Por Flaviana Serafim – Jubileu Sul Brasil
A Rede Jubileu Sul Brasil (JSB) realizou momentos de encontros e reuniões presenciais em Salvador (BA), entre os dias 7 e 10 de setembro, representada pela secretária executiva Rosilene Wansetto. Ao longo dos quatro dias, a Rede participou de mobilizações, de reuniões com organizações e movimentos parceiros, e dialogou com as comunidades em encontros nos territórios onde o JSB, em parceria com a 6ª Semana Social Brasileira (SSB) e Central de Movimentos Populares (CMP) promove a “Ação Mulheres por reparação das dívidas sociais”. A iniciativa também conta com as parcerias locais da Cáritas Brasileira Regional Nordeste 3 e da Coordenadoria Ecumênica de Serviços (Cese)
No 7 de setembro, a Rede JSB marcou presença no Grito dos Excluídos e Excluídas na região central da capital baiana, na mobilização nacional que neste ano teve como lema “Brasil: 200 anos de (In)dependência. Para quem?”.
O dia seguinte foi de reunião com parceiros. No período da manhã, na sede da Coordenadoria Ecumênica de Serviço (Cese), a secretária executiva da Rede apresentou a “Ação Mulheres por reparação das dívidas sociais” como estratégia de trabalho, de fortalecimento da atuação junto às mulheres nas comunidades de Salvador. Por sua vez, representantes da Cese também apresentaram o trabalho que vêm desenvolvendo, as estratégias, conexões e possibilidades de atuação conjunta, considerando que tanto a Coordenadoria quanto a Rede têm como eixo prioritário a questão de gênero e raça.
“Formalizamos o convite para a Cese compor o comitê local de gestão do projeto em Salvador. Vimos ainda a possibilidade de fortalecer os espaços de comunicação porque a Cese também está debatendo a questão do direito à cidade, à moradia e na luta por despejo zero”, explica Rosilene, completando que o momento também foi de agradecimento à parceria histórica da Cese, aliada desde a fundação do Jubileu Sul Brasil, há 22 anos.
O período da tarde foi de reunião na Cáritas Brasileira com a equipe do Programa Infância, Adolescência e Juventude (Piaj) e da Comissão de Gênero, quando os dois projetos foram apresentados pela Cáritas à Rede JSB.
No final do dia, a reunião com a Coordenação Colegiada da Cáritas Brasileira Regional Nordeste 3 foi um momento escuta, de avaliações, indicações e sugestões sobre a continuidade do trabalho e sobre a importância da parceria com a Cáritas NE3 em Salvador.
“Percebemos que há proximidade grande, uma sinergia entre as ações, e que já há um acumulado de resultados interessantes e significativos no fortalecimento do trabalho conjunto nos três territórios onde a Cáritas já vinha atuando e a Rede veio pra se somar em Cajazeiras, Águas Claras e Nova Brasília de Valéria”, afirma a secretária executiva da Rede.
Comunidades na luta por renda, direitos e políticas públicas
No dia 9, com oficina realizada no bairro Nova Brasília de Valéria, o debate foi em torno das questões sobre violência e segurança, sobre o déficit de vagas nas escolas, nas creches e falta de professores, além da ausência de espaços de lazer, das dificuldades de acesso aos serviços de saúde público, as moradias precárias e sem saneamento básico. E concluindo a programação no dia 10, a equipe esteve na comunidade Águas Claras para ouvir as mulheres e fortalecer a organização local. O dia foi marcado ainda pela oficina de geração de renda em Nova Brasília de Valéria.
Segundo Rosilene, considerando a situação de precariedade e dificuldades enfrentadas nos territórios, foram debatidas algumas possibilidades de ação de resposta, entre as quais o engajamento em conselhos de participação popular, como o escolar e o de saúde. A secretária executiva afirma que é total a ausência do Estado, do poder público e de políticas públicas. Praticamente não existe infraestrutura nos territórios e o transporte púbico é outro problema, com poucas linhas de acesso à comunidade que está há cerca de 23 km do centro de Salvador.
“Para além de todos esses problemas, o principal, o maior de todos é o da fome porque as mulheres não têm emprego e vivem nessas condições precárias”. Por isso, a Rede JSB tem apoiado ações de geração de renda para as mulheres, com confecção de artesanato, costura, bijuterias e sabão artesanal.
“Isso tem dado um apoio psicológico, de cuidado e acolhimento, e com a possibilidade de geração de uma pequena renda para as mínimas condições que as mulheres precisam ter para sobreviver”, completa.
Diálogo nos territórios
Mobilizadora da “Ação Mulheres por reparação das dívidas sociais”, Josilene Passos, a Josi, destaca a relevância da visita presencial. Segundo ela, as partilhas e registros pelas atividades virtuais “não passam as informações da mesma forma quanto a partilha, a vivência e imersão presencialmente. A presença da coordenação nos territórios acrescenta qualitativamente, pois nada substitui o monitoramento presencial, além de ser um momento de alargar as parcerias com organizações locais, de apoio à equipe local e que possibilita o fortalecimento da pertença, criando uma sinergia”, avalia.
Entre os resultados dos diálogos com parceiros, como no caso da Cese, Josi pontua, entre outras propostas e encaminhamentos, o incentivo ao compartilhamento de postagens com notícias, podcast e outros conteúdos para aumentar o alcance e a interação nas redes sociais em torno da ação com as mulheres, além da utilização do Caderno de Estudo Nº 7 – Religião e Política: vamos falar sobre isso? para debate e formação, e a elaboração de projetos para apoio à comunidade de Nova Brasília de Valéria para que as mulheres possam construir suas moradias.
“A visita extraordinária nos barracos da comunidade de Nova Brasília de Valéria trouxe à luz a pobreza e risco que as mulheres vivem. Alí também as crianças e adolescentes correm risco, pois as instalações são extremamente precárias”. Segundo Josi, um dos resultados imediatos foi que um dia depois da visita, Célio Maranhão, que integra a coordenação da Rede JSB na Bahia, conseguiu uma arquiteta voluntária para desenhar a planta para a reforma do centro comunitário.
“Penso que foi uma visita que objetivava um monitoramento das ações in loco, mas particularmente identifico também como pastoral, pois a Rosilene, sempre atenta e com uma presença afetuosa, cuidou de orientar, conversar com cada público, escutou o clamor e as dificuldades. Quando a presença é iluminada, o desejo de ambas as partes é de querer mais, ou seja, repetindo sempre ‘Na próxima visita…’, ‘Quando você vier…’, ‘Da próxima vez…”, concluiu.
A ação impacta cerca de 50 famílias, sendo que a maioria das mulheres atendidas são chefes de família e mães solteiras, além de cerca de 30 crianças.
As iniciativas da Ação Mulheres por reparação das dívidas sociais ocorrem numa parceria entre o Jubileu Sul Brasil, 6ª Semana Social Brasileira (SSB) e Central de Movimentos Populares (CMP), com apoio do Ministério das Relações Exteriores Alemão, que garantiu ao Instituto de Relações Exteriores (IFA) recursos para implementação do Programa de Financiamentos Zivik (Zivik Funding Program).
As ações também integram o processo de fortalecimento da Rede Jubileu Sul Brasil e das suas organizações membro e contam ainda com apoios da Cafod, DKA, e cofinanciamento da União Europeia.
Confira o álbum:
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