A Marcha Mundial das Mulheres da Macronorte Peru é uma organização feminista popular e comunitária composta por diversas mulheres, indígenas, camponesas, afrodescendentes, jovens, rurais, urbanas. Sua articulação macrorregional está relacionada à defesa dos corpos, vidas, terras e territórios das mulheres e está comprometida com a construção der um mundo onde todos os mundos se encaixam.

Na visão da organização, o que está acontecendo nesses quatro meses está intimamente relacionado à dinâmica da dominação exploratória baseada no sexo, discriminação, classe e raça sobre os territórios. Todas as ações carregam essas reinvindicações e demandas por direitos.

Entre as atividades realizadas pela organização está a ativação de rede de solidariedade e acompanhamento das organizações femininas e mistas, que estão colocando o corpo para enfrentar a Covid-19, contra extrativismo, violência contra mulheres e feminicídios. Também a realização de atividades de conscientização, assistência aos doentes, campanhas para denunciar a violência contra as mulheres, já que em um contexto de pandemia, uma menina ou adolescente é estuprada a cada 2 horas na região onde a entidade atua. Entre elas, as Rondas Campesinas assumiram o controle territorial das comunidades.

Também vem denunciando as agroexportadoras multinacionais, pela exploração e violação dos direitos aos quais as trabalhadoras estavam sujeitas. Apesar de decretada a quarentena obrigatória, as agroexportadoras continuaram trabalhando e forçaram suas funcionárias a trabalharem sob ameaça de demissão. 70% dos trabalhadores na exportação agrícola são mulheres nessa região. E não foi concedido a elas nenhuma proteção, com ônibus e campos, fábricas dessas empresas se tornando as principais fontes de contágio.

Outra atividade ainda foi o acompanhamento das ações e atividades de denúncia a pandemia de Covid-19 nas comunidades indígenas, diante do esquecimento, do abandono histórico, do genocídio e das estratégias que o governo está realizando com essas comunidades indígenas e nativas, com a desapropriar seus territórios em favor de multinacionais extrativistas, impondo consulta virtual, mesmo sabendo que não tem acesso às Tecnologias da Informação e Comunicação – TICs.

A Marcha Mundial das Mulheres da Macronorte Peru  realizou neste contexto de pandemia uma campanha de 24 horas de solidariedade feminista para denunciar  as transnacionais de mineração, agro-exportação e hidrelétricas que não pararam de trabalhar e acumularam capital e condenavam as trabalhadoras a morrer em condições precárias por conta da Covid-19.

Ainda neste processo de mobilização, a organização participou de três panelaços nacionais, organizadas pela Confederação Geral dos Trabalhadores do Peru (CGTP), para denunciar que o governo havia decretado favorecimentos a empresas transnacionais e uma carta aberta para demitir e condenar seus trabalhadores à miséria e ao trabalho escravo. A organização direcionou suas demandas ao governo, FMI e BM pelo cancelamento do pagamento da dívida externa e que os recursos destinados este ano pagamento da dívida sejam revertidos para fortalecer o sistema de saúde e dar fim a fome do povo. E seminários sobres água, saneamento e higiene contra a Covid-19 foram realizadas com entidades como AWANA e o CEPROD AMINGA, para buscar uma resposta eficaz às comunidades.

No dia 28 de junho, que é marcado como Dia do Orgulho LGBTIQ+ foram realizadas ações virtuais para denunciar e exigir atenção à essa comunidade, tendo como protagonistas dessa luta, as companheiras lésbicas feministas populares e comunitárias.

A Covid-19 ligada ao sistema patriarcal, capitalista, racista e colonialista tem impactos diferenciados nossos territórios indígenas desde o início da pandemia, o governo do Peru não tomou medidas para garantir a subsistência e a existência dos povos, impondo um verdadeiro em genocídio e etnocídio. Segundo a Marcha Mundial das Mulheres da Macronorte Peru, paradoxalmente, aqueles que têm maior impacto são aqueles que estão nos territórios em conflitos ambientais. Apenas na Amazônia existem cerca de 43.000 indígenas Awajun, Quechuas e Wampis. Na região de Lambayeque, são 40.000 mil indígenas, que estão em grave perigo frente a Covid-19, já há cerca de 300 mortos. Não existem números exatos, mas calcula-se que, em nível nacional, mais de 6.000 indígenas morreram.

Nesse sentido, o primeiro desafio para as mulheres como cuidadoras históricas da vida e das comunidades indígenas da Amazônia é resistir e sobreviver ao etnocídio. No final de maio, a ONAMIAP apresentou uma petição de amparo jurídico, apoiada pela Marcha Mundial das Mulheres da Macronorte Peru, para que se atenda adequadamente e efetivamente aos povos indígenas e nativos.

Uma população esquecida e historicamente condenadora é o povo afro-peruano, como Lambayeque, na sua maioria, um povo agrícola. Nessas comunidades, as mulheres articulam a comissão do usuário e as placas de irrigação, no entanto, o direito de falar e votar como mulheres ainda não foi reconhecido, soma-se a isso a violência capitalista extrativista que deixa as famílias sem água para consumo e muito menos para a agricultura, nesses contextos de pandemia A violência histórica e patriarcal contra seus corpos se tornou visível: discriminação, racismo e sexismo se consolidam no esquecimento do estado e da violência machista.

Nesse contexto, as mulheres indígenas e nativas enfrentam uma situação de devastação, discriminação e racismo. A aliança sistêmica tenta se apropriar o corpo, da vida e do território das mulheres. O maior desafio que as mulheres enfrentam é a auto-organização para enfrentar esse sistema de morte.

Os casos de violência contra mulheres indígenas triplicaram devido ao patriarcado e machismo em suas comunidades. Sobreviver à Covid-19, à fome e à violência não é um desafio, é uma necessidade e um ato de justiça dessas mulheres.

O fortalecimento da luta das mulheres

Para Marcha Mundial das Mulheres da Macronorte Peru a luta é pela transformação radical do mundo em que vivemos. Lutam e marcham para transformar o modelo de reprodução, produção e consumo, para acabar com esse paradigma e aliança sistêmica que comercializa, explora e torna a vida precária. Lutam para construir e transformar relações hierárquicas de poder, a divisão sexual do trabalho em todos os espaços, também pela justiça climática e denunciamos as falsas soluções do neoliberalismo. Entre as afirmações da organização está a autonomia das mulheres, povos, terras e territórios, a sustentabilidade da vida e a construção de organizações circulares. Constroem a solidariedade e economia feminista, com soberania alimentar e agroecológica. O Allin Kawsay ilumina os caminhos da organização em direção à harmonia e a uma vida digna. Elas alertam que o capitalismo, colonialismo, racismo, patriarcado e as políticas monetárias do FMI, BM e BID são incompatíveis com a sustentabilidade da vida decente para diversas mulheres, para os povos e para a Pachamama.

Nas palavras da Marcha Mundial das Mulheres da Macronorte Peru, ‘Nosso compromisso como mulheres feministas populares e comunitárias é transformar os relacionamentos profundos que geram opressão, violência e desigualdade em relação às mulheres, nossos povos e Pachamama. Nesse sentido, nossas ações estão voltadas para a construção de movimento, soberania, autonomia de mulheres e povos, em resistência à mudança do sistema. As políticas públicas apenas geram reformas e despolitizam nossas lutas profundas como mulheres, desde que o estado seja um estado patriarcal. No entanto, não negamos a importância e a necessidade de mais mulheres se envolverem como atores na construção de políticas públicas.’

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