Reunidos na 44ª Assembleia do Conselho Indigenista Missionário Regional Mato Grosso em 23 a 27 de julho de 2018, olhamos com cuidado os grandes desafios políticos e ambientais na perspectiva do Bem Viver e da Resistência Indígena. Em torno do fogo fizemos nossa celebração almejando acender luzes de Esperança em cada um dos lugares em que trabalhamos.
Foi muito bom resgatar as sementes do Bem Viver, as práticas que dão conta de encontrar “pedras preciosas” nestas terras ou os peixes nos rios e lagoas, experiências e contribuições alargadas para viver melhor neste mundo de herança indígena. Observamos com alegria que existem formas de viver saudáveis, o valor da agroecologia, agrofloresta, da utilização de fontes de energia renováveis…
Os povos indígenas sobrevivem a um decreto de extermínio de 500 anos para salvar a humanidade, já anunciado no texto Y Juca Pirama, o índio aquele que deve morrer (1973). Por isso denunciamos o avanço de ameaças e a negação de direitos dos povos indígenas, fruto do contexto político comandado pelo golpe parlamentar jurídico que domina nosso país. As consequências deste contexto aparecem na paralização da demarcação das terras indígenas e nas invasões das já demarcadas, na precariedade da assistência à saúde específica para os povos indígenas, na falta de recursos para a educação diferenciada. Contudo, não faltam recursos para os Bancos, a produção destinada à exportação, favorecendo grandes projetos de mineração, hidroelétricas, ferrovias, hidrovias… e a consequente devastação do meio ambiente e o aquecimento global.
Apesar do agronegócio com sua ação suicida em relação aos Povos e à Mãe Natureza, os que estão vivendo são portadores de saberes que podem trazer soluções para que continuemos a habitar aqui. O Bem Viver é a prática de milhares de anos dos Povos Indígenas. Antecipar a Terra sem Males com suas danças, rituais e espiritualidade; acolher a sabedoria indígena que transmite a forma de viver neste mundo como Boa Nova da Ressurreição, são dimensões do sagrado na vida dos Povos Indígenas.
O Cimi tem se posicionado contrário a efetivação do projeto do REDD – Redução das Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal e REM – Redd Early Movers e deliberamos que permaneceremos na nossa Missão de informar e denunciar as novas formas de colonização e mercantilização da natureza com a sua biodiversidade e os territórios indígenas. Por isso continuaremos na análise e reflexão a fim de compartilhar com as comunidades e lideranças as informações necessárias para decidir com liberdade e autonomia a respeito das suas escolhas.
O Sínodo da Amazônia proposto pelo Papa Francisco para outubro de 2019 é um aprofundamento da Laudato Si, um anúncio profético que precisa se concretizar em cada um dos locais nos quais atuamos com os povos indígenas. Por isso vamos ausculta-los nesta parcela da Amazônia compartilhada por 9 países para que tenha ressonância no Sínodo e repercussão nas bases. Assim almeja-se que a Igreja se inspire na espiritualidade e na sabedoria dos povos tradicionais, entre os quais estão 390 povos indígenas, auxilie a ter mais cuidado com a Pan-Amazônia e contribua para superar processos destruidores da vida.
Diga ao Povo que Avance! Avançaremos…
Fátima de São Lourenço, 27 de julho de 2018