Movimento também está lançando a campanha emergencial “Salve a Amazônia” em apoio às ações de distribuição de água potável para as populações atingidas pela pior seca da história recente
Coletivo Nacional de Comunicação do MAB
Neste 05 de setembro, que marca o dia da Amazônia, o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) realiza uma grande jornada de lutas no país em defesa das populações atingidas pelo atual modelo econômico, que promove a destruição da biodiversidade amazônica, contribuindo para a intensificação dos extremos climáticos.
Da Amazônia até o Rio Grande do Sul, 18 estados terão atos para reivindicar atendimento emergencial às demandas das populações afetadas pela pior seca da história recente na Amazônia, que tem deixado comunidades sem água, alimentos ou mesmo transporte. Além disso, os atos vão reivindicar mais segurança, escuta ativa por parte do poder público, participação e reparação justa, seja nos casos de seca, crimes ambientais ou enchentes.
No mesmo dia será lançado um manifesto em Defesa da Amazônia, assinado por mais de 200 organizações, redes e parlamentares. O documento tem por objetivo chamar atenção para a grave crise ambiental desencadeada pela atuação de transnacionais do setor do agronegócio, da mineração e da energia na região, causando graves impactos na vida dos atingidos, como precarização da saúde e insegurança hídrica.
“As mudanças do clima atingem toda a classe trabalhadora e, com maior força, os setores mais empobrecidos, racializados como não-brancos e que vivem nas localidades periféricas ou de risco. Os que menos contribuem com as alterações no clima são os mais atingidos, tendo como consequência perdas e danos de diferentes ordens e grandezas”, afirma Elisa Mergulhão, integrante da coordenação do MAB.
De acordo com o Movimento, as populações atingidas têm sido vítimas, não só da operação de grandes empreendimentos que violam sistematicamente os direitos das comunidades em que atuam, mas também da impunidade destas empresas – nos casos dos crimes ambientais como o do Rio Doce em Minas Gerais e Espírito Santo, em que os atingidos aguardam reparação há quase uma década. Além disso, os efeitos das mudanças climáticas causadas pela degradação ambiental, tornam seus territórios ainda mais vulneráveis. É o caso das secas extremas, queimadas e cheias devastadoras que deterioram a renda, a saúde e a dignidade da população em todo o país.
Pior seca da histórica recente
A seca no Brasil, entre 2023 e 2024, é a “mais intensa da história recente”, segundo o Centro Nacional de Monitoramento de Desastres Naturais (Cemaden). Todos os municípios do Acre já decretaram situação de emergência e o estado de Rondônia decretou situação de escassez hídrica, enquanto os rios Negro e Solimões, no Amazonas, atingem níveis críticos de vazante. O aumento dos focos de incêndio é outra consequência do menor volume de chuvas na região. Segundo o Painel de Queimadas do Governo do Amazonas, até 19 de junho foram registrados 539 focos, um aumento de 140% em relação ao mesmo período do ano passado. Por isso, desde o mês de junho, o MAB vem realizando uma série de articulações com órgãos públicos para discutir ações de enfrentamento à estiagem e combate às queimadas e assistência às famílias em situação de vulnerabilidade.
“É preciso avançar imediatamente para que o Estado brasileiro e os governos (federal, estaduais e municipais) destinem recursos públicos e forte apoio às populações atingidas”, afirma Gilberto Cervinski. Entre as medidas necessárias para proteger a população da região, o Movimento dos Atingidos por Barragens destaca a imediata distribuição de água potável e alimentos, auxílio emergencial, remédios e atendimento de saúde, implementação de sistema de transporte alternativo para localidades isoladas e segurança no abastecimento de energia. Além do reforço no combate às queimadas e desmatamento.
O Rio Madeira atingiu a cota de 1,2 m durante a madrugada da última terça-feira (3): o menor nível já registrado nos últimos 60 anos. O MAB tem acompanhado as comunidades ribeirinhas que enfrentam dificuldade de acesso à água potável, e nos deslocamento e escoamento da produção. “Existe uma grande possibilidade de falta de abastecimento de água e de alimento. Nós estamos cobrando do poder público municipal, estadual e federal um atendimento e acompanhamento através de ações concretas para com as comunidades, nesse momento de crise hídrica e de seca do maior rio, do maior afluente do Rio Amazonas”, alerta Océlio Muniz, integrante do MAB.
Océlio ainda alerta sobre outra possibilidade: a falta de abastecimento de água em Porto Velho (RO). “Aqui é a maior população urbana do estado e corre o risco seríssimo de ter racionamento de água. Aliás, isso já tá se concretizando em vários bairros da cidade, já falta água há dias, né? A nossa grande preocupação é que o poder público municipal, estadual e federal não tem feito ações efetivas para amenizar essa grande crise das populações atingidas”, finaliza.