Amanheci com um rasgo de esperança no Chile que tanto admiro, seja por sua beleza, seja pelas pessoas que conheci há muitos anos: aquelas que sobreviveram à ditadura do maldito Pinochet, a juventude que foi em massa para as ruas, no que se chamou Revolta dos Pinguins. A força que me levou solidária à manifestação, já nos anos de 1980, correndo entre as ruas, para não ser arremessada pelos jatos de água que vinham dos tanques.
Imaginar as tantas mulheres que foram afogadas no lago da Villa Grimaldi, identificadas depois por uma flor e outras – mulheres, homens e crianças – contorcidas em uma torre, à espera do momento que as levaria à câmara de gás… Impossível esquecer tudo isso! Agora estão vingadas.
Pesa em meu coração, a tristeza de pensar que os ventos que atravessam as cordilheiras chilenas, não trarão para nosso país, o chamado que Violeta Parra nos faz de “volvermos a los 17”, sentirmos em um instante fecundo, todas las ganas para nos libertar a nosotros y nosotras, de tanta violência e servidão.
Que VIVA Chile!
*Magnólia Said é educadora feminista, advogada, técnica do Esplar e membro da coordenação da Rede Jubileu Sul Brasil.