Partindo de vivências do cotidiano, Coletivo de Mulheres do Jubileu Sul Brasil promoveu cinco encontros virtuais sobre o tema. Participantes serão multiplicadoras, ampliando o debate junto a mulheres nos territórios em diferentes regiões do país
Debater a dívida pública pode parecer complexo, distante da realidade, algo repleto de “economês” e restrito a “especialistas”. Superando desafios de discutir essa questão, a dívida pública e seu impacto na vida das mulheres foi o tema central da ciranda de estudos realizada no Coletivo de Mulheres da Rede Jubileu Sul Brasil.
Partindo da realidade cotidiana, o ciclo formativo de cinco encontros virtuais, mostrou que a dívida é o eixo que sustenta o capital, e sua conexão com o acúmulo de riquezas que gera desigualdades. Mostrou também que a dívida é base histórica da exploração, da opressão dos povos e conectada com a dominação patriarcal, conjunto que afeta principalmente as mulheres.
Os estudos foram realizados com base na revista “A dívida pública e seu impacto na vida das mulheres”, produzida pelo Jubileu Brasil e que será lançada em breve. Entre outras questões contempladas na publicação, a ciranda de estudos discutiu as estruturas de poder que legitimam a dívida pública, as instituições financeiras multilaterais, a farsa do pagamento ao Fundo Monetário Internacional (FMI), modelos de desenvolvimento, o ajuste na vida das mulheres e as alternativas existentes à chantagem do endividamento.
Ação multiplicadora
A partir dessa formação, as participantes serão multiplicadoras em seus territórios, ampliando e levando a discussão às mulheres de diversas regiões do país. Membro da Rede, a advogada agrarista e feminista Magnólia Said uma das responsáveis pelos conteúdos da publicação, ressalta que a linguagem a partir do cotidiano das mulheres é essencial para que educadoras populares tratem da complexidade do tema.
“Temos que partir do cotidiano de fato, da vivência das mulheres, do que elas estão fazendo e como estão se relacionando, seja dentro de casa, no mercado, na escola. E daí que sai o fio para chegar ao debate sobre a dívida, partindo de coisas simples para problematizar e não chegar dizendo ‘vamos falar de dívida externa”, pontua Magnólia.
Nesse sentido, a discussão aprofundou como o endividamento retira recursos do Orçamento, afetando serviços públicos como saúde, educação, saneamento, políticas de enfrentamento à violência e ainda causando desemprego, baixos salários, informalidade e retirada de direitos, entre outros problemas que as mulheres enfrentam e sentem na pele.
Ainda segundo Magnólia, o próximo passo é ampliar o debate para aprofundar a temática “não só quanto aos impactos da dívida no Brasil, mas também as experiências de outros países que trazem elementos para amadurecer uma estratégia coletiva maior do que uma estratégia nacional”
Transformar a realidade, combater desigualdades
No último encontro, as participantes do Coletivo compartilharam suas impressões sobre a ciranda. Elas destacaram a importância da formação, de conectar o debate com o dia a dia, e também a relevância do acolhimento, da unidade entre as mulheres e do esperançar, além da consciência do papel de cada uma no embate.
“Precisamos incorporar nos nossos debates no dia a dia e traduzir onde estamos militando, dizer o quão grave e essa questão da dívida interna e externa, de como esses mecanismos estão tirando direitos e aprofundando mais as desigualdades, a violência contra a classe trabalhadora, contra as mulheres, contra a população negra, contra os povos indígenas”, diz Tânia Inês Slongo.
Para Maria Beatriz de Oliveira, a ciranda de estudo “foi um lindo exercício circular. Começamos um pouco tímidas, com receio de utilizar os recursos online, mas prevaleceu a confiança, a coragem que as mulheres trazem de experimentar e desafiar, colocando nossas bandeiras de luta à frente”. Bea afirma que as mulheres seguirão unidades nos encontros dos Coletivo, “refletindo de forma crítica os impactos do capitalismo em nossas vidas e na circularidade dos princípios da educação popular. Com respeito, amorosidade, solidariedade e alegria saímos renovadas para continuar na resistência”, completa.
Na avaliação de Gilvanda Soares, foi impactante aprofundar os conhecimentos e saber o quanto o problema da dívida está próximo das mulheres, e caminho para se pensar novas estratégias de por meio da formação, das resistências políticas e articulações “contra esse sistema tão perverso que mata mulheres e adolescentes”. Gil acredita “que um novo mundo é possível, que nós mulheres temos esse papel fundamental e podemos através das lutas, seja a luta local, nas nossas bases, nacionais, internacionais, mudar esse mundo. A mensagem que deixo para todas nós é essa: vamos esperançar”.