Quando muitos de nós se sentem cansados com o avanço das trevas, eis que o 21º Grito dos Excluídos vem trazer luz a essa realidade cruenta que estamos vivendo. A juventude com seu frescor provou o quanto está “antenada” com as pautas do dia e, com gingado e alegria, relembrou que a redução da maioridade penal não é solução para a violência, principalmente porque apenas os jovens pobres iriam arcar com esse ônus. Mais que isso, esclareceu que o Estatuto da Criança é o instrumento hábil para essas situações.
Um mutirão de esforços bem se via ali. Cada um partilhou o seu dom, o talento, o instrumento, a palavra, o abraço, o sorriso. Coisa de povo que acredita que a união faz a força. Coisa de gente que acredita no coletivo e despreza a mentira como estratégia para lucros individuais.
Por que sair de casa numa manhã de sol em pleno feriadão? Para mostrar que estamos cientes da situação de morte que ora atravessamos, mas que acreditamos na vida plena que tem tantos nomes: educação de qualidade, emprego, saúde, moradia, terra, lazer e cultura.
Caminhamos como expressão do que acontece no dia a dia. Não estamos parados. As CEBs, as associações, os grupos, os organismos estão se articulando pelas periferias e não abrem mão do protagonismo histórico. Era isso que se lia nos cartazes, nas camisas, nos panfletos. Era o que se escutava nas falas de índios, negros, mulheres, animadores…
E quando dançamos ciranda foi expressão de resistência. Cada mão apertada, cada passo acertado é resposta aos dissimulados, aos que dispersam, aos que espalham dor e morte. Nossa dança é pela vida.
Quando reencontramos um companheiro, quando o abraçamos temos a certeza de que aquele não foi rendido por esse sistema que favorece o individualismo, a omissão, a busca incessante pelo dinheiro… E como é bom rever companheiros! Alguns com os pés tão calejados pela caminhada, mas o olhar é sempre límpido e inquieto.
Quando sentimos a chuva no finalzinho da caminhada, após um percurso sob sol forte, nos sentimos abençoados pelo Deus que caminha com seu povo lado a lado, e lembramos do quanto a água é importante e que jamais poderia ser comercializada.
Continuamos caminhando e gritando pelos que nos antecederam e deram a vida por um presente mais fraterno, mais justo, mais humano. Continuamos gritando pelos que foram calados pela morte advinda da exclusão que o capitalismo provoca em diversos tempos e lugares.
Uma manhã ensolarada com cheiro de cidadania, prólogo de tantas lutas pela vida. Que a esperança nos envolva, conduza, apoie e nos faça fortalecer o companheiro, o irmão do lado… sempre!
Rejane Nascimento – Paróquia Nossa Senhora da Assunção, Arquidiocese de Fortaleza.