Contando apenas janeiro, o sempre sorridente prefeito do Rio Eduardo Paes já protagonizou momentos que revelam quem realmente governa e para quem de fato esta cidade é governada. Ele pediu que cariocas evitassem ir de automóvel ao Centro por conta da demolição, decidida por ele, da perimetral, um viaduto por onde passavam milhares de carros. Sugeriu evitar a Linha Amarela, outra via expressa, porque um caminhão que nela trafegava irregularmente bateu e derrubou uma passarela, assassinando cinco pessoas. E, um dia após técnicos do Tribunal de Contas do Município sugerirem redução na tarifa dos ônibus, o alcaide autorizou um aumento. Só falta Paes advertir: evitem o Rio enquanto eu for o prefeito.
A cidade que Paes governa desde 2009 vem se tornando inviável para os cariocas – e só em momentos críticos entende-se porquê. Na penumbra de seu gabinete, o prefeito e o poder econômico que controla o Rio tomam as decisões que se revelam trágicas para a maioria da população. Do transporte à saúde, em tudo que há os mandatos de Paes vigora abuso do orçamento para reconstruir uma cidade ótima para grupos econômicos e péssima para a cidadania.
O açodamento na perimetral foi outra garantia à especulação imobiliária e empreiteiras ávidas por explorar aquela área. Deliberadamente degradada por décadas, a região do viaduto e de bairros pobres e tradicionalíssimos (Praça Mauá, Saúde, Gamboa, Providência) foi valorizada pelo surto de inversões governamentais e repassada a megaempreiteiras. Sempre Odebrecht, OAS, Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez, que se servem da Secretaria Municipal de (pasmem!) Habitação para conduzir uma expulsão branca da população predominantemente negra, que ali habita por razões que remontam à escravidão.
Na Linha Amarela, Lamsa e prefeitura deveriam garantir a segurança deste elo estratégico do tráfego no Rio, mas a empresa se omite e Paes não a fiscaliza. Talvez em função do presente dado pelo alcaide a esta subsidiária da OAS há quatro anos. “O contrato de concessão, assinado em 1997 entre a Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro e a Lamsa, que vencia em 2022, foi prorrogado em maio de 2010 por mais 15 anos, até 2037”, revela o site da empresa.
Quanto aos ônibus… O que mais dizer desse impoluto setor, que ganhou de Paes a concessão do VLT do porto, em licitação da qual só participou o consórcio da CCR (Serveng, Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez), Invepar (OAS e fundos de pensão do BB, Caixa e Petrobras), Odebrecht e Riopar (da Fetranspor, o lobby dos ônibus)? Ainda por cima, com o prefeito dando em garantia terreno municipal localizado em ponto nobre da Barra e avaliado em R$ 150 milhões.
*Jornalista, coordenador do Instituto Mais Democracia – Transparência e controle cidadãod e governos e empresas.