Em março de 2015, milhares de pessoas se reuniram em Tunísia. O motivo era o Fórum Social Mundial, espaço de debate que há anos procura fortalecer as demandas de movimentos sociais e da sociedade civil organizada. Desde sua primeira edição, em 2001, até hoje, o FSM passou por vários momentos, enfrenta críticas, questionamentos sobre a desvinculação da data do Fórum Econômico Social, mas se mantém como um canal que aglomera reivindicações de diferentes povos do mundo.
Marcos Arruda, integrante do Instituto Políticas Alternativas para o Cone Sul (PACS) e do Jubileu Sul Brasil, esteve em Tunísia e, em entrevista, fala de suas impressões sobre o processo FSM, que em 2017, será realizado no Canadá, pela primeira vez num país da América Norte.
“Acho importante que aconteça uma edição na América do Norte, onde o sistema do capital está mais enraizado e onde as populações levam uma luta histórica difícil e complexa. A presença lá de representantes de outras socioeconomias e outras culturas irá reforçar e incentivar o seguimento das lutas dos povos norte-americanos por sua emancipação”, afirmou.
Também fala da proposta, já dada, em várias edições, de mudança de novo para Fórum Socioeconômico Mundia, entendendo que diferentes formas de economia fazem parte do cotidiano de vários povos.
JSB – Quais as principais contribuições deste Fórum Social Mundial na Tunísia?
Marcos Arruda – A meu ver, as discussões sobre temas globais – a crise financeira em marcha nas Américas e na Europa, o tema da dívida pública e dos orçamentos nacionais, a crítica do papel das organizações de governança global (FMI, Banco Mundial e OMC, etc.), da debilidade da ONU para cumprir este papel, e da hegemonia econômica, política e cultural do grande capital, cumprindo o papel de gestor marrom da governança global; os desafios aos movimentos sociais e populares na ação contracultural em nível global; as articulações entre movimentos e redes durante o Fórum; a solidariedade de fato que prestamos à Tunísia, mantendo a realização do FSM logo depois do atentado que matou mais de 20 pessoas no Museu Bardo; e a intensificação das conversas visando uma reformulação do Fórum Social Mundial.
JSB – Na sua opinião, o Fórum Social Mundial continua sendo um espaço político que legitima as diversas lutas continentais? Com que força isto vem acontecendo?
Marcos Arruda – Legitimar é um resultado real obtido pelo FSM. Mas não basta. O FSM desvinculou a data de sua realização da do Fórum Econômico Mundial. Resultou disto um vazio programático e político que era muito profícuo e conspícuo para o objetivo de obter visibilidade na articulações dos movimentos em torno de uma agenda global. Também continuou sendo um fórum de debates, mais do que um espaço de articulação e colaboração em torno de temas e causas relacionadas à efetiva globalização do capital e a necessária globalização das lutas dos povos.
No FSM-Tunis15 realizamos duas sessões de debates sobre estratégias, e saímos com planos concretos de colaboração em torno de agendas globais a confrontar colaborativamente: a financeirização, o escândalo do HSBC e o que isto implica para o sistema financeiro global, a defesa da causa de povos como o da Venezuela, do Equador e da Bolívia, que avançam em conquistas socioeconômicas, apesar de tantas dificuldades internas e externas; as mudanças climáticas e sua ligação com o modo de desenvolvimento do capital que se reduz a crescimento econômico ilimitado, e acumulação e concentração ao custo do empobrecimento e opressão crescente da maioria que vive do seu trabalho, ou sofrem as consequências da precarização e do cancelamento de conquistas históricas já alcançadas; a COP21, Paris, dezembro de 2015, e o papel do grande capital em financiar e tentar cooptar a Conferência, ou pelo menos fazer dela um grande balcão de negócios; as bases para uma articulação internacional dos movimentos e redes envolvidas no trabalho sobre o aquecimento global, seus fatores determinantes e suas consequências para a vida da humanidade e de todos os seres.
Finalmente, temos continuado a pressionar com a proposta de mudança do nome do FSM, adotando o nome de Fórum Socioeconômico Mundial – para mostrar ao mundo que a economia não é monopólio do grande capital, e que outra economia e outro desenvolvimento já está sendo praticado em diferentes países e continentes, orientados para servir o social e o humano, em dinâmica harmonia com o ambiente natural, e fundados na cooperação, na solidariedade e na sustentabilidade social e ecológica.
JSB – Depois de várias edições, o FSM será realizado na América do Norte. Que significado podemos tirar desse encaminhamento?
Marcos Arruda – O FSM é uma iniciativa planetária. Acho importante que aconteça uma edição na América do Norte, onde o sistema do capital está mais enraizado e onde as populações levam uma luta histórica difícil e complexa. A presença lá de representantes de outras socioeconomias e outras culturas irá reforçar e incentivar o seguimento das lutas dos povos norte-americanos por sua emancipação. Lembremos que esta parte do continente americano inclui também o México. Considero muito importante que preparemos com empenho e cuidado a agenda e o encontro das redes e movimentos no próximo fórum, em 2017.
Por Rogéria Araujo, Rede Jubileu Sul Brasil.