As 57 famílias de agricultores vivem na comunidade enfrentam o conflito há seis anos, o que se agravou nos últimos três anos com a chegada de duas empresas de agronegócios que reivindicam as áreas da comunidade rural para plantar na região
Por Claudia Pereira e Osnilda Lima| Ascom Pastorais Sociais e do Campo
Dom José Valdeci dos Santos Mendes, bispo de Brejo (MA) e presidente da Comissão Episcopal Pastoral parae Ação Sociotransformadora da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (Cepast-CNBB) fala sobre a realidade da comunidade tradicional Baixão dos Rochas, no município de São Benedito do Rio Preto, a 240 quilômetros da capital maranhense São Luís. Na madrugada de domingo (19), a comunidade foi atacada por homens armados que incendiaram casas e expulsaram os moradores e mataram animais domésticos.
Ainda nesta manhã, dom Valdeci, também esteve reunido com um grupo de parlamentares, que se articulam com a Comissão Brasileira Justiça e Paz, chamado Fratelli Tutti, que se encontra mensalmente a partir da inspiração da Encíclica do papa Francisco. O tema hoje era “Os 10 anos de Pontificado de papa Francisco”, todavia a urgência das violências sofridas pela comunidade de Baixão da Rochas, relatadas pelo bispo, mobilizou o grupo para realizar as devidas articulações com o Ministério dos Direitos Humanos, Secretaria-Geral da Presidência da República e uma solicitação à Comissão de Direitos Humanos e Minorias, da Câmara dos Deputados, de uma diligência ao território para conhecimento da gravidade dos fatos e tomada de providências.
As famílias continuam enfrentando ameaças. Na madrugada desta terça-feira (21), os moradores ouviram tiros e, em seguida, os tratores da empresa usados para derrubar as casas, que ficaram atolados no córrego no dia dos ataques, foram incendiados. Segundo uma pessoa da comunidade, a queima dos equipamentos foi realizada por jagunços da empresa, “ouvimos um tiro, cachorros latindo e perseguindo alguém na mata próxima ao Barracão onde estamos acampados, distante dos tratadores e com segurança policial”.
“A situação das famílias, sobretudo dos idosos, é delicada neste momento. Ontem passaram à noite enfrentando chuva, não conseguiram dormir e ainda não tem o apoio de segurança de forma integral, mas estão resistindo”, comenta o padre Francisco das Chagas Pereira, coordenador de Pastoral da Diocese de Brejo (MA).
O Programa de Assessoria Rural da Diocese de Brejo, a Secretaria e o conselho estadual de Direitos Humanos do Maranhão estão acompanhando de perto a comunidade Uma equipe da Federação dos Trabalhadores Rurais (Fetaema) se deslocaram para o município São Benedito do Rio Preto e solicitaram reforço policial. Na manhã de hoje (21) dom José Valdeci esteve com o ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Luiz de Almeida para pautar as violações dos direitos humanos que as comunidades tradicionais maranhenses.
“Na medida que avança o agronegócio principalmente no estado Maranhão oprime as comunidades tradicionais que também sofrem a ausência do estado, a concessão de licenças ambientais indevidas a morosidade dos processos e conivência do estado contribui para estes ataques aos povos de comunidades tradicionais”, afirma dom Valdeci. As 57 famílias de agricultores vivem na comunidade, enfrentam o conflito há seis anos, o que se agravou nos últimos três anos com a chegada de duas empresas de Agronegócios que reivindicam as áreas da comunidade rural para plantar na região. Segundo o Instituto de Colonização e Terras do Maranhão (Iterma), a propriedade das terras reivindicadas pelas duas empresas é irregular.