações desenvolvidas pela Rede Jubileu Sul Brasil e suas entidades-membro. Mas quando falamos de reparações estamos falando de quê? E dívidas sociais? Às vezes se entende reparação como indenizações.
Pauta importante nos movimentos negros, as reparações históricas para o povo preto descendentes de escravizados, por exemplo, não se trata de pagar por tantas vidas esmagadas pelo sistema brutal de escravidão. Não tem dinheiro no mundo que pague por isso! Quando se fala em reparação, parte-se do princípio de que é preciso reconhecer que há algo a consertar, corrigir, retratar, ressarcir, remediar.
Um Estado nacional, que nasce tendo por base o trabalho escravo, no latifúndio e na exportação de mercadorias para o mercado internacional à custa da fome de seu povo, tem muito a reparar, não acham?
Essa estrutura fundante do Brasil foi gerando, ao longo de sua história, inúmeras dívidas e ,dentre elas, destacamos as dívidas sociais. Temos insistido que cada centavo que é pago da dívida financeira aumenta a dívida social. A parte do orçamento público que vai para a remuneração do capital financeiro, pelo pagamento de juros e amortização dos títulos da dívida pública, foi cerca de R$ 1,96 trilhão em 2021, 42% a mais do que foi pago em 2020. E mesmo assim a dívida aumentou em cerca de 708 bilhões de Reais de um ano para outro. Escândalo!
E para a reforma agrária, para o combate à violência contra as mulheres, para a moradia Praticamente nada! Na escala dos milhares, e não dos milhões, bilhões ou trilhões que vão para o capital financeiro. Cada centavo desses poderia ir para aumentar a qualidade de vida do nosso povo e, em particular, das mulheres que são as mais pobres das pobres. Muita coisa para consertar, corrigir e ressarcir, e enfrentar o pagamento dos juros e amortização da dívida pública pode ser um bom começo!
*Artigo publicado originalmente na revista Ação Mulheres.
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