Não há dúvida, nos últimos anos o Brasil foi refém de políticos, empresários, magistrados, militares e conglomerados de comunicação, que seguindo religiosamente a cartilha neoliberal saquearam o país de diversas maneiras. “Desigualdade impulsionada pelo mercado é fonte de progresso”. Essa é a tese que encorajou o empresário bolsonarista e investidor do agronegócio, Winston Ling, a afirmar que o Brasil precisa de “mais desigualdade, não menos”. O texto publicado na conta de uma rede social do empresário causou espanto geral há cerca de um mês e revela as entranhas perversas do capitalismo que agoniza e busca desesperadamente novas fronteiras de exploração.
Não precisamos de mitigação da desgraça, como gostam de propagandear setores de comunicação com matérias programadas para legitimar a desigualdade e impulsionar o “milagre” do empreendedorismo. A população brasileira precisa de governos comprometidos com a justiça social, a defesa dos direitos humanos fundamentais — saúde, educação, moradia, trabalho, cultura —, dos direitos da natureza e a garantia do funcionamento saudável das instituições democráticas.
Onde estiveram as instituições que deveriam proteger a Constituição Cidadã de 1988 nos últimos quatro anos no Brasil? O que assistimos com indignação e alarme nesse período foi uma sucessão de graves violações de direitos humanos, agravadas pelo patrocínio e bênção do setor financeiro e do agronegócio que lucram com a miséria e a fome. A omissão escandalosa do poder Judiciário, a atuação predatória e vergonhosa do poder Legislativo em flagrante compadrio com o Poder Executivo, completam o cardápio do colapso político, econômico e social que enfrentamos.
Se antes a via do Judiciário representava uma esperança para defensores e defensoras dos direitos humanos e cidadãos, atualmente os fatos revelam as fragilidades e ambiguidades que contaminam tribunais da primeira instância até o Supremo Tribunal Federal (STF).
Há pouco mais de um mês para as eleições majoritárias, após quatro anos de desmonte das principais políticas de inclusão social e no campo socioambiental, temos questões graves a resolver e a levar em consideração na hora do voto: como ficará a questão da demarcação dos territórios dos povos originários? Como vamos resolver a questão da escalada de violência no campo que atinge especialmente os povos tradicionais e originários? Como vamos restituir direitos trabalhistas gravemente golpeados? Como vamos gerar emprego e acabar com a fome e com a miséria? Qual será o futuro da educação e da cultura que agonizam no país? Como vamos sair do cenário de inflação e carestia? Qual será o caminho para retomarmos um programa social capaz de viabilizar moradia e comida no prato? Como vamos pautar um orçamento que priorize políticas públicas e não o pagamento dos juros da dívida pública que enche os cofres de banqueiros e empresários do setor de serviços financeiros? Como reconectarmos o Brasil no cenário geopolítico internacional em transformação, diante da disputa por novos mercados ente Estados Unidos e China, especialmente? Como voltar a fortalecer as lutas regionais na América Latina, diante das grandes economias mundiais que nos engolem?
A sociedade civil organizada segue nas ruas, nas periferias, nas quebradas e vielas, nos grandes centros urbanos e nas cidades esquecidas construindo caminhos de transformação, consciência crítica e ampliação do compromisso pessoal e coletivo com a soberania nacional e garantia da dignidade e igualdade de direitos para todas as pessoas. A luta pelos direitos humanos, por justiça socioeconômica e socioambiental é justa e está viva!
Não há tempo a perder, é hora de unir forças e repovoar o Congresso Nacional e as Assembleias Legislativas com lideranças políticas engajadas nas lutas que de fato interessam à população brasileira e comprometidas com um projeto popular para o Brasil. Mais do que nunca as eleições proporcionais jogam um papel fundamental. É tempo de um compromisso maior e prioritário com as mulheres, a população negra, os povos tradicionais e originários que precisam de representantes legítimos nos espaços de poder político e econômico. O compromisso de colocar na cadeira presidencial uma candidatura que represente a possibilidade de diálogo, interesse e determinação em reverter o grave quadro do aumento da pobreza e da fome, estratégias para colocar o país no caminho do crescimento sustentável e competência para restituir a credibilidade do Brasil diante da comunidade internacional é simplesmente inadiável.
Não devemos, não pagamos!
Somos os povos, os credores!
Rede Jubileu Sul Brasil, 30 de agosto de 2022.