Ricardo Gebrim*
José Serra, golpista que usurpa o cargo de Ministro das Relações Exteriores, retomou contatos para “oferecer” o Centro de Lançamento de Alcântara no Maranhão aos Estados Unidos. Por sua determinação, o embaixador do Brasil em Washington, Sérgio Amaral, iniciou negociações sobre o assunto com o subsecretário de Assuntos Políticos do Departamento de Estado norte-americano, Thomas Shannon, ex-embaixador em Brasília.
Vamos remontar os fatos para compreender a gravidade desta notícia que passou desapercebida pela grande imprensa.
Por sua localização geográfica, próxima à Linha do Equador, a Base de Alcântara assegura que foguetes consigam colocar satélites em órbita mais rapidamente, com economia de combustível e dinheiro.
Os EUA já tentaram isso antes
Ao final do governo Fernando Henrique Cardoso, foi firmado um acordo com os EUA, profundamente lesivo aos nossos interesses nacionais. Longe de assegurar qualquer transferência de tecnologia, os EUA estabeleciam várias proibições ao Brasil, como: lançar foguetes próprios da base, firmar cooperação tecnológica espacial com outras nações, ter acesso à tecnologia que seria usada em Alcântara e direcionar para o desenvolvimento de satélites nacionais o dinheiro obtido como pagamento pelo uso da base. Outra cláusula assegurava que só os técnicos e militares estadunidenses teriam acesso às instalações. E o mais perigoso. Permitia a presença de um contingente militar em nosso território.
A notícia causou profunda indignação popular. Os movimentos e entidades que organizaram o Plebiscito Popular sobre a ALCA, em 2002, incluíram na consulta uma pergunta sobre o acordo da Base de Alcântara. Mais de 10 milhões de brasileiros participaram do maior plebiscito popular que já realizamos em nosso país. 98,59% foram contra o acordo.
Acordo com a Ucrânia
O governo Lula, através do então Ministro de Ciência e Tecnologia, Roberto Amaral, corajosamente rompeu o acordo com os EUA, deixando de submetê-lo ao Congresso Nacional. Tomaram a opção de firmar um novo acordo com a Ucrânia, que possibilitava a transferência de tecnologia e não impunha nenhuma das restrições estadunidenses, especialmente a presença de militares. A meta estabelecida previa o lançamento dos foguetes Ciclone-4 a partir do Centro de Alcântara, com a criação de uma empresa binacional.
O WikiLeaks revelou um telegrama escrito em 2009 pelo então embaixador dos EUA em Brasília, Clifford Sobel, em que manifesta ao diplomata ucraniano a desaprovação ao acordo, deixando claro que não aceitariam nada que “possibilitasse a transferência de tecnologias de foguetes para o Brasil”.
Com o “golpe de novo tipo” na Ucrânia, em 2014, instalando um governo aliado aos EUA, o acordo firmado com o Brasil foi sendo esvaziado, inviabilizando o processo que nos permitiria lançar, com tecnologia própria, um Satélite Espacial Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas (SGDC), que seria nossa principal iniciativa de defesa nacional.
Indícios de sabotagem
É necessário recordar ainda outros fatos. Em 1997, foi testado o nosso primeiro protótipo do Veículo Lançador de Satélites (VLS-1). Explodiu poucos segundos após a decolagem. Em 1999, outro teste e mais uma explosão. Na terceira tentativa, em 22 de agosto de 2003, nem deu tempo de começar a contagem regressiva. O foguete explodiu três dias antes do lançamento, quando estava sendo preparado na Base de Alcântara. Jamais conseguiram provar a sabotagem em nenhum dos casos, mas a suspeita vai além das teorias conspiratórias. A explosão do terceiro VLS matou 21 técnicos e engenheiros altamente especializados, destruindo toda uma geração dos melhores cientistas nesta tecnologia decisiva para nossa defesa.
As linhas estratégicas definidas pelo Comando Conjunto Militar dos Estados Unidos apostam na construção de Bases Militares, utilizando como pretexto a cooperação e parceria tecnológica. Se tropas estadunidenses se instalarem em nosso território, sob qualquer pretexto, estaremos diante da pior traição à Pátria. Um acordo firmado com os EUA pelo governo golpista de Temer é a mais grave ameaça à nossa soberania nacional.
*Ricardo Gebrim é da direção nacional da Consulta Popular.