“Psicóloga não é coisa de maluco!”. Lideranças compartilham a importância, os desafios e experiências de apoio psicossocial nos territórios da “Ação Mulheres por reparação das dívidas sociais”
Por Flaviana Serafim – Jubileu Sul Brasil
“O acolhimento psicossocial não é só o atendimento, mas estar junto, estar no coletivo, estar nas comunidades. E não estamos falando só de autocuidado, mas de autocuidado coletivo”. A afirmação é da psicóloga Karla Monteiro, que na noite deste 4 de outubro mediou a formação virtual sobre apoio psicossocial para articuladoras, psicólogas e outras lideranças que integram a equipe da Ação Mulheres por reparação das dívidas sociais.
Articuladora em ocupações de Belo Horizonte, Karla abriu o painel destacando a importância do apoio psicossocial e da criação de vínculos neste processo, numa “revolução a partir do afeto porque nos faz agir e não reagir”.
Após a abertura, pela mediadora Alessandra Miranda, assessora técnica nacional da ação, a convidada da formação foi Jana Said, psicóloga, psicanalista e psicopedagoga. Ela atua no acolhimento psicossocial nas comunidades de Fortaleza (CE), onde os pequenos grupos há dois anos vêm construindo uma rede de apoio entre as mulheres participantes.
Said falou dos desafios para atendimento virtual, do ideal à realidade prática enfrentada nos territórios – desde violência doméstica à pressão familiar, passando pelo acúmulo de tarefas, distância e transporte que impedem a saída de casa, às interferências religiosas e preconceitos vividos pelas mulheres simplesmente por buscarem apoio à saúde mental.
“É necessário que a família entenda sobre a importância do espaço de escuta da mulher dentro de casa, por isso a busca por trazer a família para entender que diálogo com psicóloga não é coisa de maluco”, diz Said. Mesmo com os desafios, Jana celebra os resultados alcançados em dois anos de atendimento, que “tem mudado a forma como elas têm se percebido na comunidade, nas relações”.
Escuta e autocuidado
Na roda virtual, as participantes compartilharam como tem se desenvolvido e quais as especificidades do atendimento psicossocial nos diferentes territórios, as estratégias de aproximação e de escuta das mulheres.
A relevância da escuta e do autocuidado das próprias articuladoras, mobilizadoras e outras profissionais envolvidas na ação também foram destacados pela coletiva. “Há a importância de se escutar porque as respostas não estão na psicóloga, mas na própria fala, no processo da mulher se auto escutar”, pontua Karla Monteiro.
Ao final, a assessora técnica nacional da ação, Alessandra Miranda, recomendou o livro “O palhaço e o psicanalista”, de Christian Dunker e Cláudio Thebas, como referência metodológica.
A próxima reunião está programada para às 9h30 do próximo dia 4 de novembro (sexta-feira).
As iniciativas da Ação Mulheres por reparação das dívidas sociais ocorrem numa parceria entre o Jubileu Sul Brasil, 6ª Semana Social Brasileira (SSB) e Central de Movimentos Populares (CMP), com apoio do Ministério das Relações Exteriores Alemão, que garantiu ao Instituto de Relações Exteriores (IFA) recursos para implementação do Programa de Financiamentos Zivik (Zivik Funding Program).
As ações também integram o processo de fortalecimento da Rede Jubileu Sul Brasil e das suas organizações membro, contando ainda com apoios da Cafod, DKA e cofinanciamento da União Europeia.
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