Por Dom Demétrio Valentini
Como poucas vezes, a Campanha da Fraternidade aponta para realidades tão concretas. Mesmo com a evidente abrangência do seu tema central – o planeta terra visto como “casa comum” – a Campanha aborda a questão do saneamento básico, em torno do qual vai desdobrando os seus objetivos.
Neste sentido, a Campanha sobre o planeta terra mantém os pés no chão. E centra suas propostas de atuação em torno do saneamento básico.
Dava para imaginar que a Campanha nos levasse a abordar as grandes questões, que o despertar da consciência ecológica vem levantando com insistência em nosso tempo. De tal modo que nos sentiríamos contemplando do alto de um satélite a girar velozmente em torno do nosso globo terrestre.
Sem desconhecer a problemática ecológica, que jaz como pano de fundo de toda a Campanha, os objetivos específicos insistem em abordar aspectos práticos do saneamento básico.
Começa por apresentar o saneamento como um direito de todos os cidadãos. Mais um direito a ser conseguido pelo trabalho e esforço comum.
Percebe-se então qual a intuição central que levou os promotores da Campanha a insistir no saneamento básico. É que ele se constitui num objetivo que decorre da consciência política dos cidadãos, que despertam para urgir a implementação do saneamento, e que por sua vez, a abordagem deste assunto leva a aprofundar esta consciência, para assim ter a força para realizar este objetivo.
Encontramos aqui um desafio, que cabe ser colocado no contexto da Campanha deste ano. Acontece que as obras de saneamento básico exigem vultosos recursos financeiros, cujos resultados não aparecem tão claramente. Os políticos não gostam de aplicar recursos no saneamento básico, pois preferem obras que dão mais visibilidade, que lhes rendam mais reconhecimento.
A Campanha deste ano pretende incentivar os investimentos em saneamento básico, mostrando as consequências positivas que decorrem de políticas guiadas para o bem comum da população.
Um dos objetivos específicos desta Campanha propõe “apoiar e incentivar os municípios para que elaborem e executem o seu Plano de Saneamento Básico”.
A Campanha quer, portanto, despertar uma consciência política, que garanta respaldo às boas iniciativas em torno de projetos de saneamento básico. E assim levar à superação dos critérios superficiais de avaliação das administrações municipais.
Outro posicionamento se refere a eventuais projetos de privatização dos serviços de saneamento básico. Pois dada a importância deste assunto, o Estado não pode se eximir de administrá-lo diretamente, como política pública a ser assumida pelo Estado. Daí o claro posicionamento contrário às tentativas de privatizar os serviços de saneamento básico.
Temos, portanto uma Campanha com amplos horizontes na sua temática central, mas com propostas bem concretas de implantação dos seus objetivos.
Um tema amplo, do tamanho de nosso planeta. Mas com propostas bem concretas, que nos levam a perceber melhor a importância de urgir políticas públicas voltadas para o saneamento básico, que tem tanta incidência na vida das pessoas.