Com representantes de comunidades atingidas diretas e indiretamente pelos impactos da Copa do Mundo, a rede Jubileu Sul Brasil realizou hoje, dia 15, o debate “BRICS: um banco a mais pra quem?”. A atividade faz parte do encontro “Diálogos sobre Desenvolvimento: os BRICS na perspectiva dos Povos”, que acontece paralelo à 6ª Cúpula dos BRICS, que reúne em Fortaleza, Ceará, nordeste do Brasil, as principais instâncias financeiras do Brasil, África do Sul, China, Índia e Rússia.
Contextualizando o debate, Marcela Vecchione, da Rede Brasil, falou sobre os BRICS, reforçando que o bloco só repete um modelo excludente e exploratório como outros sistemas financeiros já conhecidos. Ela chamou a atenção para o fato de não haver diálogo com a sociedade civil sobre um assunto de extremo interesse.
“Os países dos BRICS são uma coisa, é um bloco econômico, não quer dizer que a maior parte das pessoas que vive nesses países pense que sejam bom pra elas. Não é um país como um todo, mas um bloco econômico que tem representantes ligados a um sistema financeiro”, explicou Marcela.
Entre os/as participantes, o debate gerou em torno do que é propriedade pública e privada ante a criação do BRICS, com várias críticas aos modelos financeiros que são impostos às populações pobres e excluídas do Brasil, e que só se repetirão com um modelo semelhante como o proposto pelos BRICS. “A corda sempre arrebenta do lado mais fraco, no final é sempre a gente que vai ter que pagar e pagar caro”, falou Alessandra Costa, integrante do Movimento de Conselhos Populares do Caça e Pesca.
Para Weyne Thiago, integrante do Movimento dos Conselhos Populares do Conjunto Palmeira, tanto os BRICS, quanto a Copa não trouxeram nem vão trazer resultados positivos. “A Copa não trouxe [resultado positivo]. É preciso que a sociedade esteja organizada e na luta, se não acontecer não haverá mudanças”. A participação popular em toda a construção dos BRICS também foi assunto. Marcela lembrou que, só para se ter ideia, todo o processo não teve participação de representantes governamentais, por exemplo, que lidem com questões sociais. “Não tem ministros de Desenvolvimento Social, quanto mais participação da sociedade civil”, frisou.
Não devemos. Não pagamos
A economista Sandra Quintela, da Políticas Alternativas para o Cone Sul (PACS) e rede Jubileu Sul Brasil, falou sobre a cartilha “Copa para que (m) – Quem vai pagar a conta?”, lançada durante a atividade. Ressaltou que quando se trata de questões financeiras envolvendo direitos dos povos há uma ligação que precisa ser reforçada para que se possa estar preparado para um debate.
Para um pergunta provocativa sobre quais os legados da Copa, as respostas dos e das participantes foram imediatas: Dívidas, obras não acabadas, despejos, repressão aos movimentos populares, criminalização dos movimentos sociais, abuso de autoridade, aumento do custo de vida, concentração de renda, exclusão, exploração sexual de crianças e adolescentes e prostituição infantil, entre outras.
“O Brasil não gasta nem um bilhão de reais em Reforma Agrária e gastou quase dois em segurança. Dobrou o número de professores, dobrou o número de médicos? O estado burguês tem o interesse do monopólio da violência em todos os seus aspectos”, salientou. Sobre os BRICS, ela disse que poderia ser uma pauta em prol dos e das trabalhadores. “Mas não, é uma pena, uma realidade perdida”.
A atividade se encerrou com várias colocações e com a certeza de que a articulação dos movimentos sociais e sociedade civil organizada será essencial nesse contexto onde o que está em jogo são os e as cidadãs e que cidade queremos para o país. E resumiu: “Não devemos. Não pagamos!”.