De que maneira nós mulheres atuamos na resistência, nos reagrupamos e nos aquilombamos? A pergunta lançada pela Deputada Estadual recém eleita Mônica Francisco (PSOL) ecoou na roda de cerca de 30 mulheres de várias regiões do estado do Rio reunidas na I plenária Mulheres e Agroecologia. A cinco dias do segundo turno que decidiu as eleições presidenciais, entre os dias 23 e 24 de outubro, integrantes do Grupo de Trabalho Mulheres da Articulação de Agroecologia do Rio de Janeiro buscavam vislumbrar estratégias de resistência e fortalecimento.
Do manejo com as plantas medicinais, ornamentais, não convencionais, à fabricação de sabão, mel, compotas, passando pela organização de feiras agreoecológicas por fora dos espaços convencionais de comercialização, pelo cultivo de hortas comunitárias, quintais coletivos e redes de consumo, as mulheres ali reunidas atestam uma realidade irrevogável, embora invisível para boa parte da “cidade”: a produção em larga escala, o latifúndio, o manejo de veneno e a comercialização nos circuitos privados dos supermercados não é a unica maneira de se produzir comida.
Uma das preocupações centrais do grupo diz respeito à continuidade desse circuito produtivo. “Pra gente, comercializar não é só vender, mas compartilhar experiências. É algo que plantamos, colhemos, beneficiamos e comercializamos com uma grande quantidade de valores agregados. Quando não podemos fazer isso, quando a agricultura urbana e familiar é invisibilizada, vivemos um processo de desenraizamento, uma dinâmica de fazer perder a identidade”, completa Mônica.
Além disso, a busca por dar visibilidade ao protagonismo das mulheres que compõem essas redes, formais ou informais, de produção agroecológica é outro desafio permanente. Aline Lima, coordenadora do Instituto Pacs e integrante do GT desde a fundação, ressalta que o grupo nasceu com essa motivação. “Para nós que historicamente estamos na linha de frente das ocupações, da luta pela terra, no campo e na cidade, e que somos responsabilizadas pelas tarefas de cuidado e de reprodução da vida, era e ainda é urgente, nos fortalecermos mutuamente para enfrentar o patriarcado, para dizer que nosso trabalho tem valor, para tomar a frente nas decisões dos rumos das coisas”, explica.
A falta de assistência técnica voltada para as agricultoras é outra preocupação. Segundo analisa Generosa Oliveira, da cooperativa Cedro e do grupo executivo da AARJ, a crise político e econômica consolidada com o impeachment da presidenta Dilma Rousseff acelerou o processo de desmonte dos projetos voltados para esse tipo de ação, além de resultar no fechamento de várias escolas agrícolas. As denúncias incluem ainda o sequestro de águas para fins comerciais, a falta de saneamento básico, a pressão da especulação imobiliária que resulta em remoções forçadas, a sobrecarga de trabalho imputada às mulheres.
Para o grupo ali reunido, sobram ameaças e denúncias do impacto negativo das ações do Estado e do capital privado sob a produção agroeocológica mas abundam também “anúncios”, como gostam de chamar. A formação de redes de cuidado que apontam para o fortalecimento mútuo das mulheres e o resgate de formas de viver ligadas a uma memória ancestral de resistência são alguns dos destaques. Como explica Rosinha Alvarenga, agroecologia é muito mais do que plantar, do que colher: “É toda a atitude que embala e constrói o bem viver”.
Reunidas em torno de uma faixa feita ali mesmo coletivamente com os dizeres: “Pela democracia”, amparadas umas as outras das angústias que as cercam nesse período pré e pós eleições, reafirmaram o cuidado como estratégia de resistência. “As redes de cuidado são fundamentais. Elas são muito femininas e fundamentais para a sobrevivência da mulher. Essas redes também incluem as dimensões de afeto, carinho, mas são, sobretudo luta”, ressalta um dos encaminhamentos elaborado coletivamente.
Conheça a AARJ
A Articulação de Agroecologia do Rio de Janeiro existe desde 2006 e reúne milhares de agricultores e agricultoras portadores de experiências em agroecologia no campo e na cidade, moradores e moradoras das regiões Metropolitana, Serrana, Serramar, Costa Verde e Médio Paraíba. É composta por coletivos e organizações de base, sindicatos de trabalhadores e trabalhadoras rurais, organizações da sociedade civil, professores, pesquisadores, estudantes e consumidores.
Do manejo com as plantas medicinais, ornamentais, não convencionais, à fabricação de sabão, mel, compotas, passando pela organização de feiras agreoecológicas por fora dos espaços convencionais de comercialização, pelo cultivo de hortas comunitárias, quintais coletivos e redes de consumo, as mulheres ali reunidas atestam uma realidade irrevogável, embora invisível para boa parte da “cidade”: a produção em larga escala, o latifúndio, o manejo de veneno e a comercialização nos circuitos privados dos supermercados não é a unica maneira de se produzir comida.
Uma das preocupações centrais do grupo diz respeito à continuidade desse circuito produtivo. “Pra gente, comercializar não é só vender, mas compartilhar experiências. É algo que plantamos, colhemos, beneficiamos e comercializamos com uma grande quantidade de valores agregados. Quando não podemos fazer isso, quando a agricultura urbana e familiar é invisibilizada, vivemos um processo de desenraizamento, uma dinâmica de fazer perder a identidade”, completa Mônica.
Além disso, a busca por dar visibilidade ao protagonismo das mulheres que compõem essas redes, formais ou informais, de produção agroecológica é outro desafio permanente. Aline Lima, coordenadora do Instituto Pacs e integrante do GT desde a fundação, ressalta que o grupo nasceu com essa motivação. “Para nós que historicamente estamos na linha de frente das ocupações, da luta pela terra, no campo e na cidade, e que somos responsabilizadas pelas tarefas de cuidado e de reprodução da vida, era e ainda é urgente, nos fortalecermos mutuamente para enfrentar o patriarcado, para dizer que nosso trabalho tem valor, para tomar a frente nas decisões dos rumos das coisas”, explica.
A falta de assistência técnica voltada para as agricultoras é outra preocupação. Segundo analisa Generosa Oliveira, da cooperativa Cedro e do grupo executivo da AARJ, a crise político e econômica consolidada com o impeachment da presidenta Dilma Rousseff acelerou o processo de desmonte dos projetos voltados para esse tipo de ação, além de resultar no fechamento de várias escolas agrícolas. As denúncias incluem ainda o sequestro de águas para fins comerciais, a falta de saneamento básico, a pressão da especulação imobiliária que resulta em remoções forçadas, a sobrecarga de trabalho imputada às mulheres.
Para o grupo ali reunido, sobram ameaças e denúncias do impacto negativo das ações do Estado e do capital privado sob a produção agroeocológica mas abundam também “anúncios”, como gostam de chamar. A formação de redes de cuidado que apontam para o fortalecimento mútuo das mulheres e o resgate de formas de viver ligadas a uma memória ancestral de resistência são alguns dos destaques. Como explica Rosinha Alvarenga, agroecologia é muito mais do que plantar, do que colher: “É toda a atitude que embala e constrói o bem viver”.
Reunidas em torno de uma faixa feita ali mesmo coletivamente com os dizeres: “Pela democracia”, amparadas umas as outras das angústias que as cercam nesse período pré e pós eleições, reafirmaram o cuidado como estratégia de resistência. “As redes de cuidado são fundamentais. Elas são muito femininas e fundamentais para a sobrevivência da mulher. Essas redes também incluem as dimensões de afeto, carinho, mas são, sobretudo luta”, ressalta um dos encaminhamentos elaborado coletivamente.
Conheça a AARJ
A Articulação de Agroecologia do Rio de Janeiro existe desde 2006 e reúne milhares de agricultores e agricultoras portadores de experiências em agroecologia no campo e na cidade, moradores e moradoras das regiões Metropolitana, Serrana, Serramar, Costa Verde e Médio Paraíba. É composta por coletivos e organizações de base, sindicatos de trabalhadores e trabalhadoras rurais, organizações da sociedade civil, professores, pesquisadores, estudantes e consumidores.