Por Flaviana Serafim I Jubileu Sul Brasil
Formação, mobilizações contra a violência à mulher, exposição, série de vídeos, documentário, ação nas redes sociais. O Centro Dandara promoveu uma série de atividades marcando os 20 anos de atuação das Promotoras Legais Populares (PLP) em São José dos Campos e a fundação do centro, em dezembro de 2001.
As atividades integram o projeto “20 Anos PLP São José dos Campos”, realizado de junho de 2020 até agosto deste ano com apoio da Rede Jubileu Sul Brasil, como parte da ação de ajuda a terceiros cofinanciada pela União Europeia por meio do projeto Fortalecimento da Rede Jubileu do Sul/Américas na conquista do desenvolvimento e soberania dos povos da América Latina e do Caribe.
Devido à pandemia, o projeto sofreu ajustes e mudanças para se adaptar à conjuntura, como explica Marcela de Andrade, diretora executiva do Centro Dandara. “No contexto da pandemia, foram priorizadas as atividades remotas. Contudo a tarefa é bastante desafiadora, tanto pelas dificuldades tecnológicas e de acessibilidade enfrentadas pelas mulheres e pelo público em geral, quanto pelo próprio adoecimento da população, seja por Covid-19 ou pelos desdobramentos psicossociais deste momento”, afirma.
Sobre os desafios enfrentados, a diretora executiva do Dandara conta que não foi fácil realizar as ações frente aos vários adoecimentos, “perdas de amigos e companheiras de luta, mas conseguimos realizar boa parte deste desbravamento”.
Na avaliação de Marcela, “podemos afirmar que não atingimos o quanto gostaríamos e teríamos que alcançar, e mesmo assim os impactos estão sendo postos. Muitos relatos, pedidos de ajuda em nossas redes sociais, telefonemas tanto de pessoas físicas como de pessoas jurídicas que também estão trabalhando com plataformas online”.
Mas nem alterações do projeto nem as dificuldades da pandemia impediram avanços, ao contrário. Da necessidade de promover formação e divulgar informações relevantes às mulheres, foi produzida a série “Trocando em Miúdos” com 18 vídeos que, usando linguagem popular, abordam temas como direito à creche, interseccionalidade, trabalho doméstico, dupla jornada, políticas públicas, laqueadura, guarda compartilhada, abandono do lar, entre outros.
Outra produção audiovisual foi o minidocumentário “Promotoras Legais Populares/SJCampos” (assista no final do texto), com diversos relatos e um resgate histórico dos 20 anos das PLPs e a fundação do centro. Além da divulgação externa para o público em geral, o material é utilizado para formação interna nas acolhidas do abrigo para mulheres com risco de morte. Todos os vídeos estão disponíveis no canal do Centro Dandara no YouTube.
Mulheres mobilizadas
Seguindo os protocolos de segurança sanitária e de distanciamento, o Centro Dandara realizou ato público no último 8 de julho, em frente ao Fórum Criminal de São José dos Campos, em apoio à jovem Mariana Orbolato e pelo fim da violência contra a mulher. Mariana foi violentada e sofreu outras agressões em abril de 2019 por um homem que não aceitou a recusa da jovem em ter um relacionamento amoroso. Ele responde a processo e o caso foi a júri popular (leia mais).
O Dandara também se mobilizou em agosto deste ano levando a exposição “16 Penhas” e a performance “Olhos Roxos” às ruas de São José dos Campos, precedida pela realização de oficinas de caracterização para marcar os 15 anos da Lei Maria da Penha (saiba mais).
Marcela conta que além dos protocolos sanitários “foi imprescindível empregar flexibilidade com os constantes reagendamentos e mudanças nos quadros de participantes e colaboradoras e as ações solidárias das questões de insegurança alimentar, material de higiene e limpeza”.
Foram realizados ainda três seminários formativos com diferentes palestrantes. O primeiro foi em junho último, com o tema “Articulação em Rede entre PLP’s São José dos Campos”, o segundo no mês seguinte abordando “Perspectivas Diante da Pandemia” e o último, também em julho, sobre “A manutenção institucional de nossa casa”.
“Optamos por fortalecer o compartilhamento e divulgação entre promotoras legais populares e voluntárias do Centro Dandara, além de atingir também militantes dos direitos humanos e membras dos órgãos municipais de direito das mulheres, espaços institucionais e comunitários”, pontua a diretora executiva.
Nesse processo de adaptações e enfrentamento à pandemia, Marcela relata que a escolha dos horários e a duração das atividades foi outra questão porque “por mais que tivéssemos pensado e repensado esse espaço de tempo e participação, o nosso tempo não é o tempo de quem está na correria de afazeres domésticos ou no trabalho home office ou até quem sabe nos dois afazeres”.
Quanto à parceria entre o Centro Dandara e o Jubileu Sul Brasil para a realização do projeto, Marcela afirma:
“Em nossa avaliação podemos afirmar que, embora não tenhamos realizado o projeto original e tenha sido com certeza muito mais difícil, conseguimos produzir material para as redes sociais que neste período nos permite fazer diversas formações. É um material muito elogiado e que foi aceito por comunidades que ainda não tínhamos alcançado”.
Confira o minidocumentário: