Série de seis encontros reuniu participantes de todas as regiões do país para aprender, trocar e partilhar experiências sobre tecnologias de informação e comunicação – TICs

Por Flaviana Serafim – Jubileu Sul Brasil

O Jubileu Sul Brasil promoveu uma série de oficinas voltadas à apropriação do conhecimento e ao empoderamento quanto às tecnologias de informação e comunicação – TICs. O objetivo foi incentivar o uso destas ferramentas e da linguagem audiovisual pelas mulheres para divulgação de ações de suas comunidades, além de denúncias e incidência nos territórios. 

A jornalista Luciana Araujo, formadora das oficinas de comunicação (SP)

Nos seis encontros, realizados aos sábados entre 19 de setembro e 7 de novembro, a atividade engajou as participantes do Coletivo de Mulheres da rede, além da presença de mulheres de outras organizações, reunindo representantes de todo o país. Funcionamento e segurança nas redes sociais, plataformas de transmissão ao vivo, de reuniões virtuais, gravação e edição de vídeos, e as etapas de produção audiovisual foram os principais assuntos abordados na formação.

Ao longo das oficinas, as participantes gravaram seus próprios vídeos, levando em conta cinco temas prioritários – divisão justa do trabalho doméstico, crise sanitária e atendimento à saúde da mulher, o papel da segurança pública na temática da violência contra a mulher, solidariedade e transformação do cotidiano, plantas medicinais e autocuidado. Os conteúdos reunidos serão editados e lançados oportunamente pelo Jubileu Sul Brasil.

A jornalista Luciana Araujo, militante do Movimento Negro Unificado (MNU), da Marcha das Mulheres Negras de São Paulo e do PSOL, foi a responsável pela formação. Ela destaca que, diante da pandemia e o isolamento social, esse empoderamento representa autonomia “de poder se expressar, de denunciar e colocar publicamente questões que afligem as mulheres, que as preocupam e que pode, inclusive, salvar vidas”, como nos de violência contra as mulheres que podem ser denunciados e publicizados.

Também salva vidas quando conhecimentos de outras áreas são compartilhados entre as mulheres, diz Luciana. “Como o conhecimento sobre as plantas, agroecologia, sobre saúde e condições de atendimento onde essas mulheres estão localizadas. Além da autonomia de fazer por si próprias, pode significar uma ação de intervenção política concreta muito importante”.

Secretária executiva do Jubileu Sul Brasil, Rosilene Wansetto explica que a proposta das oficinas partiu de uma demanda do próprio Coletivo de Mulheres, e a rede abriu a oportunidade de participar da formação a todas as mulheres das organizações membro por conta da importância desse conhecimento.

Rosilene, do Jubileu Sul Brasil (SP)

“Essa demanda feita pelas mulheres do Coletivo foi muito acertada e o Jubileu Sul Brasil aceitou o desafio de realizar num momento em que a pandemia nos coloca desafios novos, de experimentar novas formas de nos comunicar, de nos encontrar e de fazer o debate”.   

Para além do empoderamento, Rosi ressalta a importância da comunicação como ferramenta estratégica para que as mulheres possam produzir informação sobre as violências vividas. 

“O uso dessas ferramentas é estratégico e, além da utilização das TICs, o aprendizado gera autonomia para as mulheres pautarem suas lutas, resistências, para se comunicarem. Também debatemos o significado da comunicação nos dias atuais para as mulheres, movimento sociais e articulações, que foi interessante por discutir as ferramentas para construção, e também a crítica dos usos para destruir nossas democracias, nossos processos históricos, de lutas e resistências”, pontua.

Maria Eliane, da Aldeia Cajueiro (CE)

TICs em prática no campo e na cidade, na aldeia e na comunidade

O aprendizado e a troca de experiências das oficinas já estão em prática no dia a dia das participantes, tanto na vida pessoal quanto nas ações de militância e na luta cotidiana por direitos.

“Quando nos empoderamos com essas ferramentas podemos contribuir com nossa aldeia, e, fora dela, serve para divulgar muitas ações positivas e também negativas, como violação dos direitos das mulheres e dos direitos indígenas e até para nos manifestarmos sobre determinados assuntos”, cona Maria Eliane da Silva Gomes, indígena Tabajara da Aldeia Cajueiro, em Poranga (CE), que é professora e coordenadora da Associação dos Povos Indígenas da Aldeia Cajueiro – AICA.

Ela também ressalta a importância da troca de experiências, que permitiu conhecer “novas histórias de mulheres guerreiras em luta por melhorias de suas comunidades, aldeias, de seu povo”, e espera que esse compartilhamento continue.

Marina, da CPT
Centro Norte (BA)

Moradora de Juazeiro (BA), Marina da Rocha Braga, agente da Comissão Pastoral da Terra (CPT) avalia que, no contexto de pandemia, o empoderamento feminino quanto às TICs é ainda mais necessário pela importância da comunicação como estratégia no trabalho educativo, no registro, na sistematização e divulgação das experiências, das lutas e nas denúncias feitas por sua equipe. 

Marina relata que as oficinas “trouxeram informações e dicas importantes e despertaram a vontade de aperfeiçoar os conhecimentos nessa área. Saio com mais segurança, principalmente na gravação e edição de pequenos vídeos que darão grande contribuição na minha atuação enquanto mulher negra, educadora popular e agente da CPT junto às comunidades tradicionais, especialmente com as mulheres e jovens”.

Inclusão, integração e partilha de conhecimentos

Marta, da CPT (GO)

Agente voluntária da CPT e residente em Goiânia (GO), a cearense Francisca Marta Jacinto se define como uma amante das câmeras, e que as oficinas reforçaram seu desejo de continuar a estudar e a garantir espaço. Ela diz que, seja no campo ou na cidade, as mulheres têm que se apropriar “pois as tecnologias vêm transformando nossas vidas no cotidiano e a pandemia provou que temos que avançar nisso. Muitas mães não conseguiam ajudar os filhos nas atividades escolares remotas ou manusear aplicativos para participar reuniões on line e por aí vai”.  

Maria Cristina dos Anjos mora em Brasília (DF) é assessora nacional da Cáritas Brasileira, onde coordena o tema da migração e refúgio, e explica que a formação trouxe avanços aos seus conhecimentos prévios de tecnologia, permitindo a ela compartilhar o aprendizado e as orientações com outras companheiras, como no caso dos vídeos.

Maria Cristina, da Cáritas Brasileira (DF)

“Além do contato com grupos e pessoas provocando o diálogo, é um instrumental relevante por permitir às mulheres saírem do isolamento, serem incluídas e participarem nas discussões, processos de incidência e debates, principalmente os que dizem respeito a elas”, completa a assessora da Cáritas.

“Isso sem falar de ampliar as relações. Conheci outras mulheres, companheiras que, como eu, tinham dúvidas, vontade de conhecer mais, de se preparar melhor e abertas ao conhecimento, com a tranquilidade de partilhar essas dúvidas, os interesses. Mais que o conhecimento, as oficinas trouxeram integração, articulação com outras mulheres e, consequentemente, com suas histórias”, conclui.

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