Por Cristina Fontenele, Adital*

A Rede Jubileu Sul, em parceria com um coletivo de entidades, organiza o “Seminário Nacional Sobre o Haiti: Construindo Solidariedade”. O evento acontece entre os dias 22 e 23 de maio, em São Paulo, e marca o repúdio dos movimentos sociais brasileiros e haitianos pelos 10 anos de ocupação das tropas da Missão das Nações Unidas para Estabilização no Haiti (Minustah) no país caribenho. O seminário tem como objetivo intensificar a pressão para que o governo brasileiro, que é líder da Minustah, retire suas tropas do país e também planejar ações coletivas da Campanha Permanente de Solidariedade com o Haiti.

Segundo o Jubileu Sul, apesar da pressão das organizações, o governo brasileiro mantém silêncio em relação à retirada das tropas do Haiti.

O seminário deve produzir um documento com uma série de ações a serem realizadas até outubro deste ano. Serão planejadas audiências e reuniões com a Embaixada do Haiti, o Congresso e o Itamaraty. Também estão previstas intervenções políticas junto a Organização das Nações Unidas (ONU).

Em entrevista à Adital, Rosilene Wancetto, da Rede Jubileu Sul Brasil, denuncia que o governo brasileiro mantém silêncio em relação à retirada das tropas do Haiti. “Mesmo com a pressão exercida por diferentes movimentos sociais, percebemos que não há resposta alguma do governo.” Para Rosilene, a Minustah é entendida como “força de guerra” e impede a soberania do país e a autodeterminação do povo haitiano.

Participarão do seminário cerca de 90 pessoas, representantes de mais de 30 organizações de vários estados brasileiros. Um grupo de haitianos também estará presente, contribuindo com depoimentos sobre as condições de trabalho, moradia e vulnerabilidade social que enfrentam como migrantes no Brasil. São provenientes de estados como o Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Acre e Amazonas.

Rosilene comenta que também será uma oportunidade para a denúncia das condições de exploração da mão de obra dos migrantes. Ela revela que existem haitianos em cidades, como Caxias do Sul [Rio Grande do Sul] e Londrina [Paraná], por exemplo, vivendo em situação de precariedade.

Dados indicam que, em média, 20 migrantes, principalmente haitianos, chegam por dia ao Brasil, através da fronteira do Peru com o Acre. Em entrevista à Adital Miguel Borba, do Instituto Políticas Alternativas para o Cone Sul (PACS), integrante da rede Jubileu Sul Brasil, diz que há um “jogo de empurra-empurra” entre as autoridades dos diversos níveis federativos. Ele cita que não há uma política pública definida para lidar com essa questão. “Chegam migrantes com diploma, falando três idiomas, mas não conseguem emprego no mercado formal e acabam em condições precárias.”, comenta.

Também participarão do seminário delegações de moradores dos Complexos de Favelas do Alemão e da Maré, no Rio de Janeiro, para discutirem o processo de militarização, tanto no Haiti como o que vem se instalando nas favelas cariocas, por meio das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP). A ideia é traçar um paralelo entre as forças militares presentes no Haiti e nas favelas brasileiras.

Seminário vai debater a situação dos migrantes haitianos no Brasil e a militarização das favelas, a exemplo do que ocorre no Haiti.

Borba comenta que as tropas presentes nas favelas da Maré e do Alemão são as mesmas que participam do processo no Haiti. Ele aponta que a militarização não é a melhor solução e que é preciso outra abordagem. A militarização dos territórios estaria intimidando a população. Ele observa que já são mais de 80 episódios envolvendo desavenças com soldados e abuso de autoridade no Rio. Nesses casos, o cidadão é julgado pela justiça militar, sem acesso à justiça comum. “A população é vista como inimiga do Brasil, uma vez que o papel do Exército é defender o país de ataque estrangeiro.”, destaca.

Locais do Seminário:
Dia 22 de maio – Sindicato dos Jornalistas de São Paulo (Rua Rego Freitas, 530, 1º andar, República – São Paulo)
Dia 23 de maio – Defensoria Pública do Estado de São Paulo (Rua Boa Vista, 200, auditório térreo – São Bento – São Paulo)
Informações:secretaria@jubileusul.org.br / 11 3112-1524
*Cristina Fontenele
Estudante de Jornalismo pela Faculdades Cearenses (FAC), publicitária e Especialista em Gestão de Marketing pela Fundação DomCabral (FDC/MG).
E-mailcristina@adital.com.br
crisfonte@hotmail.com

Deixe um comentário