Por Marilda Ferri e Iasmin Santan, de Salvador (BA)
“Sem justiça social não há paz”. Enfatizou Nora Cortiñas em seu encontro com estudantes da Universidade Estadual da Bahia (UNEB), na manhã de ontem, dia 13 de julho. A ativista de direitos humanos foi homenageada pela instituição e durante a sua conferência falou com os/as alunos/as sobre ditadura, política, direitos das mulheres e minorias. A atividade faz parte da programação da Jornada de Direitos Humanos e Democracia, que acontece em Salvador até o dia 16.
O encontro contou com a interação dos jovens fazendo perguntas e comentários. A ativista os encorajou a ter uma atuação política e crítica. “Eu não entendia nada de política até antes do golpe de Estado na Argentina. Mas, ao me encontrar com as outras mães, foi uma aprendizagem para eu entender melhor a política e entender melhor o meu filho e os jovens que querem se dedicar à política e também à militância. Os jovens militam para mudar o mundo, são militantes da vida e da justiça social”, afirmou Nora.
Nora criticou o governo do presidente Maurício Macri, no poder desde dezembro de 2015. “Nesse governo de direita neoliberal, vivemos um retrocesso social e econômico”, disse. Sobre a realidade brasileira, Nora considera que há um movimento de golpe de Estado. “Aqui no Brasil, nós acompanhamos o processo com Lula, com Dilma e víamos que o país vinha progredindo. Mas não há motivos para tirá-la como fizeram, com um golpe de Estado. De nenhuma maneira. Não aceitamos e repudiamos que tenham tirado uma presidenta constitucional, com um golpe de Estado”, enfatizou.
Sobre as mulheres, Nora ressaltou a importância de suas lutas, lembrando que além das perdas dos filhos para a violência, muitas ainda são vítimas do machismo e da violência. E ouviu atentamente o relato do professor do Departamento de Ciências da Vida da UNEB, Anderson Carvalho, que lembrou o caso das mães do Cabula, bairro que abriga um dos campi da UNEB, onde ocorreu uma chacina de jovens negros em fevereiro de 2015. Para ele, a vinda de Nora ao bairro ressalta a importância na continuidade da luta por justiça social. “Aqui nós tivemos a chacina do Cabula, que matou uma dezena de jovens e, no ano passado, tivemos campanhas de solidariedade às famílias, e obviamente, o que tem ocorrido neste ano, em relação à perseguição dos negros e LGBT. Nós aqui na universidade queremos abrir esse debate sobre a violência contra as minorias, e como podemos combater isso. A vinda de Nora traz essa inspiração”, disse o professor.
As reflexões sobre direitos humanos e justiça social continuaram também na parte da tarde, quando representantes de diversos movimentos e organizações sociais (Movimento dos Sem Terra – MST, Movimento Sem Teto da Bahia – MSTB, Jubileu Sul, Jubileu Sul Argentina, Rede Feminista de Saúde, Grupo Tortura Nunca Mais, Associação de Moradores e Amigos da Chácara Santo Antônio – AMACHA, Cáritas Regional NE3, ADUNEB e Mães pela Diversidade), do PSOL e de grupos de extensão da UNEB se reuniram para uma roda de conversa com Nora. Ela expôs sobre o contexto histórico na época da ditadura da Argentina e todas as consequências negativas desse período que perduram até hoje, como a falta de respostas sobre os desaparecidos, e o trabalho perseverante das Mães da Praça de Maio.
Se identificando com o relato de Nora, mulheres representantes da ADUNEB, do MSTB e da AMACHA deram depoimentos sobre as diversas situações de violações que sofrem diariamente professores/as, mulheres e jovens negros/as, LGBT, com atos de violência, principalmente da polícia, e o preconceito da sociedade. Nildes Sena, da AMACHA, expressou que existem muitas “Noras” aqui no Brasil e pediu “que sejamos respeitados independentemente das nossas escolhas”. Dona Rita, do MSTB, se solidarizou com Nora dizendo que a dor dela pelo desaparecimento do seu filho também é a dor das mulheres que estão perdendo seus filhos vítimas de assassinatos.
Participantes de outros movimentos e organizações também falaram sobre as ações que desenvolvem nos campos políticos e sociais na defesa da democracia e dos direitos humanos e o alerta para a necessidade de unificar as lutas, pois “a luta é de todos, mesmo que com bandeiras diferentes”, ressaltou Bete, representante do MST.
No final do encontro, todos e todas repetiram juntamente com Nora Cortiñas as palavras de ordem que as Mães de Maio usam quando de reúnem na praça, sendo uma delas: “Hay que seguir luchando”.
A Jornada é uma realização da rede Jubileu Sul Brasil, Instituto Políticas Alternativas para o Cone Sul (PACS) e rede Jubileu Sul/Américas.
Confira a agenda da Jornada de Direitos Humanos e Democracia:
14/07 – quinta-feira
13h30 – Campo da Pólvora – Homenagem às vítimas das ditaduras
15h30 – Forte Barbalho – Plenária Popular
15/07 – sexta-feira
Dia livre
16/07 – sábado
8h30 às 9h30 – Encontro com as Pastorais Sociais no Convento São Francisco (Pelourinho)