Aumento das desigualdades, endividamento do país e das pessoas, alta da inflação, corrupção não investigada, polarização político-partidária, aumento da violência, terrorismo de Estado, desinvestimento em ciência, educação, cultura e tecnologia, decretos que reforçam os poderes do Executivo de forma arbitrária, Congresso capturado e Judiciário recuado.
A radiografia do Brasil de 2020-2021 traz uma mensagem direta: “o gato subiu no telhado!”. Onde e como estará o gato em 2022?
Estamos encerrando o ano com mais de 60% da população brasileira vacinada contra a Covid-19, mas a chegada e propagação de mais uma variante, agora a Ômicron, assim como já tivemos a Delta e outras, reacende o sinal de alerta mundial e faz borbulhar na cabeça da população dúvidas incessantes e desconfianças compreensíveis a respeito da capacidade da comunidade internacional para reagir de maneira cientificamente adequada, politicamente ética e economicamente justa a esse novo cenário. O avanço da vacinação dos países europeus e norte-americanos — já na terceira dose — evidencia as diferenças com os países da África — com apenas 7% da população vacinada — e América Latina e Caribe que nem chegaram a 50% da população vacinada com a primeira dose.
A quem interessa termos variantes do coronavírus circulando, especialmente nos países pobres? Por que países ricos ainda não levaram a sério o compromisso humanitário e ético de garantir vacina para todas as pessoas, do hemisfério Norte ao hemisfério Sul do planeta? Quantas vacinas mais os governos terão que comprar da indústria farmacêutica ávida para lucrar com a doença? Qual será ao final de tudo isso o endividamento nacional com os “custos da pandemia”?
No Brasil, vamos nos despedir de 2021 sem saudades e com um saldo negativo para a esquerda que não conseguiu articular as forças políticas e populares a ponto de provocar o impeachment do presidente Jair Bolsonaro, agora filiado ao partido Liberal (PL). Quem diria? A ironia dessa decisão de filiação de Bolsonaro ao PL está implodindo a popularidade do presidente e o desqualifica ainda mais para a corrida presidencial de 2022, que está apenas em seus primeiros capítulos.
No cenário da resistência política, no lugar do “Fora Bolsonaro” agora ecoa o “Bolsonaro Nunca Mais!”. Teremos nos próximos meses a saída de cena de Bolsonaro do centro do poder político? O fato é que vamos terminar o ano com a população brasileira mais empobrecida e com as desigualdades sociais ainda mais acirradas, por isso mesmo, com um cenário mais propício para a recepção calorosa de um novo “salvador da pátria”. É disso que a população precisa? Essa receita já deu certo em algum país, do ponto de vista das populações vulnerabilizadas? Nessa disputa vamos aceitar o avanço de outras forças políticas também alinhadas ao bolsonarismo?
O Partido dos Trabalhadores (PT) vem ensaiando alianças arriscadas para o pleito de 2022, talvez o ambiente que convencionou-se chamar de terceira via também ganhe nova fisionomia. Nesse contexto, Lula seria o candidato da esquerda ou o candidato da chamada terceira via? Desse modo, será que teremos mesmo uma opção política de oposição ao modelo político e econômico neoliberal e predatório que venha a garantir os direitos fundamentais da população empobrecida e excluída ou tudo se resumirá ao “mais do mesmo”?
Indicadores do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgados recentemente dizem que o desemprego caiu, mas as pessoas seguem sofrendo com a fome, a ponto de termos recorrentes ataques a caminhões de lixo em busca de restos, de ossos. Vivemos sob um sistema que coloca pobres contra pobres, sob as consequências de uma construção política que desencoraja a união popular até mesmo na hora da fome extrema. Por que na década de 1970 havia saques a supermercados e hoje o que vemos são ataques a caminhões de lixo?
O endividamento do país, apenas para pagar os juros da dívida pública já passa de R$ 400 bilhões, e essa dívida não foi contraída para realizar políticas sociais necessárias à população. O orçamento para 2022 também é uma verdadeira tragédia para o país, com cortes assombrosos em áreas essenciais como educação, ciência e tecnologia. Mera semelhança ou repetição de uma estratégia também utilizada no cenário brasileiro de 1964?
A memória histórica nos deixa em estado de alerta. Revisitar o passado e reinventar o futuro, talvez essa seja a verdadeira terceira via necessária para o país que em momentos convulsionados inspirou o poeta e compositor Belchior a gritar nos versos eternizados na voz de Elis Regina: “Eles venceram e o sinal está fechado pra nós que somos jovens”.
Mas, nem só de lamentos vive a sociedade organizada ou movimentos populares que lutam contra um modelo político e econômico que gera desigualdades, exclusão e morte. Sim teremos um Natal sem despejos! Seguimos acreditando na organização popular que resiste na luta por comida no prato, geração de emprego e renda, acesso à saúde, educação e garantia de direitos.
Para a Rede Jubileu Sul Brasil, 2021 deixa marcas profundas no avanço de ações nos territórios, junto às mulheres, às pessoas economicamente excluídas dos centros de poder, na articulação e trabalho coletivo com parceiros, aliados e entidades membro que têm em comum a certeza de que é possível construir um projeto popular para o Brasil, com anulação e reparação das dívidas econômica e social e contra toda forma de dominação capitalista, patriarcal, sexista e depredatória.
A vitória do povo acontece nas resistências, nas conquistas que se concretizam com a partilha de forças, saberes e experiências que trazem em si as sementes da transformação. Que elas brotem vigorosas e nos tragam uma nova primavera em 2022! Seguiremos apostando na informação de qualidade, promovendo formação nas bases e alimentando a animação em todos os lugares onde as lutas acontecem. Adelante!
Não devemos, não pagamos!
Somos os povos, os credores!
Rede Jubileu Sul Brasil, 07 de dezembro de 2021