Conhecido o dia em que, finalmente,vai começar o conclave, é possível calcular sua duração aproximada. Para então sabermos qual será o cardeal escolhido para ser o novo Papa.
Como desta vez a sede vacante foi precedida pela certeza da renúncia, parecia conveniente antecipar o conclave. Tanto que o próprio Bento 16 julgou oportuno, enquanto ele ainda estava no cargo, modificar o regimento, facultando aos cardeais anteciparem o conclave.
Com isto, parecia que ele fosse convocado logo em seguida à efetiva renúncia de Bento 16.
Mas acontece que as reuniões preparatórias, que normalmente eram feitas enquanto se procedia aos funerais de um papa falecido, na verdade sua finalidade não era só fazer exéquias, não! Elas tinham outra finalidade, muito estratégica e necessária: ir tecendo os primeiros consensos, destinados a possibilitar que as votações no conclave já comecem com alguns direcionamentos mais claros, para que a partir deles, aí sim, as votações enveredem para fazer emergir um candidato, que possa ir agregando outras adesões, até se chegar à difícil maioria dos dois terços necessários para algum ser eleito papa.
Pois bem, foi o que assistimos nesta semana. Foram sucessivas reuniões, antes até de se anunciar o início do conclave, com a alegação que não era o momento de convocá-lo porque alguns cardeais ainda não estavam em Roma.
E assim, a pretexto, desta vez, não de velório, mas da ausência de alguns cardeais, foram se sucedendo reuniões, todos os dias, das quais também participavam os cardeais com mais de oitenta anos.
E aí temos outro detalhe indispensável para entender o que se passa com estas reuniões. Os cardeais com mais de oitenta anos não podem votar no conclave, nem dele participam. Mas não está dito que eles não possam dar opinião, e influenciar o voto dos outros. E dado que eles já não podem votar, gostariam que quando o conclave começasse, eles já estariam seguros que suas opiniões e preferências já tivessem sido bem assimiladas pelos votantes.
Pois esta é a situação dos cardeais octogenários: como perderam o direito do voto, tanto mais querem valorizar a força do aconselhamento, do palpite, da recomendação, tudo feito com a sutileza de conversas informais e despretensiosas, mas que na verdade são uma premente influência eleitoral.
Por isto, o trunfo dos cardeais com mais de oitenta anos são essas reuniões preparatórias. Oficialmente elas têm a finalidade de fazer uma ampla análise da situação da Igreja no mundo, com vistas a identificar quem teria melhores condições de ser eleito papa, para dar conta dos desafios que hoje se apresentam à Igreja.
Na verdade, esta é uma necessidade, e é de fato a intenção dos cardeais: pensar o voto em função dos desafios que o eleito irá enfrentar.
Daí resulta outra constatação, que me parece importante detectar, para entender o resultado da eleição. E´ depois de levantados os desafios, que dá para ir definindo os nomes a serem escolhidos. Os nomes emergem depois de constatadas as conveniências. Por isto, pode acontecer que certos cardeais, cotados como prováveis candidatos, possam ser deixados em segundo plano, por causa da opção estratégica assumida. Se por exemplo se chegar ao um consenso que deveria ser um papa italiano, será eleito um italiano. Se acharem que deveria ser, desta vez, um papa do terceiro mundo, se procurará um cardeal da América Latina, ou da África ou da Ásia.
E´ nesta hipótese que pode emergir o nome de um brasileiro. Sozinho, nenhum dos cardeais do terceiro mundo teria cacife para bancar pessoalmente uma candidatura. Mas se for dentro de um consenso mais amplo da conveniência de um papa representativo das regiões do mundo onde está a maioria dos católicos, poderemos ter um papa africano, ou latino americano, ou mesmo um brasileiro.
Daqui a alguns dias a fumaça branca vai nos contar tudo o que aconteceu lá dentro da Capela Sistina…