O alerta sobre a fome e a destruição do Brasil, que avançam a galope, é ensurdecedor, no entanto muitos parecem não escutar esse estrondo. Mas, por quê?
Tirando aqueles que estão de conluio com este governo genocida, uma parte significativa está em estado de inércia, sem saber quais rumos tomar diante de tanto ataque sistemático, realizado por este desgoverno.
Existem evidências no contexto social de que o Brasil revive o aprofundamento do ataque de Choque encampado por setores da classe dominante nacional e internacional, assim como foi na ditadura chilena (1973) de Pinochet.
Trata-se da “Doutrina do Choque”, isso é, um país sofre ataques – que posteriormente são identificados como um golpe de Estado – em que seus desdobramentos levam a um programa de desregulação da economia; privatizações; destruição dos direitos humanos; ataque sistemático aos movimentos sociais desembocando no controle social, o que intensifica também o controle dos aparelhos ideológicos, além de abrir caminho para diversas formas de violência de Estado. Em síntese, este país está sob o efeito do Choque ultraliberal, desenvolvido pela Escola de Chicago.
Mesmo em meio a uma crise estrutural – que pode ser identificada na América Latina -, o capitalismo se vale da superexploração da força de trabalho e retirada de direitos trabalhistas, da precarização da manutenção da vida, para tentar saciar a necessidade do capital financeiro, que é insaciável, por altos rendimentos, na busca pela realização das exigências especulativas das bolsas de valores.
Como diz o jargão “a crise é dos ricos, mas só os pobres que se lascam”, e no governo de Bolsonaro, essa pauta foi ainda mais elevada, só os pobres morrem de fome, vivem o agravamento da crise sanitária, sofrem com a falta de assistência e são jogados à própria sorte.
Estamos vivendo um acirramento da disputa por fundos públicos. Estes fundos estão sendo saqueados da população e destinados ao poder privado empresarial, colocando o Brasil na contramão da tendência de governos em todo o mundo que estão dispendendo atenção e recursos às suas populações neste momento tão singular que passamos por conta da pandemia de covd-19.
Na última terça-feira, 23, o governo federal enviou ao congresso uma medida provisória que tem o objetivo de agilizar a privatização de estatais como Correios e Eletrobrás. Sabemos os efeitos nefastos das privatizações na vida do povo, que resulta no aumento de custo de vida e na precarização do atendimento. Tudo isso para liberar recursos públicos para serem direcionados ao mercado financeiro, além de liberar mais recursos para pagar a dívida pública para banqueiros e investidores.
Enquanto isso, a taxa de desemprego no Brasil chegou a 14,1% final do ano de 2020, sendo a maior desde 2012 para os meses de setembro a novembro. Essa porcentagem representa cerca de 14 milhões de pessoas sem emprego. E a expectativa para os próximos períodos é de agravamento dessa situação.
Nesta semana, quando o número de mortes em decorrência da covid-19 no Brasil ultrapassou 250 mil, o Senado colocou em discussão a PEC Emergencial para que se tenha condições fiscais para o retorno do pagamento do auxílio emergencial.
O que à primeira vista, e de forma geral, parece ser benéfico às pessoas que mais vêm sofrendo com as consequências da pandemia, na verdade, era um grande ataque ao povo brasileiro. Um dos pontos que integravam essa proposta retirava a obrigatoriedade dos investimentos mínimos em saúde e educação da Constituição Brasileira. Depois da pressão social sobre esse absurdo, o ponto será retirado da PEC.
Esse absurdo de tentar abster o Estado brasileiro de garantir saúde e educação à sua população faz coro à tentativa de mercantilizar a vacina, tornando um produto consumível por poucos e inacessível aos pobres e gravemente afetados pela pandemia.
Esses são reflexos que fortalecem a estratégia bolsonarista de teoria do choque, retirando da classe trabalhadora o mínimo de bem-estar social e desarmando o povo no processo de resistência à exploração e ao genocídio capitalista.
Contra todo esse cenário de morte a resposta é indignação, união e rebeldia
É preciso recolar a vida no centro debate. Mas em um projeto de morte que prioriza armas, em um momento que sua população clama por vacina, não existe espaço para discutir vida e direitos. É urgente a derrubada desse projeto genocida que hoje aí está.
Escutar e fazer ecoar o clamor daqueles que sofrem com os despejos silenciosos; dos que são atingidos por desastres climáticos- como está acontecendo no estado do Acre-; os que são oprimidos pelas milícias que ganham cada vez mais legitimidade e atuam violentamente nas periferias (principalmente com o aumento potencial de armas do último período), é mais que uma ação emergencial.
Incitar o espírito de rebeldia em quem vem lutando pela sobrevivência, seja por tentar garantir seu arroz com feijão ou por quem tem que buscar por cilindros de oxigênios, seringas e sedativos, uma luta sinalizada pela sobrevivência, é o compromisso pela vida na sua forma mais essencial.
Construir a unidade dos que lutam por direitos e dignidade, tecendo as ferramentas de resistência, na poesia da luta: “é a volta do cipó de aroeira. No lombo de quem mandou dar”.
Rede Jubileu Sul Brasil, 26 de fevereiro 2021