Aulas do curso “Mulheres e Economia”abordam a conjuntura atual, fatores geradores da dívida pública no sistema capitalista e como essa realidade afeta a vida das mulheres.
Por Marcos Vinicius dos Santos*
Entender o funcionamento do atual sistema capitalista é fundamental para combater o avanço das políticas neoliberais que buscam desobrigar o Estado a fornecer direitos básicos à população. Essa tem sido a motivação do curso “Mulheres e Economia” desde a sua primeira edição há 17 anos.
Em todas as suas edições o Instituto PACS (Instituto Políticas Alternativas para o Cone Sul), responsável pela organização e realização da iniciativa, buscou criar nos encontros um ambiente de troca de experiências e saberes, partindo do ponto de uma economia política feminista. O tema da primeira aula foi a “Construção conceitual: economia, feminismo e racismo”. As participantes foram convidadas a se organizarem em grupos para discutir sobre três questões principais: economia, feminismos e racismo.
O primeiro encontro contou com as contribuições de Aline Lima, educadora popular e coordenadora do Instituto PACS e Sandra Quintela, economista, educadora popular e articuladora da Rede da Rede Jubileu Sul. “A dívida afeta diretamente as mulheres, porque é na sociedade patriarcal que as mulheres são responsáveis pela dimensão do cuidado. Pelo cuidado das crianças, das pessoas idosos, da casa”, explicou Sandra Quintela.
A economista é uma das fundadoras do curso “Mulheres e Economia” e atualmente presidenta do Instituto PACS. Sandra vê como fundamental essa visão feminista do sistema capitalista, para o entendimento de como a economia está constantemente jogando a responsabilidade de inúmeras funções somente às mulheres.
“Quando você tem um Estado que privilegia o pagamento da dívida financeira em detrimento de construir melhores condições de vida para as pessoas, o que nós vemos é a vida das mulheres afetadas”, afirmou.
Há uma grande parcela das famílias brasileiras que são chefiadas por mulheres e, além disso, esse trabalho do cuidado é invisibilizado, também como uma construção capitalista, que prejudica em muito a todas, em especial as mulheres negras, parcela da população que paga a maior carga tributária do país e que vê muito pouco retorno de sua contribuição.
“Na medida em que a saúde pública, a escola pública, a universidade pública, são precarizadas, tudo isso contribui. Por exemplo, em cidades como Rio de Janeiro e Salvador 40% das famílias são chefiadas por mulheres. Você imagina o que é canalizar recursos públicos que vem do povo para banqueiros e não para atender as necessidades básicas da população brasileira? Então, por isso que afeta diretamente mulheres”, concluiu a educadora popular.
Essa é a segunda vez que o curso é realizado de maneira virtual, com participação de mulheres de todo o país. Os encontros tiveram início na última semana de agosto e seguirá até o dia 10 de outubro. Ao todo serão 7 módulos, com aulas sempre nas quartas-feiras, das 14h às 17h.
Entre os temas abordados estão a economia feminista, o modelo de desenvolvimento e a dívida pública, divisão sexual do trabalho, megaprojetos, saúde da mulher, agroecologia e agricultura urbana e autogestão nos territórios.
O curso “Mulheres e Economia 2021” é fruto de uma parceria entre o Instituto PACS e a Rede Jubileu Sul/Américas, fazendo parte da ação de Fortalecimento da Rede e suas organizações membro, com cofinanciamento da União Europeia.
*Com supervisão de Jucelene Rocha